O Grande Post das Salsas Aéreas de Vinhedo

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O acidente com o ATR-72 no vôo Voepass 2283 em 9/8/2024 foi uma tragédia, uma grande perda de 62 vidas inocentes, um acontecimento ainda sem explicação (o que é normal) e que encerrou um ciclo de 17 anos sem acidentes na aviação comercial brasileira. Infelizmente o que não se encerrou é a infinita capacidade de afegão médio de falar bobagem online diante de tragédias.

Salsas Aéreas

O termo “salsinha” foi cunhado por mim nos primórdios da Internet, quando falei que o comentarista de portal médio, se colocado em uma máquina de Eletroencefalograma, seria indistinguível de uma salsinha. As Salsas Aéreas surgiram quando eu não aguentei mais ler tanta besteira sobre o acidente da Air France, o vôo AF-447, em 1/6/2009. Eu acabei fazendo uma coletânea de bobagens, e respondendo. Foi o primeiro Grande Post das Salsas Aéreas. De lá para cá, tivemos vários outros:

Agora, mais uma vez, é hora de chafurdar nas caixas de gordura da Internet, aproveitar a capacidade quase infinita das redes sociais em trazer à tona o pior do cerumano, e apresentar a vocês…

O Grande Post das

Salsas Aéreas de Vinhedo

1 – Quebrando o gelo

Sim, nada como o aquecimento global para criar gelo. Não, filho, não. Faz frio lá em cima, é clima de montanha mesmo sem montanha. A 10km de altitude a temperatura chega a -50°C. Um ATR-72 tem altitude de cruzeiro de 6000 metros, com uma temperatura média de -20°C, variando de acordo com pressão, temperatura ao nível do mar, etc. Não tem nada de inédito, tanto que todo avião comercial tem sistema de degelo.

2 – O inevitável paraquedas

Toda vez isso. Vamos lá: Paraquedas são complicados. São pesados, frágeis, precisam abrir em uma sequência correta. Até hoje são a pedra no sapato da indústria espacial. A cápsula Dragon, da SpaceX, tem os maiores paraquedas em uso: São quatro, com 35 metros de diâmetro. Eles são necessários para reduzir a velocidade de uma cápsula de 7 toneladas caindo a 200km/h.

Construir um paraquedas que suporte um ATR de 21 toneladas, abrindo a 700km/h é virtualmente impossível. E mesmo que fosse viável, o paraquedas ocuparia todo o espaço interno da aeronave. Isso só funciona em animações vagabundas feitas por gente que não entende de engenharia.

3 – O que mata não é a queda, é a parada brusca

Eu queria entender realmente a cabeça do sujeito. Você está no alto do Empire State ao lado de seu companheiro de suicídio. Os dois pulam. Quase chegando no chão, você vê que seu amigo vai cair em uma lixeira em chamas. Você pensa “nossa, que sorte eu dei que vou acertar só o concreto.”

Sério, que parte de “cair de 5000 metros de altitude” o sujeito não entendeu?

4 – Vamos melhorar os Paraquedas

Deu pra perceber que paraquedas é a idéia genial que todo mundo tem, né? Esse aqui quer que ao lado de cada passageiro vá um instrutor, pra ensinar o sujeito a vestir o paraquedas, como acionar o equipamento, orientar a hora do salto…

Imagine isso em um avião caindo em espiral. Aliás, não, imagine isso em um avião perfeitamente saudável voando em linha reta sem turbulência. Ainda assim seria impossível. As pessoas levam HORAS pra sair do avião no solo. Pense em 230 passageiros tentando vestir um paraquedas no espaço de um assento de linha aérea e… tá, não pense mais nisso.

5 – Abundância de Controle

Todo acidente aparece um com essa bobagem tentando romantizar o desastre e transformar o piloto em herói. Nem que ele fosse o mais experiente kamikaze (se bem que o mais experiente kamikaze provavelmente tinha uma única missão) conseguiria mirar explicitamente em um ponto vazio na paisagem.

Ainda mais com o avião em um parafuso chato, com ZERO autoridade aerodinâmica, ou seja: Os controles não funcionam, eles dependem de fluxo de ar horizontal.

6 – Sim, mais paraquedas

Deixa ver se entendi: Ela quer um assento ejetor para cada passageiro? O povo que não afivela o cinto em turbulência vai vestir traje de vôo, capacete, cinto de quatro pontas e prestar atenção no treinamento, para não quebrar o pescoço ou perder os membros na ejeção?

E você quer que o próprio passageiro aperte um botão e acione a ejeção?

Agora eu não sei se o pior é que cada assento ejetor adicionaria 200Kg ao avião, ou o fato dessa mula esquecer que embaixo dos passageiros há um negócio chamado porão de carga.

7 – Estatísticas, não trabalhamos

Se o fato de esse ter sido o primeiro acidente na aviação comercial brasileira em 17 anos não te convence, só lamento. Fique com mais estatísticas que você é burro ou teimoso demais para entender:

8 – O Profeta

Um acidente aéreo? Isso nunca aconteceu antes, é claramente o Apocalipse se aproximando, diz a “proficia”.

9 – Chama-se rodas

Meu amigo, não conseguiram inventar um sistema de proteção que garanta absoluta segurança para cadeira de praia, de vez em quando uma quebra e machuca a gente. Você quer que algo complexo como um avião comercial seja 100% à prova de falhas?

10 – Funciona na rua…

Sal é usado nos países do Norte para prevenir a formação de gelo nas ruas; sal funciona reduzindo o ponto de congelamento da água. Em teoria jogar sal nas asas ajudaria, mas abaixo de -9°C o sal não impede mais o congelamento da água. E tem também o inconveniente de ao contrário da estrada, a asa do avião estar se movendo a uns 700Km/h, meio chato de manter o sal nela.

11 – Momento brega

Eu vi, vocês vão ter que ver também.

12- Uma máquina de matar!

Fascinante. Tudo que ele falou está errado.

O ATR-72 só é dos “anos 80” tecnicamente. Seu primeiro vôo comercial foi em outubro de 1989. Foram construídos 1217. A conta do histérico não fecha, 1,1 mortes por acidente? Me parece um avião incrivelmente seguro.

Não foram 402 acidentes. No total o ATR-72 se envolveu em 66 acidentes, com 40 perdas totais da aeronave, em um total de 532 vítimas. Em 35 anos de atividades. Uma média de 15 vítimas por ano. Como isso se encaixa na segurança do avião? Digamos que a frota de ATR-72 completou UM MILHÃO de vôos. No ano 2000.

13 – Eu quero fumar o que ela andou bebendo

Err…

14 – Tudo Física

Quem diria, era só o Maverick mandar o Goose pra traseira do Tomcat e teriam escapado…

Curiosidade: Uma manobra de rotina em submarinos é “trimar” o barco. O oficial encarregado precisa regular um monte de válvulas dos tanques de lastro para nivelar o submarino. No tempo dos barcos a Diesel uma sacanagem comum com oficiais novatos (aprovada pelo Capitão) era todo mundo que estava de folga ficar correndo entre a sala de máquinas e a sala de torpedos, na ponta do submarino.

O novato ficava desesperado, com o Capitão impaciente olhando sobre os ombros, e nada do submarino se equilibrar.

15 – Não tem nada a ver mas…

Deixa ver se entendi… ela sonhou com a cidade, sem relação nenhuma com o acidente, e não vai rezar pq o sonho não teve avião caindo?

16 – Foi comida, benhê?

Se ao menos alguém tivesse pensado nisso e criado uma posição extra na cabine, alguém com treinamento e capacitação para pilotar a aeronave no lugar do piloto… eu chamaria esse sujeito hipotético de… co-piloto.

17 – Todo santo dia!

Nossa, verdade, cai avião de médio porte TODO DIA (não, não cai). A culpa é dos políticos, que não constroem aeroportos internacionais em Jundiaí, Santa Maria, Guapimirim. E estrada é muito mais seguro. 62 mortos em 17 anos na aviação comercial é um absurdo. Viva o transporte rodoviário.

18 – Tá serto, irmão

Nossa, um perigo. Deve ser por isso que umas 200 empresas operam o ATR-72 pelo mundo, incluindo a Logan Air e a West Atlantic UK, ambas no Reuno Unido. E a irlandesa Air Lingus, com uma frota de 18 ATR-72, que o sujeito deveria conhecer, eles fazer mais de 26 rotas para o Reino Unido.

19 – hurr durr

20 – Direto do Século XIX

Nem em vacinas, forno de micro-ondas, eletricidade, carruagens sem cavalos, água encanada…

21 – Nota: Comprar guarda-chuva

Que tempestade maldita que só dá problema com o Brasil…

22 – Climatempo

Sim, vento e nuvens, inimigos MORTAIS de aviões.

23 – meninos, eu vi…

Trazido a vocês pelos menos autores de “Eu vi o avião do Eduardo Campos dar piruetas” e “eu vi o Eduardo Campos caído perto do avião e fechei os olhos dele”

24 – Verdade…

Com, certeza, ninguém, ABSOLUTAMENTE NINGUÉM está comentando sobre o acidente em Vinhedo.

25 – Lei é Lei

Infelizmente, ao contrário da mente distorcida dos comentaristas de Portal, engenharia tem que respeitar as Leis da Física. Airbag nenhum no UNIVERSO vai ajudar em uma queda de 5000m de altitude. Ah sim, o airbag do seu carro perde eficácia acima de 50km/h, existe uma coisa chamada INÉRCIA, o cérebro continua se movimentando mesmo que seu crânio pare. a 300km/h ele vira patê mesmo com airbag.

26 – Vem, Totó…

Sim, Vinhedo, o Kansas brasileiro. Especialmente os tornados imaginários a 15 mil pés de altitude.

27 – Help me if you can I’m feeling down…

Deixa ver se entendi: Os pilotos estão em um avião em pane, perdem velocidade horizontal, entram em um estol, parafuso chato, vão chamar a torre pra quê? “Alô torre, ATR-72 falando, estamos caindo sem controle” “OK ATR, torre Viracopos aqui. Estou apertando o botão mágico e resetando sua altitude e velocidade”

28 – E?

E?

29 – Momento brega 2 – a missão

Eu vi…

30 – Seu despeito está aparecendo, moço

E você continua com 18, metade deles bots. Despeitada.

31 – “seca”

Visto que dá para ouvir claramente os motores ligados, eu acho que você tem que aumentar o volume do seu celular, champs.

32 – A verdade está lá fora

Acharam MESMO que um post de Salsas Aéreas iria terminar sem alguém sugerindo, sem nenhuma base na realidade, uma conspiração mirabolante?



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