Milhares de anos atrás, na UFF, vi uns amiguinhos que faziam jornalismo chorando que não conseguiam estágio, que era tudo panelinha, que os grandes jornais só davam vaga para quem tinha peixada, bla bla bla.
Perguntei: “quer um estágio n’O Globo? Eu ensino”
Como na época eu já estava estagiando em propaganda, apesar de não estar nem na metade do curso, minha opinião impressionava. (tolinhos)
Expliquei:
“Saia na rua. Descubra algo que valha a pena ser investigado. Um caso de corrupção, um crime não-solucionado, alguma matéria suculenta. Algo do nível que você veria em um jornal, em destaque.
Escreva a matéria, com fontes, entrevistas, ponto e contraponto, como se fosse pra uma Veja da vida. Faça um puta texto.
Vá para o Heliponto da Lagoa, o Roberto Marinho todo dia pega o helicóptero dele (mesmo modelo do Águia de Fogo) lá. Faça amizade com os seguranças, conte seu caso. Quando já tiver passe livre, espere ele aparecer, se apresente rapidamente:
‘Dr Roberto, meu nome é fulano, sou estudante e queria um estágio. Fiz este texto aqui para demonstrar a qualidade do meu trabalho. O senhor poderia dar uma lida, durante sua viagem?’
Se tudo der certo no dia seguinte alguém da redação te liga marcando data pra começar”
As reações foram basicamente duas:
1 – não funciona assim, só tem peixada, você vai perder tempo.
2 – ah, mas isso dá muito trabalho.
A primeira, bem, eu GARANTO que nenhum jornal, revista, programa de TV, emissora de rádio ou puteiro vive sem talentos. NENHUMA empresa com mais de dois neurônios coletivos abre mão de gente muito boa. Existe peixada? Existe, mas quando EU procurei estágio a vaga estava ocupada por um peixe, que foi detonado sem a menor cerimônia.
O segundo caso é infelizmente a regra, não a exceção. Tudo dá trabalho, tudo é complicado. Pombas, meu philho, quer moleza? O cara quer um estágio em um dos maiores jornais do país, uma grande agência de publicidade, uma Microsoft da vida, e quer motorista pra buscar em casa? Fritas acompanham?
É fácil SIM conseguir um estágio em uma empresa top dessas. SE você for bom o bastante para impressionar quem decide. Só que se você for bom e NÃO tiver iniciativa, ninguém vai saber. Aliás, sem iniciativa você não é tão bom assim.
Vejam por exemplo um sujeitinho que achei no twitter. A bio dele diz:
Sou apenas mais 1 em um mundo de 6,6 bilhões de pessoas
Aonde um sujeito desses vai chegar? Você daria estágio a alguém que acha que suas chances para qualquer coisa são 1/6.600.000.000 ?
Por outro lado, vejam o Pedro Schneider. O cara queria muito trabalhar com marketing de guerrilha. E na Espalhe. Poderia ter mandado currículo, mas foi pelo caminho mais complicado, mais difícil: Criou uma puta ação de guerrilha, conseguiu espaço em mídia e bateu na porta deles dizendo “olha o que eu sei fazer“
Foi contratado na hora.
“Esse garoto vai bombar” diz Wagner Martins, da Espalhe
Nos comentários do post do Blog de Guerrilha contando o caso, uma menina diz:
“Nessas horas penso que eu poderia ser uma guerrilheira, mas perdi o Gustavo Fortes no Campus Party. e olhe que o procurei por umas duas horas por lá, depois da palestra. :(“
Não, querida, não poderia ser uma guerrilheira não. Se o máximo de perserverança que você tem é procurar o Gustavo por 2h para pedir um emprego, você está LONGE de ser uma guerrilheira.
Quanto à Espalhe, estou tirando todo seu mérito. Não fizeram mais que a obrigação racional, ao contratá-lo. Em um mercado como o de publicidade, talento não se desperdiça. A não ser que sua agência se contente em fazer viralzinho.