Nas últimas semanas a mídia, que adora destruir tudo que se destaca voltou suas armas contra o tal Pewdiepie, um youtubeiro sueco radicado em Londres que tem um número impossivelmente alto de assinantes, embora eu nunca tenha entendido o motivo. O canal não faz sentido, os vídeos não fazem sentido, não entendo sequer o que ele faz.
O que ele fez foi basicamente usar o Fiverr, um site onde as pessoas se dispõe a fazer qualquer coisa por US$5,00. Ele pagou dois indianos para dançar segurando uma faixa com o texto “morte aos judeus”.
A mídia sanguinária e a militância histérica entraram em modo turbo, em poucos minutos o Pewdiepie de um idiota de internet virou “literalmente Hitler”. Adicionando ironia à história, a Disney cancelou contratos com ele, o YouTube cortou privilégios, patrocinadores foram chantageados por turbas ensandecidas para cancelar participações no canal.
Do outro lado tem o grupo defendendo o Pewdiepie dizendo que era “só uma piada”. Ou que foi uma “piada ruim”. Eu discordo. Não há nada de engraçado em alardear “morte aos judeus” PONTO. E o problema é o ponto, não os judeus. Pewdiepie foi literalmente Hitler, e eu explico:
Hitler chama seus generais e explica seu Plano-Mestre, sua solução final.
“Meu plano é simples, vamos organizar o extermínio sistemático de 6 milhões de judeus”
Não fica muito diferente da História, não tem nada de engraçado. Mas vamos modificar para incluir a finalização, a punchline.
Hitler chama seus generais e explica seu Plano-Mestre, sua solução final.
“Meu plano é simples, vamos organizar o extermínio sistemático de 6 milhões de judeus e dois palhaços.”
Os generais olham, confusos, começam a sussurrar entre si, até que Hermann Göring junta coragem e pergunta:
“Mas mein Fürher, por quê dois palhaços?”
Hitler se vira para o ajudante de ordens
“Não falei, Hans? Ninguém liga pra 6 milhões de judeus”
Nenhuma piada funciona sem finalização. Um dos preceitos básicos do humor é a reversão de expectativa. Uma que sempre funciona se for bem contada em mesa de bar é aquela em que se a conversa resvalar por Segunda Guerra, a gente solta a bomba na mesa:
“Meu avô morreu em Auschwitz”
O timing tem que ser perfeito, você deixa o silêncio incômodo crescer, crescer aí completa:
“Caiu da torre de metralhadora dele, coitado”
O problema do caso do Pewdiepie é que a gracinha dele foi aleatória, sem estrutura. Não adiciona nada a piada pedir a morte dos judeus, os caras poderiam estar com uma faixa escrito “Salada não leva a nada” e seria igualmente ofensivo. Não, mentira, vegans se ofendem muito mais.
A charge acima, por exemplo, pode ser considerada ofensiva e de extremo mau gosto, e num mundo ideal eu estaria recebendo milhões de hits de judeus ofendidos promovendo boicotes e visitando o site para ver o absurdo que eu postei. Infelizmente para mim judeus são inteligentes demais para cair nessa.
A charge em questão é de um sujeito chamado Justin Glick, que pelo sobrenome ou é um macaco espacial púrpura ou é judeu, e tem uma explicação.
Em 2007 um jornal iraniano anunciou um concurso de cartoons sobre o Holocausto, queriam escolher os quadrinhos mais ofensivos, como uma forma de atacar Israel. O pessoal da tribo ficou PUTO. Chama do que quiser, persegue, pogromeia, mas não vem querer tirar onda com humor!
A resposta foi rápida. Dois quadrinistas de Tel Aviv entenderam como ofensa pessoal e decidiram mostrar que ninguém ganha dos judeus em humor, mesmo que seja antissemita, e lançaram seu próprio concurso israelense de cartoons antissemitas. Não precisa dizer que a autozoação promovida pelos israelenses deu de 7 a 1 nos cartoons iranianos. Talvez povos que se revoltem e matem pessoas por causa de cartoons não sejam bons em entender humor.
Então temos dois pontos fundamentais para entender humor: Contexto e Reversão de Expectativa. A bobagem do Pewdiepie carece dos dois. Parem de defender dizendo que foi uma piada sem graça. Não foi uma piada. Fazer alguém escorregar em uma casca de banana no escuro não tem graça.
No marromeno Duro de Matar 3 o vilão faz John McLane passar por situações constrangedoras. Na mais engraçada delas o herói é obrigado a andar com uma placa “I HATE NIGGERS”… pelo Harlem.
A cena é ótima, a incredulidade e indignação das pessoas em volta são deliciosas, e como nós temos o contexto, não ficamos com raiva do Bruce Willys, sabemos que John McLane não é racista.
O que Pewdiepie fez foi tirar o sujeito do Harlem e colocar em Manhattan. Isso mata a piada antes de ela nascer. Não há humor no que ele fez. E isso, assim como matar dois palhaços, é imperdoável.