O Nome do Kibe

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sarcasmo O Nome do Kibe

A Comédia é presença freqüente na Arte desde a antiguidade. Um dos livros perdidos de Aristóteles, a 2a Parte de sua série Ποιητικός (ou Poética, se você vergonhosamente não lê grego arcaico) trata da Comédia, infelizmente foi perdida.

Seria interessante ver o que foi escrito por volta de 335 AC, no volume hoje perdido sobre a Comédia, embora eu ache que não seja nada tão diferente do que temos hoje, e não acho que Aristóteles fosse gostar do do kibe, também.

Eu classifico o humor em duas grandes vertentes: O que me faz pensar e o que basta consumir. Eu acho ambos válidos, mas considero o humor que exige algo do leitor bem mais nobre.

A idéia de que você saia da posição de consumidor passivo e pense para entender o humor me atrái. Eu deixo de ser mero consumidor, me torno co-autor. Aquela piada foi engraçada por minha intervenção. Sem o meu dedo, nem seria uma piada.

Já o humor rasteiro não exige nada. Ele mostra a situação engraçada, em geral um pastelão simples e está tudo lá. Não é preciso pensar para entendê-lo.

Isso funciona por exemplo em comédias com gags visuais, como Os Três Patetas, Chaves e desenhos da Warner. O problema desse tipo de humor é que é fácil cair no menor denominador comum. Acabei de entrar em um site de “humor” em que uma ilustração mostra um personagem peidando na cara de outro. South Park criticou esse humor ultra-rasteiro com Terence & Phillip, mas agora vejo que foram proféticos. Há gente que realmente faz humor soltando puns no rosto alheio.

Céus, achei um site chamado  “Humor Babaca”. Será que alguém que se digna a fazer humor faz “humor babaca” propositalmente? (pergunta retórica)

O humor óbvio É engraçado,  se não fosse não faria sucesso. Mas ele é engraçado da mesma forma que pagode é música. De uma forma rasteira, de fácil digestão, mas sem nenhum potencial ou esperança de durabilidade.

A diferença é que se você perguntar qual foi a imagem engraçada que seu amigo mandou pelo email ontem, nem você nem ele lembrarão. Já se você chegar em uma mesa de bar e soltar um “Nii!!!!” 2/3 dos presentes lembrarão imediatamente de Monty Python, embora o Cálice Sagrado tenha sido lançado em 1975, quase 35 anos atrás.

Eu prefiro o humor que exige participação do espectador. Nem é tão difícil de ser achado. Vejamos por exemplo uma clássica piada:

A Loura entra no motel com o velhinho de 90 anos, achando que vai se dar bem, dará uma canseira no velho e levará seu dinheiro. No quarto o velhinho vai ao banheiro e volta com algodão no ouvido, pregador no nariz e camisinha colocada. A loura pergunta o motivo daquilo tudo:

“É que detesto barulho de mulher gritando e cheiro de borracha queimada”- responde o velhinho

A piada tem o elemento clássico do humor – a reversão de expectativa – mas também traz um outro elemento: Ela não mostra o que seria o foco da piada. O ato com a graça em si não é exibido. Tudo acontece na mente do espectador.

Se fosse um quadro do Monty Python mostrariam a cena da piada e no final do programa inseririam uma cena do motel pegando fogo, com transmissão na TV, etc.

Se fosse uma charge em um site da linha do kibe, mostrariam o velhinho transando com a loura, com a camisinha pegando fogo, ela gritando…

Entenderam a diferença entre o humor óbvio?

ISSO é humor óbvio:

obvio1 O Nome do Kibe

Convenhamos, chamar uma mulher gorda de baleia não é original, e o efeito escatológico não acrescenta efetivamente nada. Mas é uma forma de humor válida. O problema é a legenda. Ela assume que estamos lidando com humor de e para retardados. A legenda assume que o leitor verá a imagem da mulher gorda na piscina, soltando um esguicho e NÃO fará a associação com uma baleia.

Só falta a claque de risadas, para nem isso você ter que prover.

Agora vejamos uma gag visual de humor escatológico feita com inteligência:

aprendizdelesbica O Nome do Kibe

Essa imagem, do site http://desmotivado.com/ é um primor.  Primeiro, não é uma imagem engraçada por si só, mas gera curiosidade. A expressão da menina passa não medo por estar ensangüentada, mas sim surpresa.

A legenda, “Aprendiz de Lésbica” por si só não diz nada, mas quando lemos o subtítulo, “Espere mais alguns dias e tente novamente!” este desencadeia todo um processo mental, extremamente complexo, que termina em uma gargalhada.

A imagem mental não é engraçada. “Sabe aquela da aprendiz de lésbica que chupou a amiga menstruada sem saber?” Isso não faz rir. Parece até coisa de pornô japonês. É a associação da imagem da menina, com a expressão estranha, mais o processo mental que nos levou à conclusão que torna a piada engraçada.

Pensar essas piadas entretanto não é simples.  Pior, limita seu público. Estou ficando deprimido só de ler os comentários no Desmotivado.com. A maior parte é gente ou explicando as piadas, ou então dizendo “não entendi”, mesmo nos casos mais óbvios.

Neste post aqui temos uma loura peituda estilo alemã com seios enormes escapando da blusa, segurando duas canecas de cerveja. A legenda “Saudades do mês de Outubro”. O PRIMEIRO comentário é: “ops, oktober fest???”

No post “Aprendiz de Lésbica” dos quatro primeiros comentários, três não haviam entendido a piada.
Isso pode ser frustrante para um humorista, pois se ninguém entende minhas piadas, como vou continuar fazendo graça? Por isso há tanta gente fazendo “humor babaca”. O público é maior, a gratificação é maior e você pode usar e abusar de setinhas mostrando aonde está a parte engraçada da imagem.

Entretanto, e isso é importante para quem quer ter um blog de humor viável, é preciso perceber que o humor babaca não traz nenhum mérito. O campeão nacional do humor rasteiro, o kibeloco, tem pouquíssimos trackbacks. Eu não me lembro quando foi a última vez que vi um site referenciando algo lá. “vejam que post legal no kibe”. Não existe. E sequer é uma exclusividade dele.

A maior parte dos sites de humor rasteiro é descartável. Você troca o nome do site, mantém a piada e tudo se sustenta. Não há personalidade. Ninguém diz que tal piada é “a cara do fulano”, como os textos do Morróida

É como escrever para o Zorra Total. Você sabe que as piadas do começo do programa já terão sido esquecidas antes do último bloco ir ao ar.

É possível fazer sucesso com esse humor? É. O kibe tem uma quantidade invejável de visitas, está associado à Rede Globo, é talvez o blog mais mainstream do Brasil.

Mas continuo achando frustrante ganhar a vida fazendo aquele tipo de piadas.

Quem quer ter um site de humor que se destaque, se quer ser efetivamente reconhecido e linkado, sugiro que siga o caminho mais difícil: Faça humor inteligente, exija algo de seu leitor, não faça de sua piada um passo-a-passo.

Acima de tudo assuma que seu leitor é pelo menos tão inteligente quanto você. Ele será.

Claro, se você achar tudo muito difícil, www.humorimbecil.com.br está disponível.

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