O blog URL Sinistras postou um libelo contra a profissionalização da blogosfera. Não deixa de ser uma bela defesa apaixonada, mas no momento em que o texto apela para argumentos como:
Alguma coisa que realmente pudesse justificar a tal “necessidade” (ou mesmo uma expectativa) de fazer dinheiro a qualquer custo com algo que, a princípio, deveria estar sendo feito por puro prazer, como um Hobby.
Fica claro que a idéia de profissionalização não foi entendida. Bolas, eu sou pescador amador, nem por isso jogo bombas na Colônia de Pesca aqui perto. Acho imaturidade você se irritar por alguém ganhar dinheiro com algo que você faz por diversão. Isso no mínimo tornaria execráveis a prostituição e o futebol profissional.
Felizmente o tal libelo saiu do rame-rame tradicional antiglobalizante e partiu para uma finalização que muito jornalista profissional não consegue. Nada mau para um hobbysta, diria eu.
Falo das 11 entrevistas com blogueiros, sobre a profissionalização “forçada” dos blogs. Forçada digo, pois essa é a idéia que o texto passa, ao afirmar que:
Numa hora é explicitada uma necessidade (ou seria insistência?) de se ver remunerado por manter um blog. Alegam muitas vezes que “nem relógio trabalha de graça”
Isso nunca foi dito como norma, isso só é norma se o blog É seu produto, se você é um blogueiro profissional. Se não é, nada disso se aplica. Eu dirigo por necessidade e por prazer. Um motorista de ônibus, depois de trabalhar o dia inteiro, acharia ofensivo alguém dizer que dirige de graça, por prazer.
Mesmo assim, as entrevistas ficaram excelentes. Falaram ao URL Sinistras:
- Fabrício Zuardi, Blogueiro.
- Cris Dias, Blogueiro.
- O Velho, Blogueiro.
- Charles Pilger, Blogueiro.
- Janio Sarmento, Blogueiro.
- Anderson Kenji, Blogueiro.
- Expedito Paz, Blogueiro.
- Nemo Nox, Blogueiro.
- Ronaldo Melo Ferraz, Blogueiro.
- Fábio Seixas, Blogueiro.
- Edney Souza, Blogueiro.
O resultado, que você pode conferir lendo os textos (recomendo!) é que em sua grande maioria a idéia de profissionais vivendo diretamente de blogs já é uma realidade, e aceito pela maioria.
O Edney, que segundo más línguas tira mais de R$35 mil com seus sites, é um bom exemplo disso.
O Charles inclusive deu uma das melhores entrevistas. Questionado sobre o uso de técnicas de SEO e seu efeito na credibilidade de um blog, respondeu que:
Não sei se o uso de técnicas de SEO afetam a credibilidade de um blog, até porque dois blogueiros podem usar as mesmas técnicas só que um é um cara sério e outro não.
Eu concordo plenamente. E mais, declaro aqui que o Charles roubou um post que eu ainda não escrevi, ao falar exatamente o que penso:
O caso que a credibilidade está no conteúdo do post. Sabe quando você vê um post dizendo “esse livro é muito bom, maravilhoso, deve ser lido” e não se aprofunda, faz uma resenha que não acrescenta nada, mas tá lá o link pro afiliados do Submarino? Pois é esse o maior problema na minha opinião.
SEO SEM conteúdo é roubada. Já SEO COM conteúdo é outro caso. Tomei muita paulada ao escrever um texto contra os necrófilos que correm atrás de imagens de cadáveres, no caso da GOL, e se um post longo com uma opinião pessoal, até antipática ao visitante não é a essência de um blog, não sei o que é.
O que pude tirar do texto do URLs Sinistras é que o autor não aceita o pior de dois mundos (para ele) o blog que faz uso de SEO, comenta de vez em quando temas populares, mas tem conteúdo legítimo.
O Jânio foi perfeito ao responder uma pergunta sobre o efeito do uso de SEO na credibilidade do blogueiro.
Acho (…) que preocupar-se se o que o blogueiro escreve é bom ou não para a credibilidade dele é sinônimo de subestimar a inteligência do leitor. Ele é quem tem que decidir se um “post” esporádico falando sobre a morte do Saddam Hussein compromete a qualidade do que ele lê. Se em 407 posts 2 ou 3 comprometem o blog para um leitor, ele tem que exercer dois direitos (se quiser): me dizer o que eu fiz que o desgostou, e escolher outro feed para substituir o meu.
De todos o único que tem sérios problemas de aceitar que algumas pessoas podem viver do que escrevem é o CrisDias, que declarou com todas as letras:
O cara deixar de blogar sobre os assuntos que eu gosto e começar a falar sobre Big Bróder ou Sandy Nua só pra ficar bem no Google. Mas aí azar o dele, eu páro de ler.
Tem blog hoje em dia (cof contraditorium cof) que só sabe falar de monetização e AdSense.
Primeiro de tudo, estimo melhoras para a tosse. Segundo, só lamento.
Acho que todos que acompanham o Contraditorium entenderam o propósito do blog: Repassar minhas idéias, minhas opiniões e tudo que aprendo, enquanto me torno o primeiro blogueiro profissional do Brasil. Ou ProBlogger Profissional, como bem definiu o MrManson. Um pseudo-intelectual diria que é um blog antropofágico, me alimento de meus leitores (sem safadeza, por favor) e seu feedback sobre o que escrevo gera novos textos, que por sua vez geram mais feedback, e por aí vai.
No meio do caminho outros se juntam, lançando blogs, retomando antigos projetos parados, dado sugestões e corrigindo eventuais besteiras minhas. Com isso tenho uma boa base de leitores com interesses e precupaçõe semelhantes.
Estamos tendo problemas com o AdSense? Eu falo do AdSense. Criei uma pequena modificação que aumentou o faturamento do Buscapé em 4 ou 5 vezes? Eu divulgo. Acho que blogs pessoais podem sucumbir diante da visitação, e reclamo de como gostaria de achar uma alternativa? Eu publico. Recebo uma sacaneada com o Kibe? Eu publico. Descubro que a Cicarelli mentiu? Eu publico.
Ah, mas falar da Cicarelli é SEO. Desculpe, Cris, eu devia ter ficado calado durante o affair com o YouTube.
Mesmo assim vou continuar. Vou falar sobre posts roubados, vou falar sobre a minha timidez, vou falar que leitores fiéis dão credibilidade mas dinheiro vem dos paraquedistas (o URL Sinistras considerou isso heresia tão grande que deu até trackback) e vou falar do que mais eu quiser.
Sabe porque? Porque hoje eu vivo do que eu escrevo, e se isso acontece, é porque alguma coisa estou fazendo direito.
Eu sei que isso pode soar ofensivo, Cris, mas algumas pessoas efetivamente vivem de escrever. Eu mesmo já passei alguns bons anos assim. Duvida? Clique na imagem abaixo, meu livro de Linux ainda está disponível no Submarino.
Pois é, Cris. Para mim não faz diferença. Seja em livros, seja em blog, eu ganho a vida escrevendo. Pretendo voltar aos livros, mas pessoalmente prefiro blogs, o retorno dos leitores é muito mais imediato, ganho em agilidade e no que o Sérgio diz ser a essência de um blog, conversações.
Acho que nem você trabalha com dois pesos a ponto de dizer que eu sou uma prostituta por ganhar dinheiro com blogs e um escritor por ganhar dinheiro com livros. Então, só posso concluir que você está assumindo uma pureza nos blogs que os diferencia de toda e qualquer outra forma de comunicação. Jornalistas podem ganhar dinheiro escrevendo, o Paulo Coelho pode, o cara que faz o Pensamento do Dia da Rádio Difusora de Caicó pode. Blogueiro não.
Desculpe, mas blogs não são tão especiais. Blogueiros profissionais não são mais do que jornalistas, escritores, colunistas. Não somos melhores que ninguém. Não nos considero melhor nem que gente que (cof cof – isso pega) diz ser contra blogs profissionais mas ganham dinheiro hospedando blogs.
Você diz que não tem absolutamente nada contra a idéia de receber dinheiro por blogar, mas pelo visto só aceita o ganho do blog como resultado indireto.
Desculpe, pela última vez. Eu sou um profissional da escrita, não escrevo pra arrumar emprego ou pra vender hospedagem. Escrevo porque é o que sei fazer melhor. me orgulho de meus ganhos diretos, e achei o máximo, no post onde mostrava que o modelo de assinatura de blogs não é viável, ter leitores me desmentindo, dizendo que sim, pagariam R$10,00 por ano para ter acesso ao conteúdo premium.
Esse é meu modelo. Funciona. Desculpe (ok, essa foi a última). Nunca disse que é O modelo que todos devem seguir. Já defendi abertamento que muitos blogs são felizes sem monetização.
O Fábio Seixas é um bom exemplo. Seu objetivo é “criar notoriedade“, o que faz muito bem, redirecionando a mesma para seus outros negócios. (Curioso como a acusação de “ego trips” do URL Sinistras não foi levantada, mesmo depois do termo “questionável” “criar notoriedade”. Acho que faltou isenção, mas quem se preocupa com isenção em blogs é o CrisDias.)
Não há modelo errado. O que há é implementação errada. Fora isso, há apenas medo e preconceito. Tire esse peso de seu coração, Cris. Abra-se para o novo. Aceite a idéia de que é possível ter o melhor de dois mundos, um blog que agrade ao Google e aos Leitores.