Nunca confie em quem anda de Bicicleta e/ou quer invadir a Polônia

Compartilhe este artigo!

Existe um fenômeno interessante que ocorre em vários campos da interação humana; primeiro você ignora os desafetos. Quando eles começam a incomodar, você os despreza, diminui e mostra como são inferiores a vocês.

Caso eles não sejam, e cresçam ganhando destaque, em algum momento você vai mudar o discurso. Afinal, se aquele ser abjeto incompetente burro mesmo tem mais sucesso mais promoções mais dinheiro que você, aonde você se encaixa?

Na política atual isso gera casos divertidíssimos, aonde a esquerda se esbalda na esquizofrenia, uma hora acusando o Ornitomito de ser um completo imbecil incapaz de passar leite condensado no pão sem ler o manual, outra hora acusando-o de ser um estrategista nível Erwin Rommel, jogando xadrez quadridimensional e criando distrações com meses de antecedência para desestabilizar seus inimigos políticos.

A trope de políticos com binóculos errados é uma das mais tradicionais.

O motivo, como já dito, é simples. Se ele é um abestado completo, o que sobra pra ser a oposição que não consegue emplacar uma, contra ele? Se eu não consigo derrotar um idiota completo, eu sou o quê então?

Em História isso acaba criando uma certa implicância, que distorce fatos. Há uma enorme ênfase em apontar que Hitler era um estrategista medíocre, o que não é verdade. E a velha história de que ele repetiu Napoleão e foi burro em invadir a Rússia no inverno? Calúnias.

A Operação Barbarossa, a invasão da Rússia pelas tropas do Eixo aconteceu entre 22 de Junho e 5 de Dezembro de 1941. Sabe como funcionam as estações do ano no hemisfério norte? Em 1º de Março começa a primavera, em 1º de Junho o Verão, em 1º de Setembro o Outono e em 1º de Dezembro o inverno.

A data de 22 de junho foi inclusive um atraso causado pelas enchentes de primavera quando os rios degelam e tornam grande parte da região enlameada.

O erro de Hitler foi ser TEIMOSO, ao acreditar nas projeções de seus generais que garantiam que as forças de Stalin estariam derrotadas em no máximo dois meses. E, claro, como todo vilão de quadrinhos Hitler ignorava os conselhos dos generais que apontavam que o plano não daria certo. Se deu mal. Bem-feito.

Dessa mania esquizofrênica de classificar o inimigo como incompetente / excelente ao mesmo tempo, surge uma das maiores omissões da História: A impressão de que a máquina de guerra nazista era uma máquina, avançada e tecnológica.

Entra a Blitzkrieg

Até a Segunda Guerra Mundial guerra era um exercício de estilo, você tinha tropas entrincheiradas, artilharia posicionada quilômetros atrás, eventuais cargas de cavalaria, um grande e mortal teatro a céu aberto.

Com a Blitzkrieg a Alemanha mudou tudo. Artilharia móvel junto com infantaria, blindados e aviões invadem tocando terror e ocupando território, sem dar tempo do inimigo reagir. Deu tão certo que é o padrão até hoje pra todo mundo.

E todo mundo imagina as tropas nazistas como uma fila sem-fim de soldados marchando e poderosos tanques rugindo ao passar.

Ê ô ê ô vamu invadi!

Sim, é justificado ser derrotado e invadido por um exército poderoso mecanizado assim.

O que não ensinam é que nem de longe a Wehrmacht era essa maravilha toda. A Alemanha sempre teve problemas com combustível, e no meio de uma guerra, com os inimigos controlando 90% das suas fontes externas de petróleo, o jeito é racionar e buscar vias alternativas.

Isso levou a um momento em que Hitler se tornou a mais baixa das criaturas humanas. Sim, vou ser polêmico, e farei Hitler cair mais ainda no seu conceito, caro leitor, digo leitora, digo leitorx.

Nota: Se você está usando a transcrição em áudio, viu como essa escrita retarda fica ridícula em voz alta?

OK, voltando: Hitler não tinha gasolina pra abastecer todos os caminhões que precisavam, ainda mais porque eles usavam Diesel. Soldados marchando por centenas de quilômetros era ruim, mas transportar na mão equipamento pesado era pior ainda. Uma das soluções?

Bicicletas.

Isso mesmo. Boa parte das tropas alemães usavam… bicicletas. A ponto de esgotarem a produção nacional e em 1944, com a Dinamarca ocupada, Hitler tomar uma decisão que o transformou em um ladrãozinho de subúrbio: Ele ordenou que toda a produção de bicicletas da Dinamarca, bem como todas as bicicletas nas mãos de civis fossem confiscadas para uso pela Wehrmacht.

A idéia agradou a Hitler que -se prepare, mais podres do passado dele- era… ciclista. Sim, durante a 1ª Guerra Mundial ele trabalhou como mensageiro, usando uma bicicleta. Depois reclamam quando a gente diz que ciclistas não são confiáveis.

Sempre que podiam as tropas nazistas se deslocavam de caminhões, com o excedente acompanhando os comboios usando bicicletas, que eram usadas amplamente para transporte de munições e mensagens entre as unidades.

Hitler Fazia os Outro Copia

A Alemanha de forma alguma foi a única nação a usar bicicletas. A Polônia tinha unidades de combates inteiramente compostas por ciclistas (não deu muito certo) e no Dia D muitos paraquedistas saltaram com bicicletas dobráveis, a gente não vê isso nos filmes porque é meio ridículo de imaginar mesmo.

No fronte oriental o Japão invadiu a Manchúria usando bicicletas, em Burma tropas aliadas também tinham ciclistas pra todo lado.

Bicicletas foram usadas até como espionagem, com membros da Resistência escondendo microfilmes dentro dos quadros, até o caso da Associação Dos Ciclistas Nazistas (pardon meu pleonasmo) que antes da declaração de guerra visitava a Inglaterra, com instruções de memorizar as estradas, caminhos e instalações estratégicas durante seus passeios.

Tropas ingleses desembarcando na praia Gold no Dia D, levando bicicletas.
Tropas canadenses com bicicletas em sua lancha de desembarque

Bicicletas serviram aos nazistas de várias formas, a mais curiosa provavelmente é a que envolveu Heinrich Himmler, Líder da SS, carniceiro, genocida, psiocopata e, pra piorar, metido a místico.

Himmler defendia ardentemente a superioridade da raça ariana, e quando atingiu uma posição de poder fundou uma organização, a Ahnenerbe para pesquisar em registros históricos, financiar expedições arqueológicas e procurar quinquilharias no deserto. Problema: Esse tipo de expedição custa dinheiro, e como o Caveira Vermelha já havia achado o Tesseract, Himmler não tinha mais como pedir dinheiro a Hitler.

Chief of the German Police and Minister of the Interior Heinrich Himmler, with his daughter Gudrun on his lap, watch an indoor sports display in Berlin, Germany on March 6, 1938. (AP Photo)

Solução? Bem, digamos que nazistas não eram o primor da honestidade.

Anton Loibl era um ex-motorista de Hitler e bicicleteiro. Ele havia inventado um refletor para pedais, que tornaria a bicicleta mais segura durante a noite. Como ele tinha contatos, apresentou o produto para Himmler, que viu ali uma oportunidade.

A SS abriu uma empresa com Anton, a Anton Loibl GmbH. Juntos patentearam o tal refletor, inclusive negando uma patente anterior de outro inventor.

Com a patente na mão, Himmler usou seus contatos junto ao governo nazista e presto! Uma nova Lei tornava obrigatório para toda bicicleta na Alemanha usar os tais refletores. Os fabricantes então descobriam a patente e tinham duas opções, comprar refletores da Anton Loibl GmbH ou pagar royalties, construindo seus próprios refletores. Em 1939 eles faturavam o equivalente a US$7 milhões por ano.

Um dos refletores de pedal de Himmler, que hoje em dia todo mundo usa.

Em 1945 a empresa fechou, mas a legislação alemã cobrindo uso de bicicletas, a Straßenverkehrszulassungsordnung, continua valendo até hoje, e é toda baseada nas Leis promulgadas pelos nazistas, incluindo freios duplos funcionais, faixas refletoras nos pedais e na frente e traseira da bicicleta. Capacete não era preciso incluir, o exército já te dava um.

Em conclusão: Nunca confie num nazista. Ou num ciclista.

Créditos:


Compartilhe este artigo!