A garotinha negra e pobre que virou branca e rica antes do Michael Jackson

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Sarah Rector nasceu no Oklahoma, em 1902, no que viria a ser a cidade de Taft, mas na época era território indígena. Ela levava uma vida difícil, como toda criança pobre nos EUA rural do começo do Século, até que ela tirou a sorte grande, só que não:

Uma das cláusulas de um Tratado entre o Governo dos EUA e a tribo Creek de índios americanos estabelecia que deveriam ser pagas compensações, por escravidão de negros.

Sim, os índios americanos também tinham escravos, e muito, mas isso não é algo que se divulgue muito, por não ser politicamente correto. O que importa é que os pais de Sarah eram descendentes de negros africanos escravizados pelos Creek, e segundo a Lei promulgada os filhos mais jovens descendentes de escravos receberiam indenizações na forma de terra.

Sarah, com 11 anos

Sarah estava entre as agraciadas, mas a sociedade americana da época não estava realmente disposta a dar terra de primeira para negros. Como resultado os lotes de maior qualidade iam para colonos brancos, depois para os índios, e no final da fila, negros. Sarah ganhou 64 hectares de terreno infértil, pedregoso e inútil, a 100Km de onde sua família morava.

Claro, ainda havia uma pegadinha. Não só a terra era inútil, como vinha com um imposto anual de quase US$1000 em valores atuais.

O pai de Sarah já havia feito duas hipotecas da casa onde moravam, para pagar as contas e tentar cobrir os impostos. Ele tentou vender o terreno, mas o Conselho Municipal negou autorização.

Sem nada a perder, em 1911 Joseph Rector arrendou o terreno para uma empresa que estava prospectando na região, uma tal de Standard Oil. O acordo envolvia uns caraminguás que cobririam o custo do imposto territorial, e royalties sobre produção, caso algum petróleo fosse achado.

Em 1913 uma sonda praticamente explodiu com a pressão, um jato de petróleo subiu metros e metros no ar. Trabalhadores correram para instalar válvulas e começar a coletar o óleo. O poço produzia 2500 barris por dia.

Contabilizados os royalties, Sarah, através de seu pai recebia o equivalente a US$8300,00 em valores atuais. POR DIA.

Sarah se escondeu debaixo da cama quando os jornalistas apareceram.

A vida da família mudou. Ela caminhava vários quilômetros por dia para ir pra escola. Agora Sarah tinha sua própria charrete. A família passeava pelas ruas da cidade, comprando roupas e luxos como um fonógrafo e um piano.

Só em 1913 a renda da família foi o equivalente a US$321 mil, em valores de 2021.

O caso foi se tornando conhecido pela imprensa, Sarah Rector era chamada de a criança mais rica da América. Com 12 anos de idade ela recebia cartas do mundo inteiro, com pedidos de dinheiro, e até propostas de casamento. Inclusive de homens brancos.

Com dinheiro a rodo, Sarah e a irmã mais nova foram para o Tuskegee Normal and Industrial Institute, uma escola de elite para jovens negros. Enquanto isso um grupo de administradores brancos, escolhidos pela Justiça era responsável por gerenciar a fortuna de Sarah, visto que legalmente pais negros não tinham competência para isso. Yay racismo institucionalizado!

Mesmo assim o interesse maior dos administradores era multiplicar o dinheiro, afinal assim dá pra roubar mais por mais tempo, e o dinheiro de Sarah foi bem investido, inclusive sendo usado para fornecer empréstimos a juros baixos para a comunidade local.

Logo Sarah Rector se tornou um problema: Ela era uma menina negra extremamente rica, como encaixar isso na sociedade? Reza a lenda que houve até uma tentativa de declarar Sarah legalmente branca, mas na prática o que aconteceu é que mesmo racistas respeitam dinheiro e poder, e todo mundo queria cair nas graças de Sarah.

Sarah crescia, ficava mais madura e interessada no mundo à sua volta. Ela se tornou um dos 4% dos americanos que possuíam um automóvel. Foi uma das primeiras a comprar uma cara e moderna câmera da Kodak.

Quando ela tentou controlar os gestores de sua fortuna na Justiça, o máximo que conseguiu foi a indicação de mais administradores. Para piorar a mãe de Sarah entrou na Justiça pedindo que ela fosse declarada incompetente, tipo aconteceu com a Britney Spears.

Tudo parecia perdido, Sarah acabou de completar 18 anos, quando no meio das disputas legais, abriu mão de todos os seus direitos e reivindicações.  Sarah Rector entregou o controle de suas finanças para dois administradores brancos. Um jornalista chegou a dar a manchete “milionária por três horas”, se vangloriando de que Sarah havia admitido que uma jovem negra era incapaz de controlar sua fortuna, e assim que fez 18 anos, entregou tudo para os brancos.

Os outros na disputa aceitaram, assinaram todos os papéis, as disputas encerradas, the end.

Exceto que era tudo parte de um plano. Os dois administradores que haviam recebido o controle da fortuna eram aliados de Sarah.

Assim que a poeira abaixou, eles retornaram o controle de tudo para Sarah, que finalmente era dona do próprio dinheiro.

Ela agora investia em imóveis, cuidava da família e mantinha vários projetos filantrópicos.

Sarah Rector chegou a ganhar o dobro do Presidente dos Estados Unidos. Com 18 anos já havia acumulado o equivalente a US$28 milhões em valores atuais. Ela se tornou uma das primeiras mulheres negras milionárias, e durante toda a vida foi esperta o bastante para se desviar de golpistas, picaretas e pedintes.

Ela dava constantes festas, com shows ao vivo em sua mansão de nomes como Joe Louis, Duke Ellington, e Count Basie. Casou-se com um ex-jogador de futebol e levava uma vida de luxo, mas discreta.

Sarah faleceu em 1967, aos 65 anos, deixando três filhos.

Parte do terreno de Sarah

Ela era ciente de como a sociedade a via, mas também sabia que a sociedade respeitava e temia poder acima de tudo. Certa vez, quando um de seus irmãos foi preso por policiais brancos em Kansas City, ela pegou seu carro de luxo, entrou na delegacia com suas roupas importadas e falou quatro palavras, o suficiente para resolver tudo e garantir a liberdade do irmão, com direito a pedidos de desculpas:

“Eu sou Sarah Rector”.

Fontes:

How Sarah Rector Became The ‘Richest Black Girl In America’ In The Early 20th Century



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