A Loura de Schrödinger – Xuxa, certa e errada ao mesmo tempo

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Capa A Loura de Schrödinger - Xuxa, certa e errada ao mesmo tempo
CERTEZA que eu uso óculos por causa dessa capa.

Os Anos 80 foram bem servidos em termos de símbolos sexuais, mas ninguém atingiu picos tão altos quanto a dupla Xuxa e Luiza Brunet. Ambas chamaram a atenção de Pelé ao mesmo tempo, durante a produção de uma capa da revista manchete. O Edson chegou primeiro na Luiza, mas ela já estava casada. Sobrou pra Maria.

Depois que começaram a namorar a Xuxa, muito bem aconselhada por Pelé deu uma guinada na carreira, começando o caminho que a levou a ser por décadas um fenômeno nas manhãs da Globo. Pelé por sua vez começou uma reescrita do passado da moça, comprando os negativos de seus ensaios de nu. Uns dizem que foi por ciúme, outros que era estratégia, e teria funcionado, se não fossem esses garotos intrometidos, esse cachorro idiota e a Internet. 

A Xuxa sempre se preocupou com sua imagem, tentando a todo custo reverter suas decisões menos inteligentes, como participar do filme Amor Estranho Amor, de Walter Hugo Khouri.

Lançado em 1982, o filme é uma droga, mas não merece as acusações que sofre. Aliás, o filme em si não é acusado de nada. O brasileiro, em sua sanha de destruir os ídolos que cria, conseguiu o feito de acusar a Xuxa de pedofilia, quando era menor de idade atuando em um filme, sem nenhuma, NENHUMA consequência respingando para o diretor, a produção ou mesmo outra atrizes, como Vera Fischer e Matilde Mastrangi, que também fizeram cenas de sexo com o tal garoto.

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Xuxa e Vera Fischer. Curiosamente a que fez a mãe do moleque e desvirgina o bacurinho sofre ZERO críticas.

Amor Estranho Amor é um filme ruim, chato. Se me permitem roubar o slogan de Top Gear, “Pretensioso mas lixo”. O único grande feito é ter uma Xuxa de 17 anos (alguns dizem 16) semi-nua. A temática não tem nada de original, nem de escandalosa, ao menos para a época. Brooke Shields aparecia nua e transando em Lagoa Azul e Amor Sem Fim. Tecnicamente todo mundo em Porky’s era de menor. Phoebe Cates em Paradise e em Gatinhas e Gatões saindo da piscina tirando o bikini vermelho forjou caráter.

Filmes ousavam e esticavam o limite. Pretty Baby, com Keith Carradine, Susan Sarandon e Brooke Shields é uma obra-prima de Louis Malle e um filme que ninguém que não seja um pervertido ousa assistir duas vezes. Tipo Lista de Schindler.

Reginaldo Faria não foi perseguido por camponeses com tochas, apesar de ter feito A Menina do Lado, com uma Flávia Monteiro muito pelada com 14 anos. Tudo pela Arte!

Como todo mundo menos a Xuxa faz arte legítima, e ela é a tarada? Ah, esqueci. Ela é bem-sucedida. Como dizia Tom Jobim brasileiro entende o sucesso alheio como ofensa pessoal. É preciso achar algo que “prove” que a Xuxa é falsa ídola de pés de barro.

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Mesmo nos Anos 80 pipocavam histórias apócrifas de orgias com paquitas (mnham!) e cerimônias satânicas no porão da mansão da Xuxa. Ela, mui acertadamente, se defendia e processava os jornais evangélicos que espalhavam essas bobagens, mas aí a loura começou a perder a mão.

Ela entrou na Justiça para tirar das locadoras o Amor Estranho Amor. Censura pura e simples, agora que o filme não se alinhava mais com sua carreira. O resultado, claro, foi dar muito mais destaque a um filme esquecível do que ele jamais teria. Na minha locadora ele não parava na prateleira, mesmo (e principalmente por) estando proibido.

Com a chegada da Internet a situação pra loirinha ficou pior, entende? Imagens do filme apareceram em fóruns e sites. A banda larga fez com que cenas do filme chegassem aos quatro cantos das interwebs.

Em 2010 ela entrou com uma ação na Justiça contra… o Google. O objetivo era impedir que buscas por seu nome retornassem imagens do filme. A ação de novo só serviu para chamar atenção para o filme. Não só ele está disponível na íntegra no YouTube como há centenas, talvez milhares de vídeos “denunciando”, com aquele veneno que só o brasileiro invejoso consegue ter, a “pedófila” Xuxa. Como sempre ignoram as outras atrizes do filme, e o fato de ser UM FILME.

Agora a 1a Vara Cível da Barra da Tijuca julgou improcedente a ação.

“O juiz Arthur Eduardo Magalhães Ferreira seguiu a linha da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e negou a ação movida por Xuxa, estabelecendo que o direito das pessoas à informação deve prevalecer sobre eventual pretensão da apresentadora de dificultar a propagação do conteúdo na web”

Tirar conteúdo da internet é como remover xixi de piscina, se você acredita em homeopatia. Quanto mais você remove mais potencializado fica o restante. Logo aquilo que todo mundo tinha acesso e ninguém ligava se torna raro e desejado. Veja se alguém procura por “Miley Cyrus Pelada”.

A Xuxa vive em um mundo de faz-de-conta, sendo praticamente o nosso Michael Jackson? Aparentemente. Ela tem o direito de apagar o passado, reescrever a História e apagar as partes que não gosta? Não.

Só que nós também NÃO temos o direito de julgar acusar apontar o dedo e gritar histericamente exigindo a cabeça de uma mulher que quando era uma criança de 16/17 anos foi convencida a fazer um filme ruim, junto com algumas das maiores estrelas de seu tempo, e 33 anos depois ainda é perseguida por isso.

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