A boa notícia é que todo mundo mente. A má é que ninguém gosta de boa notícia

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Henry Ford dizia que se fosse ouvir os consumidores tudo que eles iriam querer eram “Cavalos mais rápidos”. O ditado de que o cliente tem sempre razão é uma imensa bobagem criada por alguém que nunca trabalhou no varejo, mas o buraco é mais embaixo. 

As pessoas não sabem o que querem. Um bom exemplo é a Apple. Steve Jobs NUNCA ouviu os consumidores. Se o tivesse feito não teríamos sequer o iPod, que foi obliterado pelos fanboys antes mesmo de ser lançado, a Apple foi ridicularizada por querer entrar no ramo de hardware de música. O resto é História.

Uma das formas mais rápidas de fracassar é basear suas decisões em pesquisas que se resumem a perguntar o quê as pessoas querem. Isso vale inclusive para política, quando um monte de gente nos EUA simplesmente mentiu nas pesquisas e secretamente votou em Donald Trump. 

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Na dramaturgia isso acontece bastante. A Globo sabe até quando levar em conta a opinião do público, sem deixar que esse dirija o espetáculo. Quando isso acontece é fracasso garantido, a mocinha vence no primeiro capítulo, o vilão não faz maldades, nada acontece, feijoada.

Todo fã de série passa por isso, nós adoramos e odiamos a tensão sexual entre os personagens, sem entender que a graça é justamente a tensão. Quando os protagonistas de Bones finalmente boned um ao outro (sorry essa piada só funciona em inglês) a série basicamente acabou. Daquela tesão “será que eles vão?” virou literalmente a Bones falando de fralda e colégio.

A Gata e o Rato foi um dos seriados mais bem-sucedidos dos Anos 80, até que algum produtos brilhante teve a idéia de acatar o desejo de todos os fãs e deixar os personagens se pegarem. Acabou com a dinâmica da série.

Esse fenômeno das pessoas não saberem o que querem é universal, e não é nem hipocrisia, como nas pesquisas onde oito pessoas no Brasil inteiro usam Viagra. É apenas algo que as pessoas fazem, e isso vale inclusive pra jornalismo.

Outro dia a lista secreta dos Membros VIP do Conclave de Apoiadores do Contraditorium (link no final do artigo) alguém comentou sobre o negativismo dos sites de notícias. É verdade, os sites têm um viés negativo, e isso vem desde antes da Internet.

Já em 1914 Elbert Hubbard disse que editor é o sujeito responsável em um jornal por separar o joio do trigo, e imprimir o joio. Outro vejo ditado é “If it bleeds, it leads”, que pode ser livremente traduzido por “Se sangra, é manchete”. 

Há centenas de pesquisas envolvendo opinião de leitores de notícias, mas para retirar a opinião dos leitores da equação dois pesquisadores da Universidade McGill no Canadá, Marc Trussler e Stuart Soroka criaram um experimento onde oficialmente rastreariam o movimento ocular dos leitores, mas secretamente estavam identificando quais notícias eram mais atraentes. 

Universalmente todo mundo diz que gosta de boas notícias, mas quer saber? É mentira. É do mesmo nível do pessoal da lacração que finge não achar gente bonita sexualmente atraente.

O resultado da pesquisa foi taxativo: As pessoas foram direto para as notícias negativas. Principalmente as pessoas mais politizadas, nas no geral, todo mundo.

A explicação desse viés negativo é bem simples: Evolução.

Pessoas exageradamente otimistas não sobrevivem. Se alguém fala que viu um tigre do lado de fora da caverna o otimista que acha que claro que não tem tigre nenhum sai e é comido. O pessimista que acha que sempre tem tigre e não sai nunca, morre de fome. Quem fica na dúvida e prefere esperar um pouco, sobrevive.

Quando pessoas de vários lugares estão comentando no mercado em Ur que uma vila próxima está com a Praga, quem presta atenção no nome da vila e fica longe, tem mais chances de sobreviver do que quem não liga ou acha exagero.

Nós somos ótimos protegendo nossos próprios fiofós, aprendemos até a reagir de forma mais rápida a palavras negativas. Se alguém grita “tiro!” todo mundo corre na hora, exceto no Rio, onde a gente só dá de ombros. Já se alguém gritar “Carburador!” fica todo mundo “ahm? quê?”

Daily News front page May 8, 1995, Headline: Daily News Investigatioin – DANGER NEXT DOOR – 70 city companies flout toxic time bomb safeguards, Chemical factory burns after April 21 explosion in Lodi, N.J. – REGGIE RAGES, Miller calls Knicks chokers as Pacers win, Reggie Miller(Photo By: New York Daily News/NY Daily News via Getty Images)

Essa atração pelas más notícias cumpre duas funções principais: Primeiro, ela serve para que a gente identifique aonde está o perigo. A outra função é reassegurar que não somos nós ou nossos entes queridos o alvo. Dizem que também há um componente de schadenfreude, mas não é algo que tenha aparecido em pesquisas.

As consequências dessa preferência por notícias ruins é que acabamos vendo o mundo bem pior do que ele realmente é. Um bom exemplo é a percepção de criminalidade. Não aqui no patropi onde a coisa tá preta, mas na civilização. 

Nos EUA a criminalidade vem caindo vertiginosamente desde o começo da Década de 90 (na verdade bem antes disso mas os Anos 70 foram tão punk que são fora da curva), mas a cobertura da imprensa tem mantido o mesmo número de notícias sobre crimes, e a percepção pública é que o país está à beira do caos. 

No meio disso tudo sempre surge um desavisado com uma visão Pollyanna de mundo, tipo o pessoal que quer desconstruir “padrões de beleza” sem entender que BEBÊS preferem olhar pra pessoas com rostos bonitos. E genética, filha aceita que dói menos. 

A proposta mais comum é um hipotético jornal que só publique boas notícias, uma forma de tornar o dia melhor, dar uma carga de positividade na vida das pessoas, uma coisa linda, uma coisa odara. 

A realidade é que isso já foi tentado algumas vezes, com resultados idênticos. O Huffington Post, além da Sideboob tem uma editoria Good News, onde só publicam notícias de bichinhos fofos ou coisas alegres. Vive às moscas.

Um dos casos mais recentes foi com o site de notícias russo City Reporter. Eles decidiram que durante 24 horas só publicariam notícias positivas, e mesmo se a notícia fosse ruim, achariam o melhor viés possível, como “nevasca não interrompe estradas”. 

Eles fizeram exatamente o que o público diz o tempo todo que quer ler: Notícias boas e otimistas mostrando um mundo onde há esperança e justiça.

Resultado? DOIS TERÇOS dos leitores simplesmente desapareceram. Em um estalar de dedos.

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