Celebridades Mercenárias ou modelo de negócios revolucionário?

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Zack Braff é um ator consagrado. Nunca foi um megastar como Tom Cruise, nunca esteve no primeiro escalão do cinema mas tem uma legião enorme e fiel de fãs. Ele fez de Scrubs um sucesso, Cindy Melissa Katia Patricia Michelle John Dorian ganhou vida e dimensão, a série era uma montanha-russa emocional, a comédia era substituída por drama sem aviso. Quem viu o arco com o Brendan Fraser sabe do que estou falando.

Agora com outros projetos, ele tentou produzir um filme pequeno mas honesto, Wish I Was Here, mas teve dificuldades com financiamento. A saída foi usar o Kickstarter, aquele site onde pessoas apresentam projetos e pedem financiamento coletivo. Ele pediu US$2 milhões, aceitando contribuições de US$1,00 para cima.

Os fãs adoraram, dos 30 dias regulamentares de arrecadação ainda faltam 6 e ele já juntou US$2,67 milhões. Mas não sem controvérsia.

 

Alguns fãs e outros tantos críticos protestaram. Disseram que era injusto Zack Braff usar o serviço, que deveria ser uma ferramenta dos pequenos, para conseguir dinheiro. Ele é um grande nome em Hollywood e não teria dificuldade em trabalhar os canais convencionais.

O contra-argumento é que o serviço está disponível para todos, e os fãs têm direito de escolher onde vão gastar seu dinheiro, e se eles preferem financiar um filme de seu ator favorito, é a vontade eles.

Também foi demonstrado que Zack Braff trouxe um monte de novos membros para o Kickstarter, que por sua vez financiaram um monte de outros projetos, incluindo na área cinematográfica.

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Agora Kevin Smith entrou na conversa, dizendo que pensou em usar o Kickstarter para financiar Clerks III, mas pensou bem e isso seria injusto com o diretor independente iniciante. Kevin fez seu primeiro primeiro filme, Clerks, estourando os cartões de crédito e vendendo a coleção de gibis. O orçamento foi de US$25 mil.

Ele gosta de (corretamente) dizer que hoje qualquer garoto com um iPhone pode fazer o próximo Clerks, que as ferramentas são incríveis e poderosas e acessíveis a qualquer um, mas os custos ainda são altos no que tange à produção. Aí o Kickstarter pode fazer a diferença.

Pessoalmente concordo com os dois. Eu acho que qualquer um pode usar o serviço que quiser. Não vou dar piti como vários deram no início do Twitter, ao ser jogados pro fundo dos rankings quando as celebridades de verdade entraram no serviço e angariaram milhões de seguidores.

Por outro lado, a quantidade de dinheiro é finita, e entre um sujeito sem nome e sem currículo, e o diretor que gosto e admiro, meu dinheiro VAI para esse segundo. Quero Clerks III, não um curta-metragem sobre hábitos migratórios de andorinhas africanas.

A argumentação mais poderosa porém veio de outro grupo, que questionou o modelo dizendo que seria pervertido pelos estúdios. Logo começariam a transformar o Kickstarter em laboratório e fonte de renda, pedindo orçamentos cada vez mais altos. No final o fã financiaria um projeto que seria sem-risco para o estúdio (quem não daria US$1,00 para iniciar logo a produção de Vingadores 2?) e acabaria pagando duas vezes, ao comprar a entrada do cinema.

Parece ser exatamente o que aconteceu no caso do Zack Braff, investidores “de verdade” entraram e injetaram mais dinheiro, subindo o orçamento do filme para US$10 milhões, com a segurança que 2,6 desses eram de gente interessada, um ótimo sinal.

Esse é mais um daqueles dilemas morais oriundos das novas tecnologias. para o qual ainda não há resposta. Crowdfunding, como todo conceito envolvendo pessoas é muito bonitinho e simples no papel, na prática a teoria é outra.

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