O dia em que Disney teve que lidar com anões (provavelmente) besuntados

O dia em que Disney teve que lidar com anões (provavelmente) besuntados

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A gente se acostumou a pensar na Disney como aquele imenso conglomerado, uma empresa gigantesca, “grande demais pra falhar”, que pode tudo, mas antes dos parques Walther Elias Disney e seu irmão Roy tinham um pequeno estúdio de animação, que quase faliu quando seu contrato para produzir Oswald the Lucky Rabbit foi cancelado.

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Há uma certa semelhança, reconheco.

Oswald foi criado por Walt Disney mas os direitos eram da Universal, por sorte depois que a maioria de seus animadores foi contratada pelo “inimigo”, ele tinha um personagem na manga, criado secretamente, um tal de Mickey Mouse.

Disney introduziu diálogos, o que era novidade, e apostou bastante em sonorização, o personagem fez sucesso, a empresa cresceu em em 1929 a Disney Brothers Cartoon Studio virou a Walt Disney Productions, com séries como a Silly Symphonies, que produziu clássicos como a Dança dos Esqueletos ou Os Três Porquinhos.

Disney, sabendo que pedra parada o vento leva (ou algo assim) investiu pesado em tecnologia, dando espaço para seus animadores testarem e inovarem. Uma dessas inovações foi criada inicialmente em 1933 pelo animador e diretor Ub Iwerks, a câmera de múltiplos planos. Ela permitia que você fotografasse as células da animação espalhando-as em um espaço tridimensional, ao invés de empilhadas uma colada na outra.

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Walt Disney. Ao fundo a câmera de múltiplos planos. Não era portátil.

Em 1937 uma versão aperfeiçoada foi construída por William Garity e o resultado foi excepcional. A Disney conseguia fazer o que em games a gente chama de “paralax scroll”, com partes mais distantes do cenário se movendo mais lentas do que as da frente. Também era possível focar e desfocar nos vários planos de profundidade.

A câmera foi testada com o curta O Velho Moinho, que 84 anos depois ainda é um exemplo didático de como animação pode ser uma arte de primeiro escalão.

https://youtu.be/yIO_7K4-JjU

Claro, ninguém na época considerava animação arte, a indústria se resumia a histórias curtas, de menos de 10 minutos voltadas para o público infantil, O Velho Moinho era o máximo de “adulto” que um filme animado chegaria.

Por isso quando Disney decidiu apostar em Branca de Neve e os Sete Anões, com um orçamento que em valores de 2021 equivalia a US$25 milhões. Cada curta do Coelho Oswald rendia aos Irmãos Disney o equivalente hoje a US$8.900,00. Foi um grande salto em termos de custo, por causa da tecnologia e qualidade envolvidas.

A indústria, claro, achou que era loucura, mais uma idéia maluca do tal Disney. Nenhuma criança ficaria sentada no cinema 83 minutos vendo um filme, a história seria complicada demais, os pais se rebelariam, e ainda por cima nem era uma história original.

Branca de Neve teve uma versão em cinema mudo em 1902. Em 1916 J. Searle Dawley dirigiu uma nova versão, também muda, igualmente com atores.

https://youtu.be/Phm-BdPMMEY

A primeira versão animada apareceu em 1933 com ninguém menos que Betty Boop como Branca de Neve, e era levemente menos subversiva que a versão brasileira com a Adele Fátima.

O filme acabou rendendo o equivalente a US$141 milhões em 2021, e mudou para sempre a História do cinema. Mais importante, colocou todo mundo de olho na Disney esperando qual seria o próximo filme e como a Disney superaria a si mesma.

O próximo filme foi Pinóquio, e gerou uma bela rivalidade entre fãs e mesmo funcionários da empresa.

E agora a história começa a degringolar

Como não tinham influencers retardados para contratar, restava aos marketeiros da Disney montaram uma Première no  Carthay Circle Theatre cheia de artistas consagrados, como Marlene Dietrich e Juddy Garland além de uma atriz vestida de Branca de Neve e sete fantasias tenebrosas de anões, que misteriosamente não assustaram uma das convidadas especiais, Shirley Temple, atriz mirim que era uma espécie de Maísa bem menos chatinha.

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Shirley Temple e os anões.
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Mais anões sinistros.
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Alguém pediu material de pesadelos?

A turma do Pinóquio não quis ficar pra trás, mas como a tecnologia da época não dava para criar bonecos de madeira autônomos, e Pinóquio transformado em menino de verdade é só um moleque remelento, apelaram pro plano B.

O local escolhido para a Première foi o Radio City Music Hall, que tinha uma marquise bem conveniente. O Plano B: Contrataram ONZE (pra ser bem mais que sete) anões, e os vestiram com roupas e máscaras de Pinóquio.

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Eles ficariam da marquise acenando para as crianças na fila para ver o filme.

Problema: Os marketeiros esqueceram que anões são gente, e gente não presta. Quando foi chegando na hora do almoço, os anões já estavam cansados, e exigiram que subissem cestas com o rango e vinho pra ajudar a passar o tempo.

Os marketeiros de novo esqueceram que anões são gente pequena e mandaram vinho mais que suficiente para 11 homens de estatura mediana.

Logo os anões já estavam embriagados. Arrotavam alto, xingando e mostravam o dedo pro povo na rua. Um deles se cansou e tirou a fantasia, outros seguiram e a estréia de Pinóquio estava marcada por onze anões pelados, felizmente (espero) não-besuntados.

Como eles ignoravam os pedidos desesperados dos produtores, o jeito foi chamar a polícia, que foi obrigada a arrumar uma escada, subir e recolher onze anões bêbados pelados beligerantes. Para isso a História registra que usaram fronhas de travesseiros.

Apesar de ser narrado em vários livros, na época pouca gente tinha celular com câmera, e até pouco tempo todo o causo ocorrido em 1940 era visto meio como lenda, até que o pessoal do Disney History Institute desencavou esta foto.

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O resto, como dizem, é história.

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