Estou passando uns dias na Clínica de Repouso para Blogueiros Muito, Muito Nervosos Liliana Ometto, em São Francisco Xavier, interior de SP. Está sendo uma experiência relaxante, mas não vamos dar spoilers de futuros posts.
A cidade, que na verdade é um distrito de São José dos Campos tem, segundo pesquisei, 2867 habitantes. Pouco mais de 300Km quadrados. O que dá 0,1 habitante por Km quadrado. Acho que ainda há menos gente que as estatísticas, pois no total devo ter visto umas dez pessoas. E olha que fomos passear downtown, fazendo lanche na Carmem, a padaria mais famosa da cidade.
Lar do Muriqui, o maior primata das Américas (obviamente o titulo ficou temporariamente comigo enquanto estive na cidade) vemos imagens de macacos por todo lado. Acho que se o Estadão der prosseguimento à campanha, deveria filmar ali.
Enquanto blogueiro e primata, devo dizer que ali seria um bom lar para nossa espécie.
A impressão que todo bicho-de-cidade tem é que nem luz elétrica tem na cidade, o que é um absurdo, existe desde os anos 50. Na verdade, não só há luz elétrica farta, como a cidade tem loja de games, loja de informática e até uma lan house.
A casa da Liliana fica no alto de um morro, com vista para um dos muitos vales da região. No teto, uma antena estrategicamente posicionada, da banda larga via rádio. R$130,00 por um link de 256KB. Caro para RJ/SP, mas lá vale cada centavo.
Puxo meu Macbook, para tentar conectar na Hot Liliana (o ato é bem menos sexy do que parece, mas se ela batizou o hotspot com nome de site pornô, que agüente a sacanagem) e vejo DOIS Access Points.
O segundo access point era do provedor.
Sim, crianças, o link de rádio dos caras é um link WIFI, com uma antena de alto ganho, um access point no alto de um morro a quilômetros dali, montado em uma estrutura isolada, com coletores de energia solar, baterias e autonomia de três dias, em caso de tempo muito nublado.
Portanto foi possível curtir um clima excelente (sem aquelas viadagens de “minha cidade tem o 6o Melhor Clima do Mundo” que alguns lugares costumam estampar) e ao mesmo tempo ficar conectado com o mundo, trabalhando.
Ela definitivamente tem o melhor de dois mundos.
Quanto à cidade, não vi nada fundamentalmente diferente por causa da Internet. Há bastante ativismo, principalmente ecológico, uma boa quantidade de sites sobre a região, mas como sempre defendi, o que vale aqui é a mão-na-massa.
Acho que a lição aqui é que somente a tecnologia não vai fazer mágica. Inclusão digital não é só dar os meios, dar o acesso.
Um cybercafé aqui pode ser considerado “progresso”?
Principalmente, temos que perceber que o mundo não precisa necessariamente girar em torno da tecnologia, e que ela não é panacéia universal. Há gente que vive muito bem sem computadores. Não por serem luditas, mas por não terem lugar para eles em suas vidas.
Não é melhor nem pior que nossas vidas. É apenas diferente. Bater na tecla que essas pessoas PRECISAM de computadores, senão suas vidas serão incompletas, falhas e carentes é se tornar tão intolerante, fanático e fundamentalista como os crentes que insistem em declarar como infelizes e miseráveis todos que (ainda) não aceitaram JESUS como seu SALVADOR.
Tem gente que não precisa de jesus, tem gente que não precisa de Internet. Eu sei, é difícil de acreditar, mas assim é a vida.