União Soviética: O papel do comunismo não era higiênico

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Existe um papel da União Soviética que a gente associa com tecnologia. Foguetes, a Estação Mir, caças Mig, mísseis balísticos, mas no dia-a-dia tudo que chegava ao ocidente mostrava a falecida CCCP como um imenso país rural, com pouca ou nenhuma amenidade moderna.

Depois da Queda do Muro de Berlim, e do fim da União Soviética, comprovamos que sim, era tudo verdade. A Rússia era pobre e triste, como este vídeo de 1989 mostrando um típico supermercado moscovita:

O problema não era só a falta de variedade nos produtos alimentícios, ou a impossibilidade de comprar máquina de lavar com 18 programas, vibrador Bluetooth ou enceradeira com WIFI. Um produto que se encontra em qualquer shithole (literalmente) simplesmente não existiu na União Soviética, durante os primeiros 50 anos da Revolução Russa: Papel Higiênico.

Conforme conta Maxim, um russo das antigas em seu blog, papel higiênico era um luxo reservado às elites do Partido Comunista, e mesmo assim restrito a uma pequena fábrica em Grigiskes, na Lituânia, que produzia lotes limitados, somente para os figurões.

No resto do mundo, a situação variava. Na China papel higiênico era bem conhecido. Na verdade foi inventado por eles. Como reutilização por volta do Século VI, e como papel higiênico dedicado e perfumado (mas só pra família imperial) em 1391.

No Ocidente o papel higiênico de fabricação industrial foi inventado em 1857 por Joseph C. Gayetty. O papel em rolos veio em 1879, mas só em 1897 um tal de Zeth Wheeler teve a idéia de fazer picotes pra facilitar na hora de retirar o papel do rolo.

No Brasil o papel higiênico apareceu comercialmente em 1930, com a fábrica da Melhoramentos. Até então quem tinha dinheiro usava papel higiênico importado. O povão se virava com jornais, revistas, casca e sabugo de milho, que é eficiente mas precisa de instruções específicas, sob riscos de graves acidentes.

Os soviéticos usavam os mesmos métodos, jornais, revistas, sabugos. A vantagem é que todo cidadão soviético era convencido a assinar compulsoriamente jornais do Partido Comunista, sob pena de ser visto como subversivo, então o suprimento de papel era garantido pelo Estado.

O lado ruim é que mais de um russo foi preso sob acusação de ter usado para limpar a bunda um pedaço de jornal com uma foto de Stalin. E às vezes nem era verdade. Quando você queria desalojar uma família que dividia (compulsoriamente) o apartamento, denunciava à KGB com alguma acusação absurda, eles eram levados embora, e com alguns presentinhos ao comissário certo, seus parentes podiam vir morar no quarto vago.

Quem dava sorte de encontrar comprava o máximo permitido, e carregava em um barbante.

Em 1968, enquanto o mundo achava que as duas superpotências estavam envolvidas na alta tecnologia da Corrida Espacial, a primeira fábrica de papel higiênico -usando máquinas compradas da Inglaterra- era instalada. A produção começou em 3/11/1969.

Isso mesmo, os soviéticos só começaram a produzir papel higiênico depois que os americanos pisaram na Lua.

Agora, a grande surpresa: Ninguém queria comprar papel higiênico. Por décadas nós o povo soviético se acostumou a usar jornais para limpar a bunda. Algo que tecnicamente é “de graça”. A idéia de PAGAR por papel para literalmente passar na bunda era alienígena para eles.

O Governo teve que fazer uma série de campanhas para convencer o povo a comprar papel higiênico. O Pravda chegou a publicar INSTRUÇÕES ensinando o povo a usar o negócio.

As pessoas foram aos poucos pegando gosto pelo papel higiênico, e aconteceu o que acontece em toda economia comunista planejada: A demanda não correspondeu às projeções dos burocratas, e papel higiênico se tornou produto escasso, com longas filas e racionamento.

Por um tempo, até o fim da União Soviética, era comum as pessoas presentearem papel higiênico nas festas de fim de ano, um presente bem mais útil do que meias, diga-se de passagem.

A situação hoje (ok, um ano atrás, antes das sanções internacionais) é milhares de vezes melhor, um supermercado russo está no mesmo nível de um ocidental.

Hoje você ainda encontra esse nível de racionamento em lugares como Cuba, que possui fábricas de papel higiênico mas a produção é baixa por falta de matéria-prima, e papel importado está disponível somente para as elites e em instalações turísticas. O cidadão comum tem uma cartela de racionamento que permite comprar uma quantidade fixa de papel por mês. SE encontrar pra vender.

Na Coréia do Norte, mesma coisa. Antigamente as elites importavam do Japão, hoje importam da China. Papel está disponível para a classe média também, mas não para o povão. Nas palavras de um dissidente:

O papel higiênico está disponível e, embora não seja visto como um item de luxo em si, apenas as elites norte-coreanas e a classe média normalmente têm acesso a ele.

As famílias com dinheiro compram um bom papel higiênico para o lar, mas os menos afortunados usam exemplares antigos do Rodong Sinmun (com as imagens do líder removidas!), páginas de cadernos ou simplesmente lavam com água.

É interessante como, semelhante ao Índice Big Mac, é possível usar a disponibilidade de papel higiênico para determinar se seu país é uma merda.

Fontes:



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