[choronzon] “Sou um lobo horrendo, um predador letal a espreita de sua presa”
[morpheus] “Sou um caçador a cavalo, ataco o lobo com uma lança”
[choronzon] “Sou uma mosca que pica o cavalo e derruba o caçador”
[morpheus] “Sou uma aranha de oito patas devorando a mosca”
[choronzon] “Sou uma cobra venenosa devorando a aranha”
[morpheus] “Sou um búfalo de patas pesadas esmagando a cobra”
[choronzon] “Sou o antraz, a bactéria carniceira, devorando a vida”
[morpheus] “Sou um mundo flutuando no espaço, nutrindo a vida”
[choronzon] “Sou uma nova explodindo, cremando planetas”
[morpheus] “Sou o Universo, abrangendo todas as coisas, abraçando toda a vida”
[choronzon] “Sou a antivida, a besta do julgamento, sou a escuridão no fim de tudo, o fim de universos, deuses, mundos, de tudo. Ssss. E agora, Lorde dos Sonhos, o que você é?”
“Sou a Esperança.”
A disputa acima entre Choronzon, um Duque do Inferno e Morpheus, Lorde dos Sonhos é parte da brilhante e essencial série em quadrinhos Sandman, do Mestre Neil Gaiman. É parte da saga onde Morpheus desce ao Inferno em busca de seu elmo, e ganha a inimizade de Lúcifer. A imagem de que no fim de tudo ainda sobra a Esperança é algo que sempre achei forte, e até hoje, verdadeira.
Notem, não falo de ver sempre o lado bom da vida, de uma forma pollyanesca, recusando a reconhecer a existência do Mal. Ele existe, é cruel presente muito pior que se a grana ergue e destrói coisas belas, o verdadeiro Mal apenas destrói.
Por isso fico especialmente feliz ao ver a ferramenta tão usada pelos propagadores do ódio mostrando seu potencial para propagar essas tais coisas belas, como o vídeo que o Leandro Cardozo me mandou. É de um grupo dinamarquês, Done Right Jr, chamado Chatroulette Love Song.
ChatRoulette, você sabe é aquela porcaria onde um bando de sujeitos mostra o pinto na esperança que algum dia uma supermodelo se apaixone por eles, e enquanto isso ficam… apreciando pintos alheios na mesma busca.
O conceito do clipe é achar uma mulher no Chatroulette e entretê-la com uma canção de amor. O resultado? Veja:
Foi a coisa mais linda que vi ontem, chega a dar pena de quem vive espalhando ódio e não consegue apreciar um vídeo desses.
Outro caso que acho lindo e cito de exemplo sempre de como é muito melhor construir do que destruir é o Meme do Bem que surgiu com este vídeo do Discovery, o bundiábundiá, lembra?
O xkcd, aquele excelente quadrinho geek fez uma versão do vídeo, em seu estilo. Que, por sua vez estimulou Olga Nunes, uma cantorinha (no sentido carinhoso) e blogueira que ama xkcd a demonstrar esse amor fazendo uma versã em vídeo, também no estilo do do Discovery. Com nada mais que simpatia ela vendeu o peixe e reuniu luminares da webosphera angloparlante como Neil Gaiman, Wil Wheaton, Cory Doctorow, Lawrence Lessig, Bruce Schneier, Jason Kottke, Google Zurich, Hank Green, MC Frontalot, Patrick & Teresa Nielsen Hayden, Mr. Toast, Miss Cellania, Team Genius, Phil Plait, Allan Amato, Maddy Gaiman, Charissa Gilreath, Belinda Casas, Chuck Martinez, Jeremy James, Joanna Gaunder, Lee Israel e Octavio Coleman. O resultado?
Isso, meus amigos, é CONSTRUIR, mas só é possível por quem prefere o gosto de mel ao gosto de bile. Só é possível para HUMANOS, não para os seres raivosos que infestam a Internet ultimamente. O próprio autor do xkcd está passando por uma fase horrível, alguém muito próximo está com câncer, então em alguns momentos tenta externar suas emoções em tirinhas como esta. O resultado é que o PRIMEIRO comentário no fórum do site é de um sujeito dizendo que quer piadas e não tem nada a ver com a vida pessoal do autor, e ele que vá chorar em outro canto.
Pra esse, pra esses, a resposta meu amigo, não está no vento, está na música de Chico Buarque, extremamente apropriada:
Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Ainda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
E esse dia há de vir
antes do que você pensa
Apesar de você
Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia