EU, TENHO PENA DO QUE VAI ACONTECER COM VC, DEUS IRÁ TE CASTIGAR POR TUDO ISSO QUE VC ESCREVEU,QUE DEUS TENHA MISERICORDIA DE VOCÊ MEU AMIGO.
Esse é o comentário típico que recebo dos leitores crentes.
Meu caro, a “ira” do seu amiguinho imaginário é o menor dos meus problemas. Mesmo que ele existisse, atrair a atenção da Criatura mais poderosa do Universo é algo que, apesar das conseqüências, faria muito bem ao meu ego.
Ruim seria você dizer: “Deus tem mais o que fazer, continue escrevendo o que quiser, ele nem sabe que você existe”.
Fazer diferença, para o bem ou para o mal é algo essencial para mim.
Tem gente que deixa comentários em um monte de blogs, compra brigas, escreve posts-isca ofendendo nominalmente grupos inteiros de Blogueiros, e mesmo assim não ganha um trackback. Um link. Sequer são lidos. É gente que só se sabe por terceiros. Se alguém quer ser um desafeto e só existe na base do “Viu o que fulano escreveu de você?” já fracassou. No máximo conseguem comentários em mesa de bar, recheados de desprezo.
Deve ser horrível, eu não consigo nem imaginar como é ter sua opinião ignorada de tal forma. Nem para discordar aparece alguém. Isso é vida (online)?
Na vida offline isso é igualmente importante. Ser mais um na multidão, ser um “conhecido” é muito ruim.
No Segundo Grau fiz alguns meses de curso de inglês com uma menina criada por uma família cristã fundamentalista. Ela chegou a ter crise de choro por perder o ônibus na saída do curso, pois os pais sabiam os horários e se ela chegasse atrasada (nem que 10 minutos) ficaria de castigo. Ela só falava comigo dentro do curso, do lado de fora algum vizinho poderia ver e se os pais soubessem que ela estava falando com um homem “do mundo”, castigo.
Aos 16 anos essa menina se matou.
Eu não me lembro do nome dela, só dos fatos acima. Hoje vejo que a importância dessa menina em minha vida foi muito pequena. Eu sei, é algo cruel de dizer, mas o fato dela ter se matado foi muito mais marcante que o fato dela ter vivido.
Eu não desejo isso para mim. Não desejo para ninguém. OK, até desejaria para alguns mas quem seria meu alvo consegue atingir a irrelevância de forma autônoma.
Mesmo assim, a diferença entre a megalomania patológica e a megalomania saudável, é que eu só me importo em ser relevante para as pessoas que são relevantes para mim. É uma versão pessoal da Regra de Ouro.
Talvez por causa disso eu tenha uma atração por mulheres esquisitas problemáticas complicadas danificadas complexas. Aparentemente é masoquismo, mas eu sinto que lidando com essas figuras, err… complexas, eu tenho muito mais possibilidade de ser relevante, de deixar um legado a longo prazo. Ajudá-las me ajuda a sair da multidão. É um sentimento de satisfação muito bom, ver uma figura que já esteve no fundo do poço, que saiu por sua ajuda, voar com as próprias pernas. (ok, não ficou uma boa figura de linguagem mas este post estava sério demais)
O lado ruim é que nem sempre aparece alguém para perguntar “quem era esse estranho mascarado? Nem tivemos tempo de agradecer”.
Quando você SABE que foi relevante, quando você sabe que FOI importante e descobre, da pior maneira que sua importância foi esquecida, que você foi compartimentalizado, isso é muito ruim. Voltar a ser mais um na multidão, depois de tanto esforço, é doloroso. Eu não havia pensado nessa possibilidade, mas depois de experimentá-la, tenho que admitir: Foi ruim.
Um “oi, que legal, vamos almoçar qualquer dia”, completamente amistoso toma uma conotação absolutamente cruel, quando dito pela pessoa certa da forma errada. Eu estou preparado para lidar com a rejeição (não é vantagem, sou homem, está no nosso DNA), com o desprezo, até com a fidelidade canina, mas eu não estou preparado para lidar com a mediocridade. Não de quem FOI importante para mim e para quem eu SEI que fui importante.
Deixar o passado para trás é uma atitude saudável. Fingir que ele não aconteceu ou minimizá-lo é queimar pontes. E exceto a do Rio Kwai, pontes não devem ser destruídas desnecessariamente, nunca se sabe quando precisaremos delas.
Passando isso para os blogs, fica a dica:
Se você se deixa afetar por comentários e opiniões de qualquer um, não tenha um blog.
Se você ignora a opinião de todo mundo, não tenha um blog.
Se você exige somente opiniões positivas, não tenha um blog.
Se você quer que todo mundo adore seu blog, não tenha um blog.
Se você precisa desesperadamente de atenção e aprovação, não tenha um blog.
Se você consegue discernir as boas opiniões, ignorar as ruins, tenha um blog.
Se você consegue ignorar completamente ataques de gente que não é relevante, tenha um blog.
Principalmente, assim como na vida, assim como nos filmes, assim como na TNT, nos blogs você vai ganhar e vai perder, mas não quer dizer que você tenha que gostar disso. Essa é a minha Regra de Ouro. E do Indy.