O Galo Nazista foi pro forno, Feliz Natal pra todos!

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Nos mapas e estratégias, nas histórias de conquista dos grandes generais nunca consta o maior preço da guerra, as pessoas comuns. Mesmo que não se envolvam diretamente em combate, sofrem com a escassez de alimentos, ou mais diretamente com as bombas. Foi o que aconteceu com a família de Hubert Vincken, um padeiro de meia-idade em Aachen, na Renânia.

Os Vincken tinham uma pequena padaria, onde tentavam sobreviver, Hubert o pai, Elisabeth a mãe, Fritz, o caçula de 12 anos. O filho mais velho havia morrido na Batalha de Stalingrado.

Durante um dos frequentes ataques aliados, a padaria, que também servia de casa foi bombardeada. Depois de algumas horas os Vincken foram resgatados do porão, onde se abrigavam. Nessa hora Hubert decidiu que iria levar sua família para longe de perigo. Um amigo contou que havia uma cabana bem escondida na Floresta Hurtgen, a uns 30Km de Monschau, uma cidade próxima.

Hubert levou a esposa e o filho, mais algumas provisões e os instalou na cabana. Hubert era um excelente padeiro mas péssimo estrategista, a Floresta Hurtgen ficava no meio das Ardenas, o local de uma das maiores, mais sangrentas e miseráveis batalhas da Segunda Guerra.

Originalmente iriam passar só algumas semanas enquanto Hubert tentava achar um lugar para morarem na cidade, e trabalhava pra conseguir algum dinheiro, mas eles passaram Outubro e Novembro inteiros lá.

24 de Dezembro de 1944 foi o dia em que o bicho pegou. Acostumados com as explosões, tiros e lanternas de patrulhas de soldados alemães e inimigos ao longe, Fritz e sua mãe nem ligavam mais para o barulho, mas não tinham como ignorar o barulho de alguém batendo na porta.

Fritz e a mãe atenderam, apenas para dar de cara com dois soldados ianques, o inimigo! Eram muito jovens, estavam estropiados, emaciados, cansados. Um terceiro soldado, com um ferimento de bala estava deitado na neve.

Nenhum deles falava alemão, Elisabeth não falava inglês, mas com boa-vontade de ambas as partes conseguiram se comunicar em francês capenga. Os três tinham se perdido do regimento, estavam andando sem rumo por 3 dias, fugindo das patrulhas alemães. Pediam para passar a noite na cabana.

Os três estavam armados, Fritz mesmo com 12 anos sabia que eles podiam simplesmente entrar atirando, mas não o fizeram.

Elisabeth sabia muito bem qual a pena de dar abrigo ao inimigo, mas aquela mãe de meia-idade, que já havia perdido um filho para a guerra não via naqueles três o inimigo. Eram 3 jovens precisando de abrigo.

 “Kommt rein,” disse ela, convidando-os para entrar.

Elisabeth mandou Fritz buscar 6 batatas da dispensa, e trazer Hermann Goering. Esse era o nome do galo que eles estavam engordando para celebrar a volta de Hubert, como ele não havia aparecido para o Natal, Goering ganhou uma sobrevida até o Ano-Novo, mas com visitantes, o penoso batizado em honra ao gordo comandante da Luftwaffe, de quem Eliszabeth não gostava nem um pouco, iria morrer na véspera.

Hermann girava alegremente no espeto enchendo a cabana com um delicioso aroma de televisão de cachorro, quando alguém -de novo- bate na porta. Fritz corre achando que eram mais americanos, mas dá de cara com 4 soldados da Wehrmacht, igualmente perdidos, igualmente famintos e pedindo abrigo.

Elisabeth precisava pensar, e pensar rápido. Negar abrigo levantaria suspeitas, e não seria difícil acharem os americanos. Isso garantiria fuzilamento para ela, Fritz e provavelmente Hubert.

“Vocês são bem-vindos para entrar e comer conosco até rasparmos a panela, mas antes disso precisam saber: Temos 3 hóspedes que vocês podem não considerar amigos.”

“Amerikanem?”

Os soldados alemães ficaram tensos, sem saber exatamente como reagir. A situação estava por um fio.

Nessa hora ela encarnou a governanta alemã que todos tememos, jogou seu Poder Materno no 11 e falou:

“Escutem, vocês poderiam ser meus filhos, assim como aqueles três lá dentro. Um deles é um garoto com um ferimento de bala, lutando pela vida. Ele e seus dois amigos estão perdidos com fome e exaustos como vocês.”

Com provavelmente o olhar mais sério que já fez na vida, Elisabeth completou, em um tom que assustaria até Ilsa, a She-Wolf da SS:

Es ist Heiligabend und hier wird nicht geschossen!” 

É véspera de Natal e não vai haver tiroteio aqui!

Apontando para uma pilha de lenha ela indicou para os alemães deixarem suas armas do lado de fora. Assim que entraram os americanos pensaram que era o fim, mas Elisabeth os acalmou, em seguida recolheu suas armas e as colocou junto às outras, do lado de fora.

Apesar do clima tenso todos estavam cansados demais para lutar. Da cozinha Elisabeth observava seus hóspedes. Dois deles, Heinz e Willi tinham apenas 16 anos. O Alemão mais velho, o cabo, tinha 23. Ele havia estudado medicina em Heidelberg, e examinando o americano ferido trouxe a boa notícia de que o frio havia impedido o ferimento de infeccionar.

Para acompanhar falecido e delicioso Hermann, o soldado Heinz ofereceu um pão de centeio que tinha no fornal. Outro alemão tinha uma garrafa de vinho. Logo os sete inimigos e dois anfitriões estavam cantando, comendo e recitando passagens bíblicas, celebrando o Natal.

Não achei o Frango Goering mas achei o Himmler, e quem viu um nazista viu todos.

Na manhã seguinte os alemães, já sabendo onde estavam puderam usar seus mapas e indicar aos americanos o melhor caminho para desviar das patrulhas e retornar ao território sob controle dos aliados. Todos se despediram com sorrisos, apertos de mãos e desejos de Feliz Natal.

Hubert morreu em 1963, Elisabeth se foi três anos depois. Eles nunca mais tiveram informações dos soldados que acolheram naquela Noite de Natal de 1944, mas Fritz sempre procurou. A história se tornou famosa, foi recontada até por Ronald Reagan em um de seus programas natalinos de rádio, e com o tempo se tornou uma daquelas lendas urbanas que ninguém acredita realmente que aconteceram. Chegou até a virar um filme com a Linda Hamilton, Slient Night.

Um dia em 1995 a história foi contada em um episódio da série Unsolved Misteries. Um sujeito chamado Eldridge Ward, funcionário de um asilo se lembrou na hora que um dos pacientes, Ralph Blank sempre contava aquela história, e que ele era um dos soldados americanos que ceou com os Vincken.

Telefonemas foram feitos, informações foram trocadas e Fritz, agora um padeiro no Hawaii voou para Maryland onde em 19 de Janeiro de 1996 encontrou pela segunda vez na vida Ralph Blank.

A nora de Ralph cozinhou o mesmo prato que comeram uma vida atrás: Frango ensopado, e Ralph pôde mostrar a Fritz a bússola que ganhou dos alemães. 52 anos depois o velho veterano agradeceu ao então menino:

“Sua mãe salvou minha vida”.

Ralph morreu em 1999, Fritz logo depois em Dezembro de 2001.

A lição que temos aqui, meninos e meninas, é que se aliados e nazistas podem esquecer suas diferenças e passar uma noite de Natal em paz, é no mínimo RIDÍCULO o nível de chilique na Internet, com um bando de arrombado arrancando cabeças por causa de parentes que discordam deles politicamente.

Usem a bundinha, procurem o que as pessoas têm em comum, parem de se definir por suas diferenças. Tentem, vocês conseguem, até nazistas conseguiram…

E Feliz Natal, especialmente aos Beagles que contribuem para manter o blog funcionando, ho ho ho!

Fontes:



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