O Dia em que Israel falou Argo Fuck Yourself antes do Ben Affleck

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Na Palestina um caça Beaufighter convertido em bombardeiro se alinhou para lançar uma bomba de 250Kg em um forte egípcio na vila árabe de Ishdud. Tanto o avião quanto o forte haviam sido construídos pelos ingleses, mas o piloto era Israelense, e Londres não estava nada feliz com a presença do avião ali.

Era a guerra Árabe-Israelense de 1948, reação contra a declaração de independência de Israel, e o momento mais desesperado da história do nascente pais. A situação não estava favorável, um embargo internacional, baseado na realpolitik de que as pessoas gostam mais de petróleo do que de judeus bloqueou todas as vendas de armamentos, e Israel ficou sem ter como se defender.

Não que isso não fosse esperado, e assim como Cilônios, Israel tinha um plano. recolhendo peças de caças Spitfire egípcios derrubados, juntando com sobressalentes abandonados pelos ingleses, construíram o primeiro Spitfire israelense. Mais tarde compraram vários caças usados da Checoslováquia, mas embargo de trânsito impediram que fossem transportados de navio. O jeito foi adaptar tanques de combustível extras, remover tudo de desnecessário dos aviões, incluindo tanque de oxigênio e rádios e fazer uma viagem perigosíssima. Foi a Operação VELVETTA Ifonte.

O Beaufighter entretanto chegou a Israel por vias bem mais tortuosas e criativas, a mando de Ben Gurion e por execução de Emanuel Tzur, esse sujeito aqui:

 

Ele teve uma idéia, daquelas malucas ousadas e que ninguém em sã consciência levaria a sério, mas valia a tentativa. Já que Israel não podia comprar aviões de combate, o jeito era malocar alguns, e se isso violava o Sétimo Mandamento, bem Jeová inventou o Yom Kippur pra essas situações.

Emanuel descobriu que havia um departamento da Força Aérea Real que lidava com solicitações da mídia, então ele montou uma empresa cinematográfica falsa, a Air Pilot Filme Company, com direito a equipe completa, com diretor, câmera, técnicos de produção e 40 figurantes. O projeto foi apresentado como uma produção para destacar os feitos dos pilotos neozelandeses durante a Segunda Guerra, e para isso precisariam arrendar vários caças Beaufighter e De Havilland Mosquitos.

Papelada preenchida, dinheiro no banco, pilotos da produção devidamente certificados (eram todos veteranos e voluntários) foi apresentado o plano de vôo: Os aviões decolariam de Oxford em direção a Ekron, na Escócia, que teria as paisagens mais parecidas com a Nova Zelândia.

Tudo sob o olho vigilante de Terence Farnfield, o agente israelense que havia sido a cara da operação e negociado tudo com os britânicos.

A fachada era completa, havia até atores e um script, seguido à risca quando a mocinha se despediu do herói com um longo beijo, ele correu para seu avião e decolou, junto com 4 outros Beaufighters. Segundo relatosfonte os ingleses presentes chegaram a chorar de emoção com a cena, as memórias da guerra ainda fortes na lembrança.

A RAF só desconfiou quando os aviões decolaram e ao invés de seguir para o Norte, foram para o Leste, mas quando alguém se tocou de perguntar a Farnfield que diabos estava acontecendo, ele já havia se mandado. 

O caso rapidamente foi parar nos jornais, com direito a zoeira dos cartunistas…

Os aviões reabasteceram na Itália, pernoitaram na Iugoslávia e de lá foram pra Israel. Emanuel Tzur também conseguiu um fornecedor para vender os armamentos que haviam sido retirados dos aviões, e seguiam no fundo de um avião de carga, para o mesmo destino.

A RAF ficou puta, o Governo Inglês como um todo ficou com cara de trouxa, e Terence Farnfield e Emanuel Tzur foram para a lista de procurados da Scotland Yard, motivo pelo qual acharam melhor permanecer na França.

Essa não foi nem a única missão de Tzur, que em um período de 4 meses conseguiu 18 aviões para a Força Aérea Israelense, que resistiu ao avanço conjunto das forças árabes, venceu a Guerra Árabe-Israelense de 1948 e com isso garantiu a própria existência do país.

 

Hoje Israel adquire aviões através de meios convencionais, desenvolve a própria tecnologia e não vive mais à beira da aniquilação como nos Anos 50, o que é bom, mas por outro lado significa que não teremos mais histórias românticas e mirabolantes, nem figuras complexas e hansolescas como Emanuel Tzur, corsário, contrabandista, agente secreto, herói e ladrão. Não necessariamente nessa ordem.

Para saber mais:

An Operation Ouf Of The Movies


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