O Google e os Invisíveis

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invisible O Google e os Invisíveis

Temos a mania de achar que a Internet engloba tudo e todos, que se algo não está no Google, não existe. Só que o mundo é bem maior que a Internet, e isso vale mesmo para quem está até trabalhando com ela. Mas não é assim que a banda toca.

Ontem, depois de um excesso de Gin-Tônicas resolvi pesquisar no Google por uma certa criatura, pura curiosidade mórbida. Ela não era nenhuma eremita, trabalha com informática, em uma grande empresa, com email, icq e MSN. Deveria ter algum traço online de sua vil existência.

Não achei nada. NADA.

Fiquei curioso, e comecei a pesquisar por uma outra pessoa, que eu sabia ser absolutamente avessa a tecnologia, e que não vejo faz tempo. Nada. Nem um homônimo.

Para as ferramentas de busca, que indexam uma razoável fração do conhecimento humano, essas pessoas não existem.

Sendo assim, se eu rapidamente consegui achar duas pessoas, vivas, da minha geração, morando em uma das maiores cidades do pais, mas que NÃO EXISTEM na Internet, imagino quanta gente também é invisível ao Google.

Dessa forma, vai por terra a idéia de que a Internet é, de alguma forma, representativa da sociedade. Ela no máximo representa um grupo pequeno e distorcido, e com muito pouco esforço é possível existir completamente à margem dela. É gente que vive, razoavelmente bem, sem Google, sem email, sem perfil no Orkut, sem conta no Flickr e que se relaciona com gente igualmente desconectada.

Sim, pois do contrário mesmo que você não seja um interneteiro de marca maior, se algum amigo for, logo, logo você estará sendo citado em algum blog, fotolog ou coisa que o valha. Aí, meu caro, babau, caíste na rede.

Será que estamos criando uma divisão, “nós” e “eles”? Reencontrei recentemente uma criatura cuja inabilidade tecnológica chega a ser engraçada. Não usa MSN por não ter idéia de como criar uma conta. Obviamente não sabe usar o Google. Manda emails uma vez a cada 3 dias com regularidade religiosa e quando tenta enviar um SMS, manda sempre 3. Iguais. Em seqüência. Essa também não existe online. Não assina listas, não tem orkut, não é referenciada por terceiros, não aparece nem nas famigeradas listagens de resultados de concurso público, o último bastião de onde achar um nome online.

Será que a crescente facilidade de uso da tecnologia irá absorver esse pessoal, ou eles fugirão da tecnologia, como sempre fizeram?  Debates sobre inclusão digital perdem até o sentido, quando há um contingente que diz “não, obrigado, vire esse dedo pra lá”.  Teremos um grupo que até usa a Internet, profissionalmente, mas fora do expediente só existe no tal “mundo real”.

Eu conseguiria, claro, viver nem tecnologia, mas de forma alguma é algo que eu almeje. A idéia de limitar geograficamente as pessoas que posso xingar, elogiar, brigar ou me apaixonar muito me deprime. A internet me deu uma liberdade que nunca existiu antes,  eu já viajei 10.000Km para o casamento de um amigo que nunca havia visto ao vivo. Se isso não é uma evolução, não sei o que é. Só sei que tenho muita pena de quem se priva dessa ferramenta. Não consigo achar que estejam ganhando algo fazendo isso.

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