Guerra Fria: Como os russos hackearam uma… máquina de escrever

Guerra Fria: Como os russos hackearam uma… máquina de escrever

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A Guerra Fria foi palco de uma disputa de gênios, dos dois lados cientistas, engenheiros e espiões tentavam de tudo para passar a perna nos adversários. Em alguns casos eram bem-sucedidos, a ponto do inimigo bater palmas para a inventividade. O causo de hoje é um desses momentos.

Há casos geniais, como a ocasião em que a máquina de Xerox da Embaixada Soviética em Washington foi adulterada, com a instalação de uma câmera fotográfica que copiava todos os documentos que passavam por ela, e mensalmente o filme era recolhido pelo único americano que tinha acesso ao equipamento: O Técnico da Xerox.

Outro caso, dessa vez soviético, foi… A Coisa, como ficou conhecido isto:

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É um selo do governo dos EUA, presentado ao Embaixador Americano em Moscou pelas Organização dos Jovens Pioneiros Soviéticos. Claro que o equipamento foi sondado atrás de escutas, nada foi encontrado, e o presente foi pendurado no gabinete.

Tempos depois por acaso um técnico britânico ouviu conversas em inglês em seu rádio, investigaram e descobriram que a Coisa era um dispositivo de escuta completo, com transmissor de rádio, usando componentes totalmente passivos, alimentado por sabe-se lá o quê.

Tom Clancy dizia que a KGB era a melhor do mundo em espionagem, e as evidências concordam com ele. Ninguém era mais inventivo, ninguém pensava mais fora da caixa, mesmo quando os objetivos eram convencionais, como quando hackearam um equipamento fundamental para o Programa Espacial Brasileiro:

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A história começa na segunda metade dos Anos 70, quando espiões americanos começaram a ser presos em Moscou, levando os americanos a achar que havia alguma escuta na Embaixada dos EUA na cidade. Uma busca identificou uma chaminé falsa com uma antena camuflada, mas ela não estava ligada a nenhum transmissor.

Repetidas varreduras feitas pela CIA não encontraram nada, mas com a situação ficando fora de controle, a NSA – Agência de Segurança Nacional mandou pra Moscou este sujeito:

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Hall of Honor 2008 Selectee Photo – Gandy

O nome dele é Charles L. Gandy, ele é homenageado pela NSA, mas o site não diz absolutamente NADA sobre o trabalho do cara, compreensivelmente.

Gandy era o homem certo pra resolver um problema impossível: Um engenheiro. Especializado em comunicações à distância, contrainteligência e inteligência de sinais, ele começou a examinar em detalhes a embaixada, a ponto de irritar as outras agências.

Em certo momento a CIA e o Departamento de Estado deram um basta, ordenando que ele parasse de importunar o funcionamento normal do local, pois não havia escuta nenhuma. Gandy voltou com uma carta assinada por Ronald Reagan, basicamente dizendo “Ele faz o que quiser vocês todos abaixem a cabeça”.

A decisão de Gandy foi recolher TODOS os equipamentos elétricos da embaixada e enviar tudo pro seu laboratório, nos Estados Unidos. Foram dez toneladas de tralhas, de relógios e geladeiras a máquinas de escrever.

O passo seguinte foi desmontar cada um dos equipamentos, examinar com atenção cada peça, incluindo tirar raios-x de cada uma, por mais insignificante que fosse.

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Isso significou examinar dezenas de milhares de radiografias, mas deu certo. Um dos engenheiros de Gandy achou uma anomalia, uma pequena bobina perto do botão de liga-desliga de uma IBM Selectric.

A bobina era usada como fonte de energia de um circuito, que estava escondido dentro de um suporte estrutural da máquina.

Originalmente o suporte era uma peça sólida de alumínio, mas foi usinada para se tornar oca, mantendo a aparência original. Dentro, um circuito transmissor ligado não a um microfone, mas a algo muito mais sutil e inteligente: Seis magnetômetros.

Eles mediam variações de campo magnético. Qual? O gerado por pequenos imãs instalados dentro da esfera da máquina de escrever.

Eu explico: Em tempos ancestrais a IBM inventou um modelo de máquina de escrever aonde as letras e números ficavam em uma esfera, que girava para posicionar o caracter correto:

Cada posição da esfera é única, gerando uma variação igualmente única dos campos magnéticos detectados pelos acelerômetros.

Óbvio que eram variações mínimas e sendo tudo analógico, daria um bom trabalho decodificar o que era digitando, mas nada que fosse difícil demais para os soviéticos.

Para piorar, os sinais eram transmitidos em uma frequência encaixada entre as frequências usadas por canais de TV soviéticos, era como identificar alguém sussurrando entre várias pessoas gritando ao mesmo tempo.

O circuito ainda usava como antenas as próprias molas da máquina de escrever, e armazenava o texto digitado, para enviá-lo de uma vez em uma transmissão rápida, e variando de frequência.

Dizem que Gandy ficou maravilhado com aquela obra de arte e com a criatividade de seus colegas soviéticos. Com certeza foi muito mais criativo e eficiente do que a CIA, que uma vez instalou um microfone-espião em um gato, mas ao invés de acompanhar a conversa de espiões russos o gato foi atropelado.

Fonte: IEEE Spectrum

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