Velma: Tão ruim que você nem vai notar as colegiais peladas, mas eu gostei.

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Oh no…

Não quero bancar o Hipster, mas eu odiei Velma antes de ser moda. Não pelas mudanças em si. Eu sou fã de Scooby Doo, como todo mundo que nasceu nos anos 70/80, mas nunca fui fã nível otaku, embora admita que tenha usado a Daphne como fonte de inspiração várias vezes, até crescer e perceber que a Velma era bem melhor.

Mesmo assim, como bom nerd, fiquei ofendido com as mudanças anunciadas. Mindy Kaling, a Lena Dunham que passou do ponto, é uma pessoa insuportável, passa o tempo todo falando que o UNIVERSO é racista por ela só ganhar papéis de indianas baixinhas e gordinhas, ao invés de perceber que ela é uma indiana baixinha e gordinha.

Ela é produtora executiva da série, faz a voz da Velma e está sendo culpada por todas as mudanças. Dizem que ela não tem culpa, mas como é a cara da série, agüente.

Quanto às mudanças, vamos lá: Esta é a nova Scooby Gang:

Então tá.

Velma agora é de origem indiana. Salsicha não é mais salsicha, atende pelo seu nome de batismo, Norville. Ele virou negro, e como minoria, tem que dar exemplo, então é um CDF com aversão a coisas como maconha. Ele é filho da diretora da escola, seus pais são um casal interracial, claro.

Daphne é lésbica (nenhuma reclamação aqui) e sabe-se lá o motivo (mentira, sabemos sim) agora ela é oriental, mas manteve os cabelos ruivos, because of reasons. Ela é filha adotiva de um casal de lésbicas interraciais. O casal, não as lésbicas.

Uma dupla de duas tiras.

Fred continua branco, mas de mauricinho do Leblon ele agora é um adolescente inseguro, extremamente burro, incapaz de cortar um bife sozinho. Ah sim, ele tem pau pequeno e é ridicularizado publicamente por isso. Yay body shaming de quem a gente não gosta.

Velma passa o tempo todo criticando “homens brancos”, falando de privilégios, etc, etc. A série parece ter sido escrita por uma IA que foi treinada com todo o conteúdo do Tumblr. Velma é insuportavelmente lacradora, e mesmo a ala mais moderada da nerdaiada, que aceita mudanças como Heimdall ser negro (Aliens, tá valendo) e o Hank Pym não bater na esposa (graças a deus não seguiram aquele arco), está de saco cheio com a lacração.

Do outro lado, a turma lacradora, que esperava uma masturbação coletiva tipo a insuportável nova She-Ra, que graças ao Doce Lorde Satã foi cancelada, teve síncopes com Velma, fugindo para se esconder no Armário do Choro.

O primeiro episódio abre com as colegiais no chuveiro, nuas peladas sem roupa, pura sexualização, objetificação, não pode, como assim?

Nudez totalmente gratuita!

O jovem™ lacrador é uma criatura extremamente puritana. Ele impõe um monte de regras imaginárias sobre sexo, sacanagem é ruim, safadeza é objetificação e objetificação sempre é errado, mesmo quando mutuamente benéfica.

Um bom exemplo é o comercial do Primeiro Sutiã, um dos clássicos da propaganda brasileira. É uma historinha totalmente poética, da menina dando os primeiros passos para se tornar mulher.

Para o Jovem Lacrador, o comercial vai de objetificação e sexualização a até pura pedofilia, pois um dos muxibirins da Patricia Lucchesi aparece por uma fração de segundo.

O Jovem Militante é incapaz de entender o conceito de CONTEXTO. Vejamos a cena de Velma então, com contexto:

As jovens colegiais estão tomando banho no vestiário. Suas partes pudentas, suas vergonhas, tão altas e cerradinhas estão estrategicamente cobertas por espuma. No diálogo, Daphne comenta sobre como nos episódios-piloto de séries de TV eles sempre mostram muito mais cenas gratuitas de nudez e sexo do que no resto dos episódios.

Isso é verdade. No episódio-piloto de Stargate: SG1, para o canal Showtime, há várias cenas de nudez, e não falo só de peitinhos, nu frontal total. (clique, eu sei que você quer ver). Isso foi exigido pelo canal, mas depois da boa audiência os produtores conseguiram remover a sacanagem da série.

Em Velma, as meninas começam a discutir o tema, falando que sexo vende, fazem isso pela audiência. Até aqui, uma clássica discussão feminista lacradora, exceto que…

Uma delas diz que realmente gostou de uma cena “gratuita”. Daphne diz que tudo bem nudez e sexo, desde que o texto seja bom. Alguém responde “bullshit!” e fala “Você gostou pq é sexy! Admita, somos todos pervertidos!” o que desencadeia uma briga de colegiais no chuveiro, o que, admito, é bem sexy.

Essa nuance, essa discussão multilateral me pegou de surpresa. Não é algo que aconteça nas rodas de lacração, onde responsabilidade pessoal inexiste.

Ah sim, a briga é interrompida com a descoberta do corpo de uma garota sem cérebro. Eu falei que não é um desenho para crianças?

Pobre Brenda, morreu por ser gostosa.

A série usa e abusa de clichês e estereótipos, dos dois lados. Você deve ter visto, em forma de denúncia, essa imagem do Fred como Hitler:

No contexto, ele foi acusado de matar uma das jovens na escola, mas Velma não acredita, Fred é atolado demais para ser um assassino. A estratégia da defesa é mostra-como um jovem mimado e inocente. Ele aparece todo maquiado como uma bonequinha, mas se atrapalha com a chuva e acaba sem-querer na pose da foto.

A graça é que um dos transeuntes, que faz a foto, comenta: “Vejam, ele parece Hitler!” (e parece) “e não só porque nós comparamos todo mundo a Hitler hoje em dia”.

Isso não quer dizer que Fred seja boa pessoa, claro. Em uma cena Velma esbarra em Fred, e segue-se o diálogo:

“Ei, Fred!”

“Eu conheço você?”

“Sou a Velma, da escola. Você cola de mim na aula de espanhol, porque acha que eu sou mexicana.”

 “Talvez. Tenho uma doença. Só reconheço gente gata. Meu médico disse que é tipo anemia falciforme pra gente rica.”

“O nome dela é “grosseria”?

“É! Você é inteligente.”

“Obrigada.”

“Não foi um elogio.”

Daphne por sua vez é a garota mais popular da escola, filha de duas policiais, e ainda assim ganha dinheiro vendendo drogas. Isso mesmo, a princesinha ruiva é traficante.

As tropes das séries colegiais não são esquecidas, e toda a idéia de que Velma seria um espaço seguro para promover idéias lacradoras feministas quando fazem o funeral da Brenda, a primeira vítima. Pra começar, o funeral é em uma lanchonete, e depois de uma canção, o discurso:

“Era a música favorita da Brenda. E, sim, na cultura pop, quando uma garota vadia é assassinada todo mundo fica tipo: “Bom, ela deve ter merecido.”

Mas é por isso que a Brenda era tão especial. Ela era rara vadia que não merecia ser assassinada”.

Isso é errado, muito errado e me ganhou, como aconteceu com séries erradas como Little Demon, Drawn Together e Paradise PD. Eu gosto de séries que desafiam o status quo, sem medo de zoar todo mundo.

Sim, Velma usa os clichês da militância de que homens brancos são malvados, mas você já parou pra pensar que TODOS os vilões das outras séries eram homens (eventualmente uma ou outra mulher) brancos, em geral donos do parque de diversões abandonado?

Nenhum personagem na série é bonzinho, nenhum é modelo a ser seguido ou símbolo de virtude. Velma despreza Fred, mas é doida pra dar pra ele. Fred por sua vez leu um livro feminista, virou o Aliado perfeito e se apaixonou por Velma, que agora está dividida pois beijou a Daphne e isso mexeu com ela. Correndo por fora, o Afro-Salsicha, que é a única criatura quase-decente da história.

Velma, assim como o Scooby Doo original, tem uma saudável ausência do sobrenatural, e uma mais saudável ainda ausência de Scooby Loo.

A minha interpretação é que os roteiristas tentaram fazer as clássicas críticas da militância, reconhecendo os exageros, ao mesmo tempo apontando e rindo dos clichês e erros entre seu próprio povo.

O problema é que não esperavam que isso ofendesse os dois principais e mais vocais grupos, os nerds “estão estuprando minha infância”, ato esse mostrado literalmente em South Park, com George Lucas e Steven Spielberg estuprando Indiana Jones, numa representação daquele filme que ninguém gosta de relembrar.

Esse povo se ofende com qualquer mudança, mas se a nova versão é absolutamente idêntica à antiga, reclamam que é mais do mesmo. Eles preferem que a série nunca mais seja retomada, a aceitar qualquer divergência do Cânone Sagrado.

Eles viram Velma como um tapa na cara do material antigo, e há, sim, esse componente, mas ninguém saiu apagando os desenhos nos arquivos da Hanna Barbera. A Turma do Scooby, que crescemos assistindo, ainda existe.

Do outro lado a turma da lacração se sentiu traída. A idéia de desconstruir ScoobyDoo, abandonar o macho hétero cis branco que era o chefe (na cabeça deles, a Velma sempre foi a dona do pedaço) e enfiar diversidade goela abaixo dos “conservadores” saiu pela culatra.

Os personagens são gente ruim, manipuladora, esnobe. A série usa de exageros e hipérboles para encaixar as piadas, e não têm medo de abraçar o politicamente incorreto.

Em certo momento o pai da Velma a leva para sua lanchonete preferida, que freqüentavam quando ela era criança, e agora ele só ia sozinho. Velma fala que o lugar virou um strip club, o pai diz que nem tinha reparado.

Depois de um momento em que parecem estar se entendendo, o pai se afasta. Velma então sobe no palco, se agarra em um poste de pole dancing e diz estar fazendo o que toda garota ali faz: Tentar chamar a atenção do pai.

Essa gag foi usada quase da mesma forma em Drawn Together, uma série extremamente errada. Se Velma faz a mesma piada de uma série ODIADA pela turma da lacração, então merece se não meu respeito, no mínimo minha curiosidade.

Princesa Clara ganhando atenção e admiração de seu pai, o Rei.

Dito isso, não estou recomendando que você assista. Provavelmente vai odiar. Eu só fui assistir pelo Efeito Streisand, vi a Turma do Bem™ denunciando e cancelando a série, o que atiçou meu interesse.

Para meu gosto pessoal, Velma é ótima. E nem é por ter a Velma e a Daphne se pegando, isso já rolou em 892348923 imagens no rule34.xxx e na excelente paródia pornô com a Bree Olson e a Bobbi Starr, tão boa que mesmo tirando a parte do nheco-nheco, é uma episódio divertidinho de Scooby Doo.

Na cotação do IMDB, Velma está com 1.2/10 estrelas. No Rotten Tomatoes a cotação entre os espectadores é de 5%, a série é uma unanimidade.

Para irritar esse pessoal todo, acabaram de anunciar que Velma foi renovada para a segunda temporada, o que garantirá uma multidão chilicando no Twitter, fazendo tudo para acabar com Velma, exceto não assistir e ignorar sua existência.

Claro, se você ficou curioso, e quiser dar uma olhada, eu fico feliz, pois uma das coisas mais importantes da vida, é ter a mente aberta. Como a Krista.

Ah sim, o trailer:


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