Mais uma atrocidade na conta de Hitler: Café Decaf

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Existe a velha piada de que devido a uma ou outra atrocidade, ninguém fala das coisas boas que Hitler fez, ou que ninguém lembra que Mussolini fez os trens andarem no horário.

Essa última é mentira, os trens italianos eram tão incompetentes no Fascismo quanto sempre foram em outros regimes. Já o 3º Reich teve várias iniciativas que hoje em dia seriam taxadas até de socialistas, em termos de assistência social e amparo social (mas não pra todo mundo se é que você me entende)

Em outras áreas eles foram além, e no campo da saúde é justo dizem que as políticas de Hitler eram totalmente nazistas.

A base de tudo foi o Lebensreform, um movimento surgido no final do Século XIX, focado em ecologia, vegetarianismo, contra álcool e fumo, promovendo vida saudável, esportes, contato com a natureza.

O Lebensreform foi adotado por várias vertentes políticas, inclusive pelo povo de extrema-direita esotérico bad-vibes que fundou o nazismo. Na teoria do Homem Superior deles, a população ariana havia sido degenerada por miscigenação, má alimentação, hábitos ruins.

Originalmente a raça ariana seria pura e superior, com direito até a superpoderes, e com uma reforma geral na sociedade, e eugenia, com reprodução seletiva, conseguiriam retornar a raça germânica à pureza original.

Fundado em 1939, o Nationalsozialistischer Deutscher Ärztebund – Liga dos Médicos Alemães Nacional-Socialistas, teve Leonard Conti como Reich health Führer, e controlavam as iniciativas para melhorar a saúde da população. Conti e seus comparsas também criaram as bases dos programas de eutanásia e eugenia, e ele se enforcou em Nuremberg.

Outras iniciativas incluíram as primeiras pesquisas associando diretamente fumo a câncer. Um segundo estudo comprovando o primeiro foi feito pela Universidade de Jena em 1942. Esse estudo foi bancado com o equivalente em 2023 a US$2,4 milhões, vindos diretamente da fortuna pessoal de Hitler. Ele tinha interesses pessoais em combater o câncer, inclusive protegendo pessoalmente pesquisadores judeus na área.

Esses estudos foram usados no pós-guerra pela indústria do fumo nos EUA, para desqualificar os médicos que apontavam a correlação fumo/câncer, que era “obviamente” coisa de nazista.

Já os nazistas tinham campanhas constantes contra fumo. Já em 1939 Hermann Göring proibiu os militares alemães de fumar em público. Fumo era proibido em prédios públicos, publicidade era fortemente controlada, e cigarro era usado como agravante caso um motorista estivesse fumando durante um acidente de carro.

A Juventude Hitlerista e a Liga das Garotas Germânicas promoviam exercícios em demonstrações públicas. Álcool era desestimulado, com campanhas constantes alertando de seus malefícios.

Aí, como sempre, os nazistas foram longe demais. Outro alvo de sua busca fanática por saúde era… café. Considerado quase uma droga, Café era antinatural e alterava o equilíbrio dos alemães. Felizmente existia uma alternativa.

Em 1905 Ludwig Roselius patenteou o processo para produzir café descafeinado, e em 1906 fundou a Kaffee Handels-Aktiengesellschaft, mais conhecida com Kaffee HAG. O café descafeinado se tornou moda entre as elites alemães, que tinham dinheiro e portanto privilégio para consumir produtos premium, orgânicos, etc.

Roselius era um entusiasmado membro do Partido Nazista, e sua empresa foi contratada para fornecer café para o Governo, enquanto campanhas detonavam a Cafeína. Um livro da Juventude Hitlerista declarava cafeína “um veneno para a juventude, em qualquer forma, em qualquer dose” Diziam que ela causava todo tipo de mal, de câncer a surdez.

Hitler abastecia seus soldados com café descafeinado, ou seja: Não servia de nada. Isso criou um enorme mercado informal de Scho-Ka-Kola, um chocolate com uma porcentagem anormalmente alta de cafeína, chamado informalmente de “Chocolate de Aviador”.

E se soa como hipocrisia fornecer café sem cafeína e entupir os caras de chocolate, calma que piora. Os nazistas defendiam todo aquele ideal de raça superior, sem álcool, fumo drogas ou cafeína, mas ao mesmo tempo entupiam seus soldados de Pervitin, basicamente metanfetamina.

Isso mesmo, os soldados nazistas lutavam totalmente noiados, o que gerou crimes de guerra, fratricídio, suicídios, crises de abstenção e todos os problemas que transformaram as trincheiras numa verdadeira Cracolândia.

Enquanto isso o Führer, principal símbolo da pureza ariana e preservação contra álcool e drogas, quase vegetariano, fora dos holofotes era acompanhado por Theodor Morell, charlatão e seu médico particular.

Hitler tomava diariamente coquetéis com 72 substâncias, de barbitúricos para dormir, Pervitin para funcionar durante o dia, opióides, cafeína (!) e até injeções de sêmen de touro.

O pior disso tudo é que mesmo com a morte de Hitler e o fim dos nazistas, esses legados permaneceram. Café sem cafeína se popularizou muito depois da Guerra. Hoje encontra-se essa abominação por todo canto, e cada vez que alguém toma café sem cafeína, Hitler sorri no Inferno. Não tome café sem cafeína.

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