Quando eu estava no colégio uma colega apareceu com uma revistinha, falando sobre penpals. Era um serviço onde você preenchia uma ficha, enviava uma carta para os caras, eles iriam achar alguém que se encaixasse e passariam seu endereço para a pessoa.
Se tudo desse certo em alguns meses você receberia uma carta de alguém que nunca viu antes, tentando iniciar contato, em busca de uma amizade no exterior.
Era uma coisa limpa, honesta, sem tarados, estritamente de crianças para crianças. Para nós era uma janela para outro mundo, foi emocionante esperar, esperar e depois de três meses receber uma carta de uma jovem americana, em um espanhol meio quebrado, mas entendível.
Nossos correios não eram lá muito ágeis, então a carta levava em média um mês para chegar ao destino. Com isso tínhamos tempo de sobra para pensar sobre o quê escrever.
Hoje? Se um email não é respondido na hora, logo vem outro. “recebeu meu email?” ou mesmo um telefonema. Não que tenhamos lá muita paciência em primeiro lugar. Email é bateu/levou. Será por isso que é tão descartável?
Lembro que da primeira vez que chegou uma carta, saí mostrando no colégio, era mais motivo de se gabar do que encontrar com a professora na rua, por acaso. Sim, para um guri de 10,11 anos professoras viviam em uma terra mística qualquer, entender a mestra como uma pessoa de carne e osso estava além da nossa capacidade. Encontrar com uma em um supermercado era assunto para a semana inteira.
Envelopes de outros paises, com cores estranhas nas bordas, selos alienígenas, canetas coloridas que não existiam aqui. Céus, como era divertido, e como isso se banalizou com o email. Claro, hoje em dia é muito melhor, mas o preço que pagamos é a perda da magia.
Ou vai me dizer que você se lembra da última carta que escreveu…