Como os soviéticos lidavam com terrorismo (dica: Não era com amor e compreensão)

Como os soviéticos lidavam com terrorismo (dica: Não era com amor e compreensão)

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Os russos como um povo têm uma característica interessante: São extremamente pragmáticos. E pessimistas. Eles partem do princípio que tudo vai dar errado, e se preparam pra isso. Um bom exemplo são as Soyuz. Quando alguns cosmonautas pousaram fora do ponto planejado e ficaram um ou dois dias perdidos na floresta sendo atacados por lobos, foram tomadas duas medidas: Primeiro, aprimoraram o sistema de navegação. Segundo, colocaram uma arma na cabine, caso fosse preciso enfrentar lobos de novo.

Outro bom exemplo é a forma com que lidam com terrorismo. Nos Anos 70/80 toda hora algum maluco sequestrava um avião e ia pra Cuba, mas praticamente nunca eram sequestrados aviões soviéticos. Também não havia quase caso de terrorismo contra os interesses de Moscou, e isso não era por afinidade ideológica.

No Ocidente todo caso de terrorismo era uma tragédia humanitária, com gente correndo pra atender as exigências, negociadores, TV cobrindo tudo e acusando o governo de não ser razoável. Com os russos é diferente.

Na doutrina ocidental cada refém morto é uma tragédia. Já no modelo russo determinam que os reféns já estão mortos e que cada um que conseguirem salvar já é uma vantagem. Com isso os reféns não atrapalham a ação principal, que é matar os terroristas.

Por tradição quem cuidava de casos de terrorismo eram os Spetsnaz, as forças especiais.

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Em 1972, os soviéticos perceberam que as forças especiais não eram suficientes. O atentado terrorista durante as olimpíadas, quando o Setembro Preto (Marquinho ensinou que é racismo falar “negro”) massacrou 11 atletas da equipe israelense mostrou que uma equipe especializada era necessária.

Foi criado em 1974 o Grupo Alfa, por ordem direta de Yuri Andropov, então Chefe da KGB. Eles viriam a se tornar a mais cruel, sanguinária, implacável e eficiente equipe anti-terrorista do mundo. Sem nenhuma das preocupações éticas dos fracos e sentimentais ocidentais.

Isso ficou evidente quando o Hezbollah tocava terror na Guerra Civil no Líbano. Na época não eram amiguinhos dos russos como são hoje, e todo mundo era alvo. Entre 1975 e 1990, tempo que durou a guerra sequestros eram uma boa fonte de renda.

A Organização de Libertação Islâmica, grupo ligado ao Hezbollah no dia 20 de Setembro de 1985 sequestrou quatro diplomatas russos. As negociações iniciais não foram bem-sucedidas, provavelmente por terem sido feitas pelo chefe das forças sírias, e um dos reféns,  Arkady Katkov, acabou morto. Isso era um mau sinal. Sequestros costumavam durar anos, era um jogo de paciência com os sequestradores fazendo mais e mais exigências. Matarem um dos reféns tão cedo significava que estavam lidando com amadores. Era hora de mandar o Grupo Alfa.

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Usando agentes locais a KGB identificou os sequestradores e todos os seus familiares imediatos. Na calada da noite o Grupo Alfa começou a sequestrar parentes dos terroristas. Eles cortaram a orelha de um, e mandaram para a família. Outros receberam dedos cortados pelo correio. No total o Alfa sequestrou 12 parentes dos terroristas.

Um deles foi castrado, morto com um tiro na cabeça, esquartejado e os pedaços mandados para a sede do Hezbollah, com o aviso “temos mais 11 reféns”.

Segundo outros relatos, o Grupo Alfa teria sequestrado e cortado as cabeças de quatro membros do Hezbollah, e mandado para a sede do grupo com o aviso de que teriam 48 horas para libertar os reféns.

A resposta foi imediata. Os reféns russos foram libertados vivos alegres e faceiros e os terroristas passaram a só sequestrar gente de países mais razoáveis. Por mais de 20 anos nenhum cidadão soviético foi vítima de qualquer sequestro ou ameaça de terroristas na região.

O Grupo Alfa, que existe até hoje teve um monte de missões na Rússia e no exterior, e sempre se orgulhavam de ser uma tropa de ação imediata, bastava um telefonema e estavam a caminho, mas isso acabou sendo a ruína e a glória deles.

No final da União Soviética, em 1991 uma revolta popular ocupou a estação de TV da capital da Lituânia. Gorbachev e o diretor da KGB mandaram o Grupo Alfa cuidar da situação, mas como era uma revolta de civis, só puderam usar armamento não-letal. Quando chegaram havia entre 5000 e 6000 manifestantes. Pediram reforços, foi prometido que o exército soviético seria enviado. Não foi.

Os soldados do Grupo Alfa foram ordenados a invadir a estação de TV. Enfrentaram a população usando balas de borracha, coronhadas e pás. Um deles levou um tiro vindo da multidão, e acabou morrendo. A missão foi cumprida, a estação golpista saiu do ar (calma amigo petralha não foi a Globo) mas a repercussão foi péssima. Ninguém sabia que os soldados estavam sem munição real, o que foi visto foi o governo soviético malvado mandando soldados pra massacrar manifestantes.

Gorbachev disse que não teve nada a ver com o ataque, e que não deu ordem para invadirem o prédio.

Depois desse dia o Grupo Alfa passou a só aceitar ordens por escrito, o que ironicamente salvou a vida do próprio Gorbachev.

Em Agosto do mesmo ano a linha-dura do partido comunista decidiu que vai ter golpe sim, mobilizou tropas leais e tentou tomar o poder. Um dos líderes da resistência foi o então presidente da Rússia, Boris Yeltsin. Os comunistas, então teoricamente comandando as forças armadas deram ordem para que o Grupo Alfa invadisse a residência oficial do governo russo e passasse fogo em todo mundo.

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Já queimados com seu uso em questões políticas, exigiram a ordem por escrito. Como ninguém teve cojones pra assinar o assassinato do Yeltsin, o Grupo Alfa não saiu do quartel, Boris mobilizou a população e os golpistas foram derrotados, abrindo caminho pro fim da União Soviética.

 

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