Cada vez que aparece alguma vergonha alheia na internet verde e amarela todo mundo corre para gritar “orkutização”, quase tão rápido quanto os pseudointelectuais moralistas de butique que gritam “fascismo” quando soltamos o bordão “odeio inclusão digital”. Afinal é muito mais fácil xingar no twitter do que combater o problema. Qualquer problema.
A grande falácia, vendida por uma leitura superficial de documentários como Idiocracia é dizer que a Raça Humana está emburrecendo. Tem a mesma consistência das alegações de que nossa saúde está pior pois descobriram muitas novas doenças.
As doenças sempre existiram, mas caíam em diagnósticos genéricos como “virose” ou “treco”.
As pessoas por sua vez sempre acreditaram em correntes. A Internet não criou novos idiotas, eu recebia cartas de esquemas de pirâmide lá nos anos 80. As primeiras são datadas pelo menos do Século XIX.
Não é a Internet que faz uma pessoa acreditar que Aspartame é veneno. A internet só torna mais simples o ato de espalhar a besteira. A loura do banheiro existia em milhares de colégios em todo o mundo (até em Hogwarts, onde era Nerd e morena). Não foi preciso Internet para difundir esse meme.
As pessoas que mandam email de Marte do Tamanho da Lua em 2011 são as mesmas que mandaram em 2010 e 2009. A Internet é culpada por essa gente não ter memória?
Dizem que 90% da Internet é lixo, é descartável. Concordo, mas não é culpa dela. 1% da Humanidade produz conteúdo intelectual, profissionalmente essa fração se reduz mais ainda. O mercado editorial nada mais é que um filtro para conteúdo ruim, mas esse conteúdo já existe. Todo mundo tem idéia de uma historia genial, todo adolescente quer comprar uma guitarra e virar pop star.
Sempre existiram Rebeccas Blacks. Sempre existiram vloggers, sempre existiram podcasters, mas quando nosso programa era gravado em fita K7 e distribuído aos amigos, a exposição era bem menor.
A exposição proporcionada pela Internet como todo presente dos Deuses tem dois lados. Por um dá oportunidade ao conteúdo bom, permite que um projeto de garagem seja economicamente viável. Por outro expõe o lado sombrio, a triste realidade que, como espécie estamos longe de ser brilhantes, geniais, criativos, inventivos, iluminados.
No final das contas quem alerta contra a orkutização no fundo é uma grande Polyanna, achando um culpado para o triste estado geral do Gênero Humano.
Nem dá pra culpar. Se pudesse escolher eu adoraria acreditar que a Internet atrai um tipo especialmente debilitado de gente, e não gente normal.