Christmas Crackers – Uma tradição tão bizarra que nem a gente importou

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Antes de entender os Christmas Crackers, precisamos entender os ingleses, o que não é muito fácil.

Quem me conhece sabe que eu tenho uma certa queda pelo Reino Unido. Eu adoro o pragmatismo britânico, é uma espécie de fatalismo russo, sem o drama existencial. Eles praticam humor autodepreciativo como ninguém, resultando em pérolas como a clássica cena do extintor, em IT Crowd:

Além disso os britânicos adoram suas esquisitices. Há uma lenda de que quando os corvos abandonarem a Torre de Londres, a Monarquia cairá. Foi criada então uma guarda especial para proteger os corvos, e quando um some eles fazem buscas.

Outra tradição esquisita: Uns 600 anos atrás um grupo de desocupados em Cooper’s Hill, perto de Gloucester decidiu competir subindo um morro e descendo rolando… um queijo. A idéia idiota pegou, evoluiu e hoje é um grande grupo de desocupados rolando ladeira abaixo atrás de um queijo.

Nem Hitler conseguiu parar com a tradição, durante o racionamento na 2ª Guerra Mundial, um cilindro de madeira, com um pedaço simbólico de queijo em seu centro foi usado. A turma do politicamente correto tentou cancelar a Corrida de Queijo em 2009, alegando falta de segurança, mas o povão não ligou. Só o Coronga conseguiu cancelar o evento em 2020 e 2021, mas 2022 voltou com tudo.

Essa atitude inglesa, essa queda pelo esquisito fica evidente em séries como Absolutelly Fabulous, Black Ader, The IT Crowd, Fawlty Towers, Top Gear e muitas outras, mas o que mais me fascina são as pequenas esquisitices do dia-a-dia, e mesmo hoje ainda descubro novidades, como os bizarros… “Christmas Crackers”.

Esses “Estalinhos de Natal” são algo que você nunca viu no Brasil, ou mesmo nos filmes americanos de onde importamos tanto de nossa tradição natalina, mas eles são comuns e triviais no Reino Unido e em algumas de suas ex-colônias, como África do Sul, Austrália e Nova Zelândia.

Como funciona o brinquedo

O Estalinho de Natal parece uma bala artesanal, são dois cilindros de papel/papelão, embrulhados para presente. Tradicionalmente você veste um chapéu de papel, e com um amigo ou parente cada um puxa um lado do estalinho.

Uma tira de papel tratada com Fulminato de prata (AgCNO) ou mercúrio é atritada contra a superfície do cilindro, detonando com uma pequena explosão. Ao mesmo tempo os cilindros se separam e um brinquedo ou lembrancinha caem, às vezes com papéis trazendo mensagens natalinas ou piadas.

Quando o papel se rasga, um dos lados fica com a parte maior, que contém os brinquedos.

O vídeo acima mostra uma fábrica de Christmas Crackers em 1950. Nela usam uma máquina de Raio-X para inspecionar os brinquedos, e rapaz, como deve ter morrido gente de câncer por causa disso. O operador usa zero proteção.

Nesse ponto você deve estar imaginando qual a rebolada filosófica usada pra encaixar esses estalinhos com a mitologia cristã e o Natal. Só que dessa vez a Igreja está tão inocente quanto os garotinhos que eles gostam de dedilhar. Os Christmas Crackers não têm nada a ver com a tradição natalina, foram inventados em 1847 por Tom Smith, um confeiteiro especializado em bombons, ou em inglês (eu sei) bon-bons.

Ele inicialmente criou os negócios como uma embalagem premium, incluindo mensagens de amor, paz e outras groselhas que a gente repete no Natal, quando não está na cozinha falando mal dos parentes que votaram naquele desqualificado.

A concorrência logo imitou a embalagem, mas Smith teve a idéia de introduzir um estalo, um “crack” quando o Estalinho de Natal era aberto, isso se tornou um diferencial. Eventualmente os bombons foram retirados, brinquedos, bijuterias e outras lembrancinhas baratas foram introduzidas (epa!), a moda dos Christmas Crackers pegou e o resto, como dizem, é História.

Exceto nos Estados Unidos.



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