Eu sou meio jeca nessa coisa de protocolos, sem intenção percebi que violo várias regras, ao procurar programas de humor e achar graça de mais de um ao mesmo tempo.
Para que você não corra o mesmo risco, compilei algumas regras, deduzidas do convívio com o grupo de criaturas mais racionais, inteligentes e articuladas que conheço: Fanboys de programas de humor:
1 – Você é obrigado a rejeitar e execrar qualquer programa de humor que seja mencionado em uma discussão, mesmo que seja o que você gosta. Demonstrar apreço é pecado.
2 – Você só pode gostar de UM programa, ao declarar seu apreço (nunca em uma discussão envolvendo outros programas), automaticamente endossa TUDO que o programa veicule, ao mesmo tempo em que declara que TODOS os outros programas já feitos, em planejamento ou que virão no futuro são lixo.
3 – Recuse-se a entender a diferença entre humorista, comediante, ator de comédia apresentador e escada.
4 – Qualquer programa com mais de 5 anos no ar é um absurdo, “Não sei como isso ainda passa”. Ignore as respostas “passa porque muita gente assiste e gosta, passa porque dá dinheiro”.
5 – A carreira de um comediante é definida por seu último trabalho. Ignore tudo que o sujeito fez de bom. Se ele está ruim em um papel, assuma que ele é ruim em tudo que faz na vida, seja escrevendo, fazendo standup ou sapateando.
6 – Se uma série boa tem UM episódio genial, passe a considerar todos os bons LIXO; assuma publicamente que a série está em franca decadência, por não repetir a genialidade. Ignore o fato de você gostar e assistir ANTES do episódio genial. Da mesma forma UM episódio ruim é motivo para cancelamento.
7 – Nunca acredite em uma segunda leitura. Se há um gay na gag, a piada é homofóbica. Se há um negro, é racista. Resista a qualquer tipo de leitura mais sutil. Isso é coisa de frutinha.
8 – Mulher pelada ou bonita é sempre apelativo, mesmo que seja pertinente ao quadro E/OU ela tenha talento.
9 – Não existem estilos diferentes de humor. Chaplin, Laurel e Hardy, George Carlin e Mel Brooks devem ser julgados e avaliados segundo os mesmos critérios. O único critério que não deve ser levado em conta é se o humor é engraçado. Isso seria simplista.
10 – Humor referencial é elitista. Rejeite qualquer piada que tenha pré-requisito, dependendo de conhecimento prévio para ser engraçada.
Respeitando esses mandamentos você estará apto a criticar o Humor Televisivo Brasileiro, ou ao menos a agir como um bom fã.
Claro, eu não sou muito fã de Mandamentos, então prefiro ignorá-los. Continuo gostando do que acho engraçado, independente de onde venha. Por isso ofendo tanta gente ao dizer que sou fã do Pânico, o que viola os mandamentos 2, 7 e 10.
Ontem durante a cobertura de uma feira erótica em São Paulo um sujeito vestido de sadomasoquista desfilava com uma máscara de latex em forma de cabeça de cavalo. Uma das bibas apresentando o quadro comentou “ah isso na minha cama”. Imediatamente André, editor do programa e um dos maiores humoristas brasileiros ainda no armário inseriu a cena clássica d’O Poderoso Chefão, com a cabeça de cavalo decepada, na cama de Jack Woltz.
Eu ri MUITO, pegou uma frase inócua e deu um final inesperado. Esse é o conceito mais didático de humor.
Claro, 99% dos fãs do programa não entenderam, e segundo o Senso Comum por isso eu não deveria assistir, pois não estou no perfil de “Fã do Pânico”. OK, então me respondam: Pra QUEM o André fez a piada do cavalo? Pro sujeito que liga pro esqueminha de ringtone que anunciam no merchã do programa? Naninanão, a piada foi feita para quem A ENTENDE, por mais que isso viole o Mandamento 10.
Violando os Mandamentos 10 e 4, ontem os Simpsons mostraram como ficar 20 anos no ar, mesmo com a Internet bradando que não são engraçados e ninguém assiste. No episódio o Sr Burns foi preso. Na penitenciária o guarda começa a catalogar seus pertences. Uma hora puxa um cartão e diz “Cartão de Seguro Social”, apenas para ser interrompido por um indignado Sr Burns “Seu idiota, isso é apenas meu cartão SS”. Veja a imagem:
Entendeu? Não? Tudo bem, fale com o Marcos Mion, ele terá prazer em explicar a piada.