Pior que homofobia, só veadagem

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Nos tempos da UFF eu estava voltando de carona pro Rio com três amigos da faculdade e um carinha da TI da Globo. O carinha era namorado de um de meus amigos. Tirando eu todo mundo no carro era Gay. Do nada o Vermelho (esse era o nome de um deles) começou a agarrar o namorado, que estava dirigindo.

Começou uma gritaria, com motorista quase perdendo o controle (do carro) e os outros dois rindo cutucando o casal no banco da frente. Em no meio, no banco de trás. Tive que falar:

“Gente, pára. Vermelho, sossega. Pense na minha mãe quando ver a manchete Carro Repleto de Homosexuais Cai da Ponte Rio-Niterói.

A gargalhada foi geral, fomos imaginando cenários até chegar no Rio.

Hoje eu seria acusado de homofobia e ameaçado de processo.

O mundo está se tornando um lugar muito chato, com grupos confundindo o direito de ser aceito com o privilégio de ser aquele chato sem-graça que ninguém brinca com medo de levar uma patada.

O último alvo foi o comercial do Doritos, onde quatro amigos estão em carro, o rádio começa a tocar YMCA, um deles se solta dançando, os outros olham com cara de quem está estranhando, e termina com o slogan “quer dividir alguma coisa com os amigos? Divida um Doritos”.

A idéia é MUITO melhor que a execução, veja:

Pois bem: Um monte de grupos de defesa de direitos dos Gays está propondo boicotes, denunciando ao CONAR, ameaçando se rasgar por causa do comercial. Sim, dessa besteira aí de cima. Não é uma reação contra os imbecis da igreja batista de westboro, e sua campanha nojenta “Deus Odeia Bichas”, em que usam inclusive crianças:

Dizer que o comercial é ofensivo demonstra muito, muito mais sensibilidade do que é recomendado para viver em sociedade. Quem quer ser integrado tem que aprender a rir de si mesmo. Procurar desesperadamente homofobia onde não existe não é saudável. NÃO ACHAR GRAÇA em personagens caricatos, apenas por serem gays, não é saudável.

Para Wong Foo, Priscilla a Rainha do Deserto, A Gaiola das Loucas, há tantos casos onde os personagens são gays E engraçados. Devemos banir esses filmes? Fazem graça com o homosexualismo alheio, ora bolas. E que me consta nem o Victorio Gasman nem o Agente Smith são gays, então não caem na imunidade diplomática do sujeito fazendo piada do próprio grupo, como Chris Rock fazendo piada de negros, ou Mel Brooks fazendo piada de judeus ou o Tabet contando piada da Xerox.

Que tal ao invés do Doritos, invadir a sede da RedeTV e queimar em uma fogueira o Christian Pior e o Robaldo Esperman? Esse vídeo dos dois no Gala Gay me parece mais que suficiente, já que abolimos o  humor e tudo é levado a ferro e fogo:

Aproveitando a fogueira, vamos queimar o Matt Groening também. Em um episódio recente dos Simpsons durante uma cena Homer fantasia um beijo entre Marge e uma vizinha, com direito a língua e tudo:

Confesso que achei a cena desconfortavelmente excitante. Tudo bem, é normal, 95% dos homens hetero fantasia com mulheres se agarrando. No nosso mundo ideal 100% das mulheres são bisexuais, como Jesus queria. O detalhe é que segundo minhas amigas lésbicas isso é extremamente ofensivo, elas se sentem tratadas como anormais, quando dizem que não curtem homem.

Nesse ponto de vista os gays são muito mais “aceitos” que as lésbicas, ninguém reclama se o Clodovil não quiser sair com a Juliana Paes. (só vamos estranhar se ela fizer o convite primeiro)

Todos prontos para a caravana para queimar a Fox? Ótimo, vamos queimar também o escritório de Family Guy. Seth Macfarlane é especialista em ofender grupos de interesse. No último episódio por exemplo Peter Griffin, precisando de dinheiro se emprega como cobaia de laboratório, acaba sendo injetado com o Gene Gay, em uma pesquisa para provar que homosexualismo é genético, não ambiental.

Ele inicia vestindo-se de forma, digamos assim, exuberante, demonstra talento para cozinha, moda, decoração, teatro infantil (ok, esse último eu deduzi)

A princípio Lois gosta do novo Peter, mais atencioso, prendado, etc. Mas então ela descobre que embora ele a ajude a comprar lingerie, não quer nada com ela ou qualquer mulher:

Sim, eu sei, a Lois é gostosa, mas não vem ao caso.

Peter sai de casam abandona a família, arruma um namorado e vai morar com ele, participa de teatro musical, assiste Lifetime e pratica todos os clichês gays que você pode imaginar.

Ah sim, o episódio não vê problema algum em mostrar Peter e o namorado aos beijos, várias vezes:

Para tentar salvar Peter, Brian, o cachorro sequestra e interna o amigo em um “Campo Hetero”, que promete recuperar homosexuais e torná-los hetero. O discurso de boas-vindas do instrutor é ótimo:

“Bem-vindos, vocês estão aqui porque fizeram uma escolha de abandonar sua vida pecaminosa e se redimir aos olhos do nosso senhor e salvador Jesus Cristo, que odeia muita gente, mas ninguém mais do que homosexuais”

É verdade. Esse tipo de acampamento existe mesmo.

Lois resgata Peter e diz que o ama, não importa a opção sexual, quer que ele seja feliz, mesmo com Scott, que prepara uma festa de boas-vindas, com direito a uma orgia com 11 caras.

Infelizmente para Peter o efeito do Gene Gay acaba. No meio da orgia.

O episódio explorou um monte de estereótipos, e causou bastante polêmica. O Parents Television Council, organização cristã americana fez queixa ao Federal Communications Council dos EUA, alegando indecência, desvirtuamento de valores, conteúdo sexualmente explícito, etc.

O episódio curiosamente só não irritou o grupo mais interessado. No blog inglês PINK NEWS os comentários são UNÂNIMES:

“Sendo gay, eu ri até não poder mais. Foi uma boa paródia de alguns aspectos da cultura gay”

“A apresentação do Campo Hetero mais certeira: Fundamentalistas nos odeiam mais do que a assassinos”

Outro leitor acertou em cheio o que é HUMOR:

“Na verdade o episódio foi bastante ofensivo, mas incrivelmente engraçado. Não acho por um segundo que tenha sido a intenção diminuir ou humilhar gays ou qualquer outro. Mas se irritou o pessoal religioso, que venham mais episódios iguais a esse”

Se alguém fizer uma piada de blogueiro, eu vou me ofender se a piada for RUIM. Se todas as críticas a blogs fossem como as do Dahmer, eu seria um “ofendido” feliz.

A conclusão que eu chego é que os rapazes alegres ingleses e americanos têm muito mais senso de humor e jogo de cintura do que os brasileiros. Nem é novidade, 20 anos atrás um cantor inglês teve o desplante de se vestir de mulher, com bigode e tudo, rir de si mesmo e encantar o mundo com sua música.


Mil palmas para Freddie Mercury, amado e respeitado por milhões, que provou que um Gay pode ser um Grande Homem, basta não ser mesquinho.



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