Essas atrizes nunca foram vítimas e você se preocupou à toa

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Tom Clancy Costumava dizer que a ficção precisa fazer sentido, a realidade não. É verdade, e Hollywood com o tempo criou uma série de regrinhas que parecem naturais mas estão longe de representar a realidade. Nem falo de som no espaço, mas coisa bem mais simples. Em filmes não importa quão distante a câmera esteja de uma explosão, o som é imediato, quando na realidade a gente vê a explosão muito antes do som chegar, dependendo do tamanho da explosão. A velocidade do som é de somente 300m/s então uma explosão a 3Km vai levar 10s para ser ouvida, como você pode comprovar neste vídeo na China:

O curioso é que se o cineasta tentar fazer algo realista, o público reclama. Helicópteros por exemplo. Todo helicóptero dando partida em filme tem o mesmo barulho de um Bell 46, o usado em M*A*S*H, problema é que aquele barulho era característica exclusiva do modelo, por causa da correia de transmissão.

Armas também têm características peculiares em filme. Na vida real são máquinas precisas e lubrificadas, no cinema toda pistola é um monte de peças presas por barbante, chacoalhando e fazendo barulho.

Essas são algumas das tropes reais, mas o Cinema tem algo mais curioso ainda: As tropes inexistentes. A mais divertida delas: A idéia de vilões de cinema mudo torcendo bigodes e amarrando donzelas inocentes em trilhos de trem.

Você viu isso um milhão de vezes, tem um monte de filmes mudos com essa cena, é exagerado, bem a cara da época, mas há um pequeno detalhe que quase ninguém sabe: Isso nunca foi usado em filmes mudos. Ou melhor, foi, mas como comédia.

O que a gente chama de clichê, o que a gente acha que era um recurso brega e apelativo já era pra eles também.

Essa trope de mulheres amarradas em trilhos não começou no cinema mudo, ela vem da literatura. Apareceu pela primeira vez em sua forma atual no conto Captain’s Tom Fright, de 1867, mas no teatro surgiu na peça O Engenheiro, de 1863. O conceito só foi plenamente desenvolvido em 1867, na peça Under the Gaslight, e para desespero da galera que vê sexismo em tudo, a vítima amarrada aos trilhos era um homem.

Lembre-se, trens ainda eram novidade, a primeira linha de locomotivas a vapor ligando Liverpool a Manchester tinha sido inaugurada em 1830. Trilhos em perspectiva, com fumaça no palco e lonas com locomotivas desenhadas eram efeitos especiais incríveis pra época, tanto que em 1868 em Londres nada menos que cinco peças de teatro diferentes usavam do recurso dramático de damas (e provavelmente cavalheiros) amarrados a trilhos.

Quando o cinema apareceu, a trope já estava cansada, tanto que seu primeiro uso em filme só foi acontecer em 1913, em Barney Oldfield’s Race For a Life, e como vivemos no futuro, dá pra ver o filme original aqui:

 

Ele é… uma comédia. Ele brinca com os clichês que já eram clichês em 1913, como vilões atrapalhados mexendo em bigodes e… mocinhas indefesas amarradas em trilhos. Nunca foi a sério no cinema, Quando não era diretamente parodiado, era subvertido como em Teddy at the Throttle, de 1917, um filme onde a Gloria Swanson é uma mocinha chutadora de bundas com um mocinho inútil.

Ela é presa aos trilhos de trem pelo vilão, usa um apito para chamar o cachorro, que acorda o mocinho e ambos tentam salvar Gloria, que no final salva a si mesma cavando um buraco debaixo dos trilhos e escapando do trem. Sim, tem no tubo, minuto 20 em diante:

Isso tudo não quer dizer que a trope não exista de forma independente. Na televisão e no cinema modernos ela de vez em quando é usada, e convenhamos é a base de metade das armadilhas em que cai James Bond. A graça é que apesar de todo o discurso de ser algo que deprecia mulheres, nunca foi.

Agora a cereja do bolo: Várias pessoas já morreram assim. Em casos onde claramente a vida imita a arte, gente ruim tentou e conseguiu matar amarrando vítimas em trilhos de trem.

Em 1874 um francês de nome Gardner foi roubado e amarrado a um trilho de trem nos EUA. Ele quase conseguiu se soltar, mas o trem arrancou sua perna. Ele morreu no hospital. No total entre 1874 e 1910 foram seis vítimas mortas dessa forma, variando entre 13 e 40 anos. Curiosamente, todos homens.

Aparentemente os vilões de antigamente tinham limites quanto a imitar a ficção.

Fonte: TV Tropes



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