Michael Kimotho está longe de ser o queniano mais sortudo do mundo, até porque este mora na Casa Branca. Michael é só um professor, na vila de Lanet Umoja, no Quênia Ocidental. Sua sorte piorou mais ainda quando ele e a esposa perceberam que ladrões estavam tentando invadir sua casa, no meio da madrugada.
Vejam a porta que arrombaram. Notem que a condição de professor é meio universal, em países pobres.
O assustado docente fez o que todo mundo faria, ligou para a polícia, mas o país está longe de ter uma SWAT. As chances de ser atendido a tempo eram próximas de zero.
O Chefe Francis Kariuki também sabia. Recebendo o SMS de Peter direto em seu celular, havia pouco que ele pudesse fazer. Responsável por uma área cobrindo 28 mil habitantes, ele não dispunha de pessoal, viaturas, nada. Se não fosse estereotipado e levemente racista, ele bateria tambor para chamar o Espírito Que Anda.
De qualquer jeito o Fantasma estava ocupado com uma desinteligência
Mesmo assim o Chefe Kariuki não deixou Michael na mão. Ele tinha uma arma com a qual os bandidos não contavam: Tecnologia.
Puxando de seu smartphone ele abriu seu cliente de Twitter e enviou uma mensagem para seus 300 (hoje 1244) followers, avisando que havia bandidos na casa do Professor Kimotho.
Eram 4 da manhã, mas assim como os brasileiros, tuiteiros quenianos também não dormem. Uma multidão (gosto de imaginar, com tochas) foi para frente da casa. Os ladrões, apavorados fugiram pelo “muro” dos fundos.
Entre mortos e feridos salvaram-se todos, nada foi roubado e mais um dia transcorreu normalmente na vida do Chefe Kariuki. A ocorrência foi rotineira. Como o país carece de infraestrutura de comunicações fixas, a população faz muito uso de celular, e o Chefe incentiva isso.
Ele utiliza o Twitter para enviar boletins comunitários que de outra forma teriam que ser impressos, com uma verba que ele não dispõe. Seus “meros” 300 followers na verdade são muito mais, pois as pessoas recebem seus twits e os replicam via SMS para amigos e vizinhos sem smartphones ou computadores. Outros usam sites que fazem automaticamente a ponte Twitter/SMS.
Ele tuita informações como “há uma ovelha branca e marrom perdida, com uma corda de nylon amarrada ao pescoço. Pertence ao pai do Mwangi” – a ovelha foi encontrada. Uma vaca roubada foi abandonada (provavelmente sem as calotas) depois que ele descreveu o roubo.
Kariuki e seu twitter conseguiram até arrecadar fundos para uma operação que salvou um cachorro. Diz ele que até alguns bandidos da região o seguem no twitter, em uma espécie de versão africana do @LeiSecaRJ.
Embora ame tecnologia eu não muito compro muito a idéia e fico reticente com o discurso tecnocrata de que ela resolverá os problemas da Terra. Não acho que jogar laptops de paraquedas em aldeias remotas vá melhorar a vida das crianças, mas é bom ver que pelo menos de vez em quando a tecnologia, nas mãos das pessoas certas, faz toda a diferença do mundo.
Fonte: Telegraph