Operação Corona ou: Vamo emputecê os alemão

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Calma, é assim mesmo. O piloto desse Ju88 desertou pro Chipre, o avião foi pintado com cores americanas, e enviado pros EUA pra análise.

A Batalha da Inglaterra já havia acabado faz tempo, mas os ataques esporádicos a alvos no Reino Unido continuavam. O que não era fácil, em uma época sem GPS, com navegação inercial ainda em sua infância e radiofaróis não confiáveis, muita gente se perdia.

Felizmente para um piloto alemão de um bombardeiro Junkers 88 aquela noite teria final feliz. Guiado pelo controle de vôo, ele foi conduzido até um aeroporto na França ocupada, pousando em segurança.

Apenas para descobrir que havia pousado na base aérea de Woodbridge, em Essex, Inglaterra. Ele havia sido enganado pela Operação Corona.

Nos anos 1940 não era fácil se comunicar com a base em vôos muito longos. Comunicação direta era impossível, por causa da curvatura da Terra. Dependia-se de ondas curtas, refletindo na atmosfera, o que é algo não-confiável e que funciona bem melhor de noite.

Era comum transmissores na Europa enviarem constantes mensagens para os aviões em missões sobre o Reino Unido. Essas mensagens podiam ser atualizações de alvos, boletins meteorológicos, resultados de outros ataques.

Os ingleses inicialmente interferiram nos sinais inimigos, o que apenas fez com que os alemães mudassem a freqüência dos rádios. Era preciso uma forma mais sutil, eficiente e canalha de complicar a vida dos nazistas.

Surge a Operação Corona

Seu transmissor principal, codinome Aspidistra, comprado da RCA americana pelo equivalente a 6 milhões de Libras Esterlinas em valores de 2022. A potência era de uma grosseria só: 600KW. Para dar uma idéia, uma estação de rádio AM nos EUA na época era proibida de transmitir com potência acima de 50Kw.

Composto de 3 torres de 110 m de altura, em um morro 195 m acima do nível do mar na floresta de Ashdown, o transmissor ia longe.

Conjunto de antenas do transmissor Aspidistra

O objetivo em teoria era simples: Ao invés de jogar ruído no sinal, eles entrariam como se fossem os transmissores oficiais das forças armadas nazistas, repassando informação legítima, misturada com dados falsos, mudando alvos de lugar e até ordenando que os bombardeiros voltassem para suas bases.

O primeiro uso da Operação Corona foi na noite de 22 para 23 de outubro de 1943.

Um ataque noturno da RAF tinha como alvo o centro industrial de Kassel, Alemanha. Quando os aviões se aproximaram a ponto de detectar as comunicações do controle de vôo das defesas alemães, anotaram as freqüências usadas e repassaram para a base. Os operadores em Aspidistra tinham apenas dois minutos para configurar seu transmissor, “entrar na rede” como um transmissor legítimo e esperar que os alemães não desconfiassem de nada.

Quando o ataque começou, aumentaram a potência da transmissão, encobrindo o sinal alemão. Caças noturnos eram direcionados para alvos inexistentes, informações erradas eram transmitidas o tempo todo, e os alemães ficaram bem, bem confusos.

Desse dia em diante as transmissões eram constantes, mas como os alemães eram enganados? Alemão em geral não é burro, reconheceriam fácil um estrangeiro no rádio tentando imitar o sotaque.

Para sorte dos aliados, os próprios nazistas forneceram os meios para resolver esse problema: Antes da Solução Final, eles incentivaram o êxodo de judeus, que deixaram a Alemanha para se refugiar em outros países, incluindo o Reino Unido.

Havia um excelente plantel de judeus, alemães de nascença, perfeitamente imersos na cultura, falando o idioma como nativos (até porque os eram) e, melhor ainda, putos com os nazistas.

Eles receberam treinamento como operadores de rádio, bem como aprenderam os procedimentos e linguajar técnico. O resultado foi excelente, eles agiam em missões defensivas e ofensivas, e para desespero dos operadores alemães, os pilotos caíam como patinhos.

Há relatos de um operador especialmente talentoso, que aprendeu a imitar a voz e sotaque de operadores nazistas. Em um dos casos o nazista perdeu a compostura, começou a xingar o judeu para que ele saísse do canal.

O operador judeu, com a voz mais calma do mundo, falou que aquele OBVIAMENTE era o operador inimigo, falso, pois um nazista de verdade jamais perderia a calma daquele jeito.

Desesperados, os alemães apelaram para uma solução inusitada: Eles trocaram os operadores homens por mulheres, pois os ingleses jamais pensariam em colocar mulheres em operações de combate.

Infelizmente (para os nazistas) havia milhares de moças judias com sangue no olho doidas pra se voluntariar e continuar com a Operação Corona.

O equipamento da Corona era usado para outros fins, incluindo fingir que eram estações de rádio civis alemãs. Em determinados momentos do dia os ingleses começavam a transmitir na freqüência da rádio que queriam simular. Como o sinal deles era muito mais forte, atropelavam os pobres nazistas. Sem poder fazer nada, eles escutavam locutores inimigos dando notícias, tocando músicas, seguindo com a programação normal.

Som na caixa, D’Jerry.

Exceto que no meio saíam notinhas desmoralizantes, nada descarado estilo Rosa de Tóquio, “ianques malditos vocês vão morrer”.  Era bem mais sutil, derrotas sendo tratadas como derrotas, não como retiradas estratégicas, e a economia sendo noticiada de forma bem menos otimista.

Bem menos tranqüilidade tiveram os tripulantes do Charuto Voador, apelido dado aos bombardeiros Lancaster usados em guerra eletrônica, de 1943 em diante.

Sabe-se lá como encheram os aviões com transmissores de rádio e outros equipamentos eletrônicos, com a missão de acompanhar os esquadrões em missões de ataque a alvos do Eixo. Os Charutos Voadores, identificáveis pelas longas antenas, levavam operadores voluntários, em geral judeus nascidos na Alemanha, eles conseguiam identificar as transmissões inimigas, determinar quando eram falsas, e ouvir em meio à estática as ordens reais.

Com isso eles podiam marcar quais freqüências estavam sendo usadas, acionar um dos transmissores a bordo e gerar ruído, inutilizando aqueles controladores alemães num raio de 50 km.

Infelizmente os charutos voadores se tornaram alvo prioritário.

O 101º Esquadrão, que agrupava esses Lancasters especializados em guerra eletrônica, voava em todas as missões, às vezes 27 aviões de guerra eletrônica acompanhavam as esquadrilhas de bombardeiros. Com isso as perdas eram imensas, no final da guerra o 101º perdeu 1094 tripulantes, e teve 178 homens feitos prisioneiros.

Essa opção definitivamente não era um passeio, caso os alemães descobrissem que eles eram judeus, seriam interrogados e torturados até a morte. Mais de um tripulante abatido cometeu suicídio, e isso não tem nada a ver com depressão.

No final, o simples fato de falar alemão corretamente no rádio salvou incontáveis vidas, deixando a lição de que você pode ter um importante impacto na História, sem precisar de tecnologia de ponta ou mesmo um selinho de verificado.

Fontes:


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