Penn Jilette e Teller são dois mágicos muito populares nos Estados Unidos e apresentadores/criadores do excelente programa Bullshit! onde desmascaram charlatanismo, papagaiadas de nova era, criacionistas, teóricos da conspiração e outros temas.
Embora Penn seja abertamente ateu é céptico, seu ganha-pão é mágica, ilusionismo. Não há problema, ele em momento algum diz ter poderes especiais, e sua platéia é (ou espera-se) inteligente o bastante para saber que tudo ali é um truque, que a bala não foi realmente parada com os dentes por seu parceiro, que o David Copperfield não atravessou realmente um muro de tijolos e que a dona boa não está realmente flutuando no ar.
Então, qual a graça, perguntam os cépticos chatos.
A graça é saber que é um truque e mesmo assim ser enganado, bolas.
Por isso eu gostei quando recebi no Porto Cai na Rede o kit da Olympikus. Entre outros brindes veio uma carta, com firma reconhecida em cartório dizendo “EU JÁ SABIA”, falando das maravilhas do Rio e como tinham certeza de que a cidade seria escolhida para as Olimpíadas de 2016. Datada de antes da escolha oficial.
A caixa foi entregue minutos após a confirmação e o efeito foi muito, muito bom. Foi uma peça de ilusionismo, claro. Ninguém sabia de nada e se o Rio não fosse escolhido a carta seria outra OU o kit sequer seria entregue. Mas… e daí?
Saber como a mágica é feita não a torna menos interessante, é preciso apreciar o conjunto.
No caso o diferencial foi o timing. Foi feita uma ação de Emboscada, direcionada a vários blogueiros do Porto Cai na Rede e cronometrada para coincidir com o momento em que as notícias da escolha da cidade sede começassem a correr no almoço.
Ao abrir o kit e nos depararmos com o conteúdo, além da carta veio um Pendrive Kingston bonitão, com os press releases, fotos, vídeo personalizado, etc e uma camisa só minha:
Para coroar o kit e dar ar de “coisa séria” veio junto nada menos que um Agasalho Oficial da Delegação Olímpica:
Gostou? É, eu também. O negócio é lindo, e caro pacas. Ah, antes que alguém pergunte minha modalidade, é Decathlon, nas categorias 8 e 16 bits.
A ação teve porém um porém: causou um certo mal-estar entre os blogueiros, ao premiar alguns escolhidos, em detrimento de todos os outros presentes.
Confesso que não vi comentários sobre isso vindo diretamente dos atingidos, vi sim gente preocupada que tal mal-estar poderia ser gerado. Também vi um descontentamento pela ação ter sido feita sem consulta aos organizadores do Porto Cai na Rede.
Sou favorável a ações anarco-publicitárias, mas distribuição de kits não é algo que considere “guerrilha” ou “emboscada”. Um pedido formal cairia bem.
Quanto ao descontentamento, confesso que não me preocupo muito com isso. Blogs ganham brindes o tempo todo. Alguns mais, outros menos e raramente todo mundo ganha a mesma coisa. Se for me preocupar com o que o Digital Drops, o Treta ou o BQEG ganharam, não vou dormir. Pombas, o Brogui ganhou uma Luiza Gomes e eu não reclamei… (os brindes da Capricho são insuperáveis)
Foi sugerido que os kits fossem colocados nos quartos dos blogueiros, para minimizar o “desconforto”. Acho besteira. Iríamos comentar no dia seguinte, as pessoas ficariam sabendo e se for pra rolar #mimimi, rolará. Tendo o kit sido entregue na presença de todos ou não.
O único meio de evitar o “climão” (que eu não vi acontecer) seria entregar beeem depois, na casa de cada um, o que mataria a graça da ação.
A Agência Boca pensou em todas essas ramificações? Provavelmente não. Teria prosseguido com o plano caso tivesse previsto a reação desfavorável da parte de alguns blogs? Também provavelmente não.
É impossível agradar todo mundo, não dá para trabalhar uma ação com blogs baseando-se no que vai achar quem não for contemplado. Fosse por isso não haveria mais pesquisa eleitoral e o IBOPE teria fechado. TODA pesquisa é desqualificada por N-1 candidatos, onde N é o número total de candidatos, o -1 é o sujeito que ficou bem-cotado na tal pesquisa.
É válido invadir a ação de outra agência, para promover seu cliente?
Eu acho que é. Do contrário estamos criando limites no Marketing de Emboscada. Estamos dizendo que nossas “coleguinhas” são mais importantes que as empresas que invadimos em nossas ações. Só que para invadir uma ação e não angariar a ira dos publicitários presentes você tem que ser muito, muito bom.
Sua invasão tem que gerar interesse, admiração e curiosidade. Duvido que alguém fosse reclamar se o Sunga Boy do 7Splashs caísse de para-quedas (literalmente) e distribuísse chiclete ou cerveja ou -sei lá, sungas- para os presentes.
A Boca cometeu dois erros: 1 – não chegou com uma ação UAU! o suficiente para garantir imunidade diplomática via consagração popular e 2 – não conversou com os organizadores antes de distribuir os brindes.
Deve ser crucificada por isso? Sinceramente acho que não. O Evento Principal não ficou prejudicado.
TODOS os blogueiros foram muito bem-tratados, não houve nenhum tipo de discriminação baseada em pagerank, meritocracia informal, etc (exceto o fato de terem me hospedado no Nannai, mas não é discriminação, é Justiça).
Não creio que a imagem do evento tenha ficado manchada por causa do kit da Olympikus. Em verdade acho que até a Olympikus saiu bem na fita.
Fica a lição: Na dúvida tente agregar, não sequestrar. Não é porque algo é combinado e acertado que deixa de ter graça. Avise antes de invadir. Assim mesmo que alguns convidados fiquem incomodados, os donos da casa te receberão de braços abertos. Pode perguntar aos franceses na Normandia.