Em 1968 uma menina negra correu para a cozinha, agitada. Ela queria contar para a mãe que estava vendo um programa na TV onde uma mulher negra não estava fazendo papel de empregada. A menina, Whoopy Goldberg. A moça, Nichelle Nichols, escolhida pessoalmente por Gene Roddenberry para ser a Tenente Nyota Uhura, oficial de comunicações da USS Enterprise.
Na época a TV refletia a sociedade; o prédio principal do controle de lançamento da NASA não tinha nem banheiros femininos. Mulheres eram esposas e secretárias. Roddenberry no piloto de Star Trek, The Cage colocou como segunda em comando, abaixo somente do Capitão Christopher Pike… uma mulher.
Isso mesmo. 1968, algo tão ousado que os executivos não aceitaram, e como Gene ainda tinha que brigar por Spock, aceitou remover a personagem. Só que a trocou por uma mulher negra na ponte, aparecendo mais que a Majel Barret aparecia como Primeiro-Oficial.
Star Trek continuou com a tradição de grandes personagens femininas. Uma das maiores e mais ardilosas inimigas na Nova Geração? A Comandante Sela, romulana interpretada por Denise Crosby, depois que se arrependeu de ter abandonado a série. Deep Space Nine? Os embates entre a Major Kira e Gul Dukat eram um dos pontos altos da série. Kai Winn, interpretada pela venerável Louise Fletcher, são inúmeros personagens memoráveis em uma série estrelada por um comandante negro antes disso ser obrigação.
Voyager nos trouxe a melhor capitã desde Kirk. Janeway chutava bundas, junto com Kes, 7de9, Torres e outras mulheres. Pouca gente aguentaria o que ela aguentou em episódios como o excelente Year of Hell.
Star Trek desde sua gênese teve uma PRÁTICA de igualdade e diversidade. Caralho, é um dos LEMAS da série, isto aqui:
Esse símbolo é o IDIC — Infinita Diversidade em Infinitas Combinações, é a base da filosofia vulcana e a base do que Gene Roddenberry acreditava. Por isso ele colocava russos, japoneses, mulheres, negros e alienígenas na ponte da nau capitânia da Frota Estelar.
Desde a série clássica temas como racismo, discriminação, totalitarismo, imperialismo, tudo isso era discutido com a alegoria da ficção científica, onde qualquer um conseguia ver como era idiota esse tipo de discriminação.
Em Let That Be Your Last Battlefield a Enterprise resgata dois alienígenas, um está perseguindo o outro por ser fugitivo político. Uma das raças era dominante, por séculos havia escravizado a outra, inferiorizando-a. O discurso soava estranhamente familiar. Os aliens, que se odiavam e achavam um ao outro nojentos e subhumanos?
Star Trek foi a série que mais discutiu questões sociais, e continuou em todas as suas encarnações. Far Beyond The Stars, de Deep Space Nine é um soco no estômago ao transportar os personagens para a Terra dos Anos 50 e mostrar como a idéia de uma estação espacial multicultural com um comandante negro não funcionaria nem em ficção científica.
Incontáveis pessoas foram inspiradas por Star Trek. Uma delas ligou para Nichelle Nichols quando soube que a atriz estava insatisfeita e queria sair da série. A pessoa explicou que o que ela estava fazendo era importante, estava mostrando que no futuro pessoas negras poderiam trabalhar e viver em paz, sendo respeitadas e reconhecidas por suas habilidades. Nichelle acatou o pedido. O autor do telefonema? Dr Martin Luther King, Jr.
A moça da abertura também se inspirou em Star Trek. Ela é a Dra Mae Jemison, que cresceu vendo Nichelle Nichols dizendo que sim, ela podia chegar nas estrelas se se esforçasse. Ela se esforçou e em 1992 se tornou uma das primeiras mulheres e a primeira negra a ir ao espaço, na USS Endeavour.
A Dra Jemison não parou aí. Também tem o mérito de, completando o círculo, ser a primeira astronauta a aparecer em Star Trek:
Jornada nas Estrelas tem esse legado; mostrar o futuro como ele deveria ser, sem rancor, sem mesquinharia, mas pelo visto há muita gente que não entende isso, prefere catar defeitos imaginários. Foi o que aconteceu aqui, quando a Netflix deu a EXCELENTE notícia de que não só passará a nova série, como conseguiu TODO O CATÁLOGO da franquia Star Trek.
Sim, sua criatura triste e digna de pena. SIM, muito sério. “Where no man has gone before”. Se você tivesse um mínimo de conhecimento de Star Trek, mínimo mesmo saberia que essa frase é da abertura da série, de 1968. Você está problematizando algo de 49 anos atrás.
Pior, problematizando algo que não existe. “Homem” é o termo gramaticamente neutro para “humanidade”. “Humanidade” é um termo gramaticamente feminino para “Raça Humana”, que também é feminino, por acaso. E nenhum homem chilica com isso.
Nem chilica nem se confunde. Ou alguém acha que a “Declaração dos Direitos do Homem” só se refere a indivíduos portadores de piroca? (sorry moças trans post-op e Mindinho, vocês estão fora)
Essa criatura vai desmerecer Neil Armstrong por dizer “Um pequeno passo para o Homem”?
Agora a parte boa: A reclameira, que nunca deve ter visto um episódio de Star Trek na vida foi avisada que na abertura de Star Trek: A Nova Geração, a frase foi “consertada”. YAY VITÓRIA!
Desculpe filha mas você continua pensando muito, muito pequeno. O Futuro não tem espaço para sua ridícula Guerra dos Sexos, Star Trek é muito maior que isso, muito maior e mais nobre que você. Sua Vitória de Pirro já seria ridícula mesmo que verdadeira. Você estaria chilicando em 2016 por algo errado em 1968 que foi “consertado” em 1987.
Só que nem isso. QUALQUER UM que entenda inglês (ou português) e coloque o cérebro na frente do útero sabe que o “homem” na frase engloba todo mundo, toda a Humanidade. Toda a raça humana. Só que ao contrário de você Star Trek não pensa pequeno. A Federação vai muito além da Terra. Há Vulcanos, Andorianos, Tellaritas, são mais de 150 planetas membros.
Picard comandava uma ponte com um Klingon, um androide e uma Betazoide mulher fêmea, eles não eram embaixadores da Humanidade, eram embaixadores da Federação. Reduzir isso a meninos vs meninas reflete uma mesquinharia imensa e um cérebro diminuto. Minha Star Trek é maior que isso.
No longa A Terra Desconhecida, onde durante um jantar na Enterprise com uma comitiva Klingon Chekov comenta que a Federação acredita que todos os planetas devem ter acesso a direitos humanos inalienáveis. Azetbur, uma das visitantes diz que o próprio nome é racista. “in-alien”, direitos “humanos”.
Enquanto nossa amiga de mente pequena tenta reduzir Star Trek a pipi x pepeka, 25 anos atrás Star Trek já percebia que sua proposta já não era tão boa assim, e podia ser melhorada.
Fique com seus chilique de twitter, filha. Reclame bastante. Eu continuarei acreditando em Star Trek e seus ideias. Os seus só geraram ódio e desavenças. Os de Star Trek? Bem, geraram a astronauta italiana Samantha Cristoforetti.