Nos últimos dias está rolando um bafafá no Twitter envolvendo um script criado por um desocupado. O tal programa adiciona seguidores automaticamente, e utiliza um teorema segundo o qual 50% de quem você adiciona como seguidor, por cortesia te adiciona de volta.
Com essa lógica se eu passar a seguir 10.000 pessoas, 5.000 me seguirão de volta. Com isso aumento muito meu número de seguidores, subo nos rankings, viro twitteiro fodão. (para detalhes sobre o caso, visite este post no Goma de Mascar)
Eu tenho um grande problema com isso, técnico, que será discutido oportunamente no MeioBit.
Fora isso, a grande dúvida é o MOTIVO. Eu entendo o comportamento de manada do brasileiro, essa necessidade de se destacar aparece em todos os ambientes virtuais, é gente que passa semanas descobrindo como derrubar um servidor de IRC para ganhar o Ops do canal e ficar com uma arroba na frente do nome. -se foderam, no Twitter todo mundo tem arroba-
É gente que fica desesperado atrás de programa para mandar scrap e angariar membros para sua comunidade, e amigos que nunca viu ou verá de verdade.
Conversando com o Eden, percebi que há um grande componente de autorealização. O usuário de scripts para aumentar sua troupe de seguidores no Twitter é imune a críticas, ele não quer ver o ser visto, nem quer ser reconhecido. Seu maior alvo a impressionar é o espelho.
E não há nada de errado com isso. Todo mundo que já fez algo relevante no mundo o fez para se sentir bem, por mais abnegado que o sujeito seja, no fundo ele se orgulha internamente do que está fazendo.
O problema é que os anos passam, as pessoas se tornam mais medíocres e os feitos necessários para que sintam esse sentimento de realização se tornam igualmente medíocres.
Antigamente o máximo de feito sem-sentido com fins de autorealização envolvia japoneses e dominós:
Hoje até mesmo isso dá trabalho demais. O ideal é fazer algo que nos torne importantes (aos nossos olhos) com um mínimo de esforço. Montar um blog kibando textos de outros e mostrar pra família, copiar o texto QUEM SOU EU do Alex Castro, ou então adicionar via script seguidores no Twitter.
Eu acho isso triste. É muito, muito vazio. É pequeno. É limitar demais o próprio potencial. Parece aquelas meninas que sonham ser Miss Caicó, ou os garotos que almejam jogar na 2a Divisão.
Esse sentimento de autorealização baseado em méritos medíocres me assusta. O pior é quando me acusam de compartilhá-lo. Desculpe, gente. Estão vendo a foto no alto do texto? Sou eu, em 2004, no alto do Pico da Bandeira, 2891m acima do mar e de 99,999% da população brasileira.
Fiz uma expedição durante o carnaval, sem nunca ter subido nada além de preços em uma loja eletrônica, usando o que aprendi no Discovery e em mcGyver. Foram 12h de caminhada montanha acima, (mais fotos aqui) e um desafio pessoal. No final, conseguimos.
O interessante é que dois malucos que passaram correndo por nós, e fizeram a escalada em 2 horas não diminuiram em NADA meu sentimento de conquista. NÃO É uma competição. A meta foi alcançada? VITÓRIA!
Seria trapaça alugar um helicóptero, ser depositado no alto da montanha e então fazer uma foto? Seria. É o equivalente a usar scripts? NÃO. Usar scripts para se tornar Twiteiro Fodão é tapaça, mas A META EM SI é pequena.
Então, Script Kiddies, escutem Tio Cardoso: Não tenho problemas com os MEIOS que vocês usam para atingir seus objetivos. Só por favor sejam menos medíocres e sonhem mais alto. O Brasil agradece.