Kibes Vampiros Portugueses (ou algo assim)

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Um dos maiores comunicadores de todos os tempos, Abelardo Barbosa costumava dizer: “Na televisão nada se cria, tudo se copia”. A grande sacada da ENDEMOL não foi ter criado Big Brother e outros programas, o genial mesmo foi ter montado um modelo pronto para franquia, o que facilita muito a venda dos formatos.

Não é um gameshow japonês, formato que além de muitas vezes ser excessivamente caro, depende de peculiaridades regionais. A maior parte das “pegadinhas” não funcionaria fora do Japão.

O reaproveitamento de formatos, infelizmente, não se restringe a compra de programas pronto. Isso em si não é ruim, adoraria um Guerra do Ferro-Velho, Rough Science ou Mythbusters brasileiro.  Até um programa como o da Sue Johanson, com a Suzana Vieira seria legal.

Ruim é quando a repetição do formato se torna kibada. É quando um programa deixa de ser versão, deixa de ser inspirado e vira apenas uma cópia.

A Record, com o Samba do Crioulo Doido que fez em suas 18 novelas de mutantes conseguiu ser original, mesmo não criando um “a”. Misturaram TUDO, de mutantes a atlantes passando por alienígenas reptilianos e a Pedra Filosofal. Foi uma tosqueira deliciosa, feita no estilo que os americanos chamam de “língua na bochecha”. Em nenhum momento ninguém além dos atores e autores levava aquilo a sério.

Bem diferente disto:

ScreenShot010_thumb Kibes Vampiros Portugueses (ou algo assim)

É uma kibada descarada da SIC, emissora portuguesa. Vejam a sinopse, direto do site:

Um colégio como tantos outros. Os problemas da juventude.
A paixão entre um rapaz e uma rapariga. Mas para além das aparências, um terrível segredo está prestes a ser revelado, pondo em causa este amor impossível. É que as diferenças que os separam podem vir a ser mais fortes do que tudo o que os une: ele é vampiro e está condenado a manter-se com a mesma idade para todo o sempre.
Uma história de humanos e vampiros adolescentes, cheia de humanidade e muitas emoções fortes.

Se eu acreditasse que havia um mínimo interesse em originalidade, diria que estão kibando Buffy, mas não acho que foram tão longe em suas “pesquisas”.

Acha que estou exagerando? Veja um dos teasers:

 

O efeito disso a longo prazo é terrível. Ninguém realmente criativo vai dormir feliz depois de ter feito algo como essa novela o dia inteiro. Os autores originais são colocados de lado, o material inédito nem chega a ser avaliado e a argumentação contra sequer é ouvida.

Para quê? A série cumpre sua função, gera milhares de pré-adolescentes histéricas assistindo com fidelidade canina e afetando a umidade relativa do ar, como disse o Kevin Smith.

O problema é a longo prazo, como disse dois parágrafos atrás. Quando Twilight sair de moda (e vai sair) o que virá? Quem os kibadores kibarão? Na cabeça dos executivos de TV, basta copiar algo que esteja em alta, e pronto. Só que ALGUÉM tem que criar esse algo.

Quem quer criar quando é mais fácil copiar? Quem quer criar quando é mais elogiado copiar? Quem quer criar quando reclamar da cópia é ser chato?

A tendência sequer é nova. Vide o conceito de franquias de séries abertas pelas próprias séries: CSI, Lei & Ordem, NCIS. Stargate. Será que os talentos envolvidos em uma das 18 versões de Lei & Ordem não seriam melhor aproveitados criando algo original?

Nunca saberemos, pois time que tá ganhando não se mexe, só se copia.

Agradecimentos ao Gilberto Gonçalves por ter dado a dica da novela no Twitter.

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