O cérebro dos analistas especializados e o sucesso do MeioBit

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Eu perdôo os fanboys e os desafetos. Se o sujeito acha que o GameCube dele é a melhor invenção da história da Humanidade e não precisa de um PS3 (que dirá um PS2), deixa o cara. Da mesma forma se o cidadão lê "Microsoft cura o câncer" e responde que "é só pra ter mais gente usando Windows", não há o que discutir. Mas quando o sujeito é um analista, comentarista técnico e escreve para um veículo sério, é preciso CONHECIMENTO. Não digo para não ter preferências pessoais. Quem diz que não as têm está sendo hipócrita, mas dá para ser justo mesmo assim. O que não dá é para ser burro.

Neste artigo aqui do Wall Street Journal o repórter Cassell Bryan-Low fala sobre a aquisição do resto (52%) da Symbian pela Nokia. É uma relação de amor e ódio, o Symbian é um sistema operacional que eu adoro mas está ficando velho, não recebeu grandes investimentos e sua interface é maravilhosa para 1995. Funciona muito bem para quem quer primeiro um telefone, depois um smartphone. Está fragmentado em versões incompatíveis, atolado de DRM e locks de operadoras, e não há nenhum ambiente de desenvolvimento decente para ele que chegue perto do XCode ou do Visual Studio.

Nosso amigo do WSJ, claro, não sabe disso, e por ingenuidade (ou malícia, para a notícia passar pelo Editor) acrescenta o parágrafo:

"…em um movimento que irá provavelmente aumentar a competição com a Apple"

Não! Não! Não!

A mídia adora essa coisa de Davi vs Golias, mas não percebe que o iPhone É o David, que a Nokia, Sony-Ericsson, Motorola (de 5 em 5 anos) são os grandes. Transformaram TUDO em iPhone Killer, toda ação agora é sempre apontada como tendo o alvo na Apple.

Existe um ENORME mercado de telefonia fora do nicho que o iPhone atinge. Pode parecer absurdo mas há gente que não dá R$3.000, R$1000 ou mesmo R$300 por um telefone.

Pode parecer absurdo mas nem todo sistema operacional serve para tudo. O Windows Mobile não funciona tão bem quanto o Symbian para mudanças rápidas de tela e aplicações simples, já o Symbian é péssimo em programas complexos, jogos e aplicações Office. O OS X é perfeito em tudo mas aí entra a figura do fanboy que alertei no começo.

Um dos métodos de não ser publicado no MeioBit é ter "iPhone-Killer" no título.

Não é para proteger a coitadinha da Apple. É para fugir do hype. Se o release do E71 tivesse chegado com um "nokia lança iPhone Killer", teria rodado sem dó nem piedade. EU não teria me dado ao trabalho de publicar. Da mesma forma que tomei a decisão pessoal de não publicar posts com produtos-conceito. É fácil montar um mock-up em prástico ou Photoshop e dizer que tem projetor holográfico, bateria de 2500 horas, camuflagem do Predador e indutor orgásmico remoto (quem viu Orgazmo com o Trey Parker?)

O leitor moderno não quer mais um sujeito engravatado com ar sério, isso não passa mais credibilidade. É essencial que alguém que comente sobre um assunto viva aquele mundo. Em quem você confia mais?

a) Eu assisti 3 seminários sobre o assunto

b) Eu mexo nessa bosta todo dia!

A Cora Ronai por exemplo antes de ser jornalista, para nós era micreira. Nos anos 80 era uma fuçadora que por acaso escrevia para o Jornal do Brasil (depois ele foi pro Gato Etc d’O Globo mas é outra história). Estava pouco me lixando se o Joelmir, o Armando, o Castello tinham mais "nome" do que ela. O Samuel Wainer poderia ser apontado como Editor Chefe Mundial de Informática", e ela continua sendo mais respeitada pelos leitores, pois era micreira escrevendo em um jornal.

Com o tempo o simples fato do sujeito escrever em uma coluna cobrindo determinado assunto não será mais suficiente para torná-lo "respeitável". Prevejo que teremos uma dança de cadeiras nas redações, onde as pessoas irão naturalmente migrar para as áreas que mais gostam. Aquele papo "sou profissional, escrevo sobre qualquer coisa" vai cair em desuso, o que será bom para todo mundo.

Notem que há uma diferença FUNDAMENTAL entre "escrevo sobre o que entendo" e "escrevo sobre o que gosto". Eu ficaria com a segunda opção. Quem gosta realmente de algo raramente comete erros constrangedores, e quando sofre algum deslize, alegremente corrige e aprende.

A primeira indicação desse movimento foi a saída do Armando Nogueira da Globo, e sua migração para o jornalismo esportivo. Já uma indicação do que NÃO fazer foi a cobertura da Cora Ronai no Fashion Rio (valeu, Thiago). Ela estava deslocada, incomodada e claramente com má-vontade.

Temos um desafio aos editores aqui: Antes indicavam jornalistas para as pautas. Agora deverão adequar ambos. Se eu tenho um foca que é astrônomo amador há muito mais chances de sair uma boa cobertura de um evento de astronomia do que se mandar aquele coroa que escreve sobre economia.

Terá mais espaço e será um profissional mais atraente quem tiver uma boa base de conhecimentos gerais, quem se interessar por muitos assuntos diferentes, quem não for bitolado.

Pode parecer algo óbvio, mas a postura "escrevo por obrigação" existe não só em jornais e revistas, como também em blogs, onde impera mais ainda a idéia de que "é só escrever qualquer besteira e ver o dinheiro entrar".

Escreva sobre o que você gosta. Se for para delegar, junte pautas com gente compatível. Simples assim. Funciona.

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