Que Lúcifer me perdoe mas desta vez defendo a Turma do Cordeiro e nem é assado

Que Lúcifer me perdoe mas desta vez defendo a Turma do Cordeiro e nem é assado

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Quem me acompanha sabe que não nutro grandes amores por religião. Considero religião organizada um dos grandes males da Humanidade e fico muito feliz do Brasil conseguir bagunçar tudo e gerar o fenômeno da religião desorganizada, onde com nosso sincretinismo temos católicos devotos dando dinheiro pra empregada comprar oferenda pra Iemanjá, judeus comemorando Natal e batistas se fingindo de mortos pra não ter que explicar pela milésima vez que protestante não é o mesmo que pentecostal.

No final raras exceções ninguém se mata e vai todo mundo vivendo, mas de vez em quando surge alguma grande barbaridade. Algumas são inócuas, como o deputado evangélico que gastou tempo e dinheiro públicos com um Projeto de Lei anti-heterofobia. Outras vezes é algo que fere tanto, mas tanto a liberdade individual, que sou obrigado a me meter.

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Da mesma forma que não quero bíblias em escolas públicas, muito menos bíblias OBRIGATORIAMENTE em todas as escolas, acho que se uma escola é associada a uma denominação religiosa, nada mais justo que ela inclua no currículo a literatura que quiser, seja a bíblia, o alcorão ou o Necronomicon. Mais importante do que a presença ou não da bíblia na escola, é a questão da obrigatoriedade. Forçar alguém a fazer algo, quando é uma escolha pessoal é errado, profundamente errado.

Por isso é com pesar que me coloco ao lado dos livreiros evangélicos e denuncio o projeto do Deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG). A proposta, travestida da mais clara e tradicional democratite:

obriga livrarias e pontos de venda de livros a comercializar todas as obras enviadas a eles. Caso o comerciante se oponha a vender, deverá comunicar os motivos por escrito ao autor ou editor, que poderá apresentar recurso à Câmara Brasileira do Livro ou às câmaras estaduais.

Isso mesmo. Você, dono de livraria, com um espaço finito de estante, com estoque apertado terá que aceitar toda e qualquer porcaria que aparecer, sob pena de ser denunciado e ter que se defender. Qualquer um chegará em seu balcão e fará uma proposta que você não poderá recusar. Não importa que você seja uma empresa privada, de capital próprio. Na verdade, segundo o Deputado, não é. Diz ele que livrarias:

“não são meras casas comerciais, mas locais de transmissão e circulação de ideias e produtos intelectuais de interesse da cultura nacional”.

Aham. Por isso nem pagam aluguel ou impostos, acertei?

Imagine as Edições Paulinas, excelente livraria/Editora católica, tendo que se justificar por não querer vender os livros de Richard Dawkins. Ou as livrarias menores, especializadas em livros de arte tendo que se explicar cada vez que algum mané que imprimiu dez cópias de seus Contos Escolhidos numa vanity press da vida não conseguir local de honra na estante.

Ou então as livrarias evangélicas. Será que elas realmente precisam exibir literatura erótica, científica ou espírita? Como o Deputado pretende suprir a renda das vendas perdidas, quando os clientes passearem e só acharem livros que não querem?

Imagine se a moda pega. Lojas de CD terão que vender todos os CDs enviados para elas. Cinemas terão que exibir todos os filmes enviados pelas distribuidoras. Canais de assinatura passarão todos os programas encaminhados e a loja do Android disponibilizará qualquer porcaria programada pra ele. OK, esse último já acontece.

Já tivemos uma época onde foi moda impor credo a terceiros…

 

A melhor forma de acabar com religião é através do conhecimento, mas isso não se consegue estuprando o sujeito com conhecimento. É algo forçado, barulhento e tende a estragar o livro. Ou o iPad. Acima de tudo tem que ficar claro que o que NÃO está em discussão é o direito do sujeito ter uma religião, e esse direito é desrespeitado no momento em que uma livraria religiosa é obrigada a vender livros que contrariem tudo que seus donos acreditam.

O Deputado se vende como progressista, mas a postura final é tão radical quanto os cristãos que não querem uma mesquita perto do ponto-zero em Nova York ou dos países islâmicos que criminalizam evangelização de outras religiões ou punem ateísmo com pena de morte.

Ateus defendem a tese de que moralidade independe de religião. Pelo menos amoralidade fica claro que não depende. Isso é muito triste e muito errado, e se Deus existisse tenho certeza que concordaria comigo.

Fonte: Gospel+

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