Um breve passeio no misterioso mundo dos sonhos

Um breve passeio no misterioso mundo dos sonhos

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sandman942-1024x445 Um breve passeio no misterioso mundo dos sonhos

Em 2010, continuação de Arthur Clarke para sua obra-prima 2001 – Uma Odisseia no Espaço, há uma cena aonde o Dr Chandra, cientista responsável pela criação do computador HAL 9000 está tentando repetir as circunstâncias que levaram ao “surto psicótico” de HAL. Para isso ele pretende desligar várias funções cognitivas de SAL 9000, uma cópia do HAL 9000, em terra.

Ele explica a SAL o que vai fazer, e que ela experimentará o equivalente a um sono. SAL tem apenas uma pergunta:

“Dr Chandra, eu vou sonhar?”

Ao que Chandra responde:

“Claro, todas as criaturas inteligentes sonham”.

O Dr Chandra estava certo, mas em verdade a resposta é bem mais abrangente.

Qualquer um que tem gato ou cachorro sabe que eles sonham, na verdade sonhos foram identificados em aves, répteis, marsupiais e outras espécies.

Identificar sonhos não é problema. Todo mundo sabe o que é um sonho, e todo mundo sonha, mesmo quem jura que não sonha. Acredite, você sonha, só não se lembra.

Sonhos podem ser bons ou ruins, nossos bichos podem sonhar com gloriosas caçadas ou se angustiar com pesadelos aonde estão cercados por predadores. E essa é uma das muitas hipóteses conjecturadas para explicar o porquê sonhamos.

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O simples fato de sonhos estarem presentes em tantas espécies mostra que eles têm uma função biológica importante, mas não fazemos idéia de qual seja.

Sigmund Freud por muito tempo manteve no páreo sua Teoria dos Sonhos, na qual eles seriam representações de desejos da mente subconsciente, em sua maioria sexuais, e metaforicamente codificados. Hoje em dia essa teoria está completamente desacreditada, e Jung, que acreditava que sonhos eram mensagens do subconsciente, e às vezes de um inconsciente coletivo. Sim, ele também caiu em desuso.

Analisar sonhos sob perspectiva de raciocínio elevado assim pode ser o caminho errado. Coelhos dificilmente passam por crises existenciais, sonhos não seriam úteis para eles.

Por isso uma teoria diz que sonhos são uma espécie de Matrix, aonde treinamos nossos instintos de caça e fuga. Nossas reações, memória muscular, tudo repetido durante a noite, sem precisar gastar energia ou tempo praticando no mundo real.

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Outra teoria parte do princípio que a plasticidade do nosso cérebro, que permite que uma área danificada seja substituída por outra sofre se uma área não estiver sendo utilizada. Os sonhos seriam uma forma de manter o córtex visual ativado durante a noite, impedindo que ele seja tomado por outros circuitos cerebrais.

Há quem teorize que sonhos são apenas ruído criado durante o processo de consolidação de memórias de curto prazo.

O Mecanismo Do Sonho

A imensa maioria dos sonhos começa na fase do Sono REM, sigla em inglês de Rapid Eye Movement, quando nossos olhos começam a se mexer de um lado para o outro. Paradoxalmente nessa fase nosso corpo desenvolve atonia, o cérebro corta a comunicação para os músculos voluntários, evitando que a gente repita fisicamente os movimentos do sonho.

Outra área que é desligada é o córtex pré-frontal, responsável por planejamento e raciocínio lógico. Por isso não percebemos situações completamente absurdas dentro de um sonho.

Outro dia eu sonhei que estava sendo perseguido por bandidos de morros no Centro do Rio por não ter aceitado o custo de R$120 cobrado pelo taxista para ter me trazido de Botafogo, em sua canoa.

Ao contrário de Inception, a maioria dos sonhos ocorre em tempo real, mas às vezes o cérebro é extremamente rápido. Um estímulo externo como uma buzina, um despertador ou um ventilador pode ser incorporado retroativamente a um sonho, toda uma história é gerada em uma fração ínfima de segundo e você acorda ouvindo o mesmo som que no sonho.

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Imagina-se que isso seja um mecanismo de defesa para evitar um despertar mais traumático.

Durante pesadelos o cérebro perde a mão, criando situações que podem ou não ter a ver com o dia-a-dia. Eu tive muitos pesadelos com os esqueletos de dinossauros do Museu Nacional, felizmente essa memória de infância não pode mais me atingir. ☹

Entre as várias bobagens ditas sobre sonhos, e vou deixar de lado todas as bobagens místicas, uma muito comum é que não podemos reconhecer rostos nos sonhos pois nosso cérebro é incapaz de criar um rosto do zero.

Bem, então precisamos informar isso a milhões e milhões de artistas que fazem isso literalmente todo dia.

O que o cérebro faz, sim, é às vezes criar um avatar e atribuir a ele uma determinada identidade, então mesmo com uma aparência totalmente diferente, identificamos aquele avatar como uma determinada pessoa.

É comum acharmos que não conseguimos criar rostos por causa do rápido fator de esquecimento. Sonhos são importantes evolucionariamente durante o sonho, mas quando estamos acordados eles são descartados. Só muito raramente vão para a memória de curto prazo.

Se você não acordar com o sonho ainda vívido e começar imediatamente a falar e anotar, é provável que em alguns minutos ele já tenha se tornado uma lembrança difusa.

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Nada disso deve ser confundido com Paralisia do Sono, um fenômeno relativamente comum aonde um bug faz com que o mecanismo de atonia não seja desligado e a gente acorde sem nenhum controle sobre o corpo. Você está lúcido, acordado, e dependendo do caso não consegue nem abrir os olhos. Não mexe um dedo.

É comum a privação sensorial, quando acontece durante a noite gerar alucinações. Nos tempos medievais a explicação era que um demônio estava sentado em seu peito te impedindo de se levantar. Quem tem gatos sabe como é.

Um fato curioso é que às vezes o próprio cérebro cria armadilhas para si mesmo. Tive um sonho com a Falecida, Aquela Que Não Deve Ser Mencionada, a Voldemorta. Eu normalmente não gosto desses sonhos, mas é meu cérebro me punindo quando não o estou envenenando lentamente com álcool.

Nesse sonho nós estávamos juntos de novo, e ela não se parecia em NADA com seu visual real (visualize um Balrog). Ela levava uma vida toda moderninha, e tentava me encaixar. Eu vou visitá-la e ela está no meio de uma suruba com vários amigos e amigas.

Como isso não é meu fetiche, seria algo bem doloroso de testemunhar. Nesse momento meu sonho passou para a terceira-pessoa. Eu me vi ali, do ponto de vista de um observador incorpóreo, enquanto uma amiga me puxava para um canto do cômodo e me distraía.

Essa parte foi tão diferente que foi a chave para que eu continuasse me lembrando do sonho depois de acordar.

E sim, meu subconsciente me odeia, minha mãe conta que uma vez, pequeno, ela foi ver porque eu estava falando dormindo e eu dizia coisas como “Vamos, Batman! Santa confusão, Batman”.  Isso mesmo. Até nos meus sonhos eu sou o sidekick. FML.

A maioria dos sonhos são triviais, costumam incluir fragmentos de memórias do dia. É comum sonharmos com filmes e séries, cenas de livros e coisas que nos impressionaram, mas também é comum sonharmos que estamos numa fila de banco ou na escola em uma aula chata.

Um efeito extremamente positivo de sonhos é que como nossas inibições e senso de realidade estão amortecidos, ficamos com muito mais liberdade para pensar fora da caixa. Todo mundo já resolveu problemas durante o sono, chegando a soluções criativas e originais.

August Kekulé, o descobridor da geometria da molécula de Benzeno vinha trabalhando a meses mas não conseguia achar uma forma da molécula funcionar. Um dia em 1895 ele adormeceu diante da lareira, e sonhou com uma cobra, feita de átomos (existe outro tipo?) tomando uma forma circular e mordendo o próprio rabo. Ele acordou, rearranjou os átomos e percebeu que era a forma ideal do Benzeno.

Dmitri Mendeleev, criador da tabela periódica disse ter visualizado o arranjo que hoje é tão familiar, em um sonho. Algumas fontes dizem que o próprio Método Científico, organizado por Descartes surgiu para ele em um sonho.

Sonhos não precisam vir totalmente do nosso subconsciente, é fácil induzir sonhos. Músicas tocadas durante a noite causam efeito, a própria televisão vai criar temas que seu cérebro transformará em histórias. Uma dica: Não durmam com a tv ligada se perto de acordar estará passando documentário de guerra, você sempre vai acordar com sonhos… complicados.

E por falar em guerra, um dos raros tipos de sonhos que realmente assustam são os sonhos inception, quando você acorda mas está dentro de outro sonho. Felizmente a desorientação de acordar uma segunda vez costuma passar rápido. Ou será que você ainda está sonhando?

Seu Holodeck Pessoal

De todos os tipos de sonhos, existe um bem raro, o sonho lúcido.

Quando estamos sonhando estamos em um nível de consciência intermediário, vivemos a experiência, mas não percebemos que estamos fora do mundo real.

Já no sonho lúcido você vê um objeto ou uma situação, e percebe que está sonhando.

Foram feitos experimentos aonde sonhadores conseguiram mandar sinais, movimentando os olhos, indicando que estavam conscientes, mesmo com todos os sinais de EEG apontando que estavam sonhando.

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É assim que você se sente em um sonho lúcido.

Os experimentos foram ao ponto de os cientistas mandarem mensagens para o sonhador, e vice-versa. Em uma dessas experiências dois sonhadores lúcidos foram interconectados por computadores, e mandavam bips um para o outro. Não, não compartilharam do mesmo sono, calma.

Eu tive alguns sonhos lúcidos, uns 3 ou 4 até hoje. Nos três primeiros acordei assim que percebi que estava sonhando, meu cérebro não conseguiu manter a Matrix funcionando. Já no quarto sonho eu estava em uma garagem no que parecia Tóquio, e percebi que estava sonhando. Mantive a calma e tentei, claro, o que todo nerd tentaria: Voar.

Eu sabia que eu era o Senhor daquele universo, ele existia na minha mente, me concentrei, me apoiei no chão e comecei a flutuar, aprendendo aos poucos como controlar. Flutuei para fora da garagem e subi aos poucos, rindo. Tudo durou uns dois minutos depois da percepção de lucidez. Foi maravilhoso.

No dia que alguém viabilizar uma droga ou máquina que induza sonhos lúcidos, será o fim da indústria de entretenimento. Imagine você ter seu Próprio Universo, sendo onipotente podendo criar o que quiser. Deve ser assim que o Kevin Feige se sente.

E antes que você diga que há um monte de técnicas para criação de sonhos lúcidos, eu pergunto: O criador dessas técnicas tem US$100 bilhões no banco? Não? Então não funcionam.

Sonhar Pra Quê?

Embora não façamos idéia da função dos sonhos, sabemos que privação de sonhos tem consequências fatais em humanos e animais. Antigamente achávamos que bastava a privação de sono, mas experimentos mostraram que se interrompermos o sono durante os primeiros estágios do sono, mesmo deixando a criatura dormir pelos períodos sem sonhos, o resultado não é nada bom.

Ah sim antes que perguntem, já sonhei com a Luciana Vendramini várias vezes, mas nunca aconteceu nada. Meu subconsciente além de me odiar, é extremamente puritano, então raramente cria sonhos e sacanagem, e nunca com desconhecidas. De novo, FML.

Conclusão

A Ficção Científica nos promete o Holodeck, aquele ambiente de Realidade Virtual aonde hologramas, campos de força e sintetizadores de matéria permitirão que experimentemos todo tipo de experiência, de clubes de jazz a simuladores de batalha, ou como quer Scott Adams, Cindy Crawford e suas 12 irmãs gêmeas, mas temos um simulador muito melhor dentro de nossas cabeças.

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OK não exatamente um Holodeck.

Quando decifrarmos como o mecanismo dos sonhos funciona seremos capazes de induzir sonhos lúcidos, que serão usados para diversão, aprendizado, tratamento psicológico e, claro, tudo que possa envolver Cindy Crawford e suas 15 irmãs gêmeas (meu cérebro, minhas regras).

Infelizmente nossos conhecimentos sobre como nosso cérebro processa informação ainda é extremamente primitivo, e talvez continue assim por centenas de anos. Mesmo a máquina mais complexa do Universo não é capaz de entender como ela mesma funciona. Então, por enquanto, isso tudo é apenas um sonho distante.

Fontes:

  1. Moving Dream Theory Beyond Freud and Jung – G. William Domhoff – University of California, Santa Cruz
  2. 7 Great Examples of Scientific Discoveries Made in Dreams
  3. Why do we dream? The verdict on Freud’s theory
  4. The Science Behind Dreaming
  5. Was Freud right about dreams after all? Here’s the research that helps explain it
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