Breve Manifesto contra  Racismo na Ficção Científica

Breve Manifesto contra Racismo na Ficção Científica

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Whoopy Goldberg gosta de contar como um dia, criança, chamou a mãe correndo para ver uma moça negra na TV que não era uma empregada. A moça negra em questão era a Tenente Uhura, uma das oficiais da ponte da USS Enterprise, a nau capitânia da Frota Estelar em Jornada nas Estrelas.

No final dos Anos 60 Gene Roddenberry colocou uma negra em uma posição de comando, quando no mundo real ela não poderia nem legalmente se casar fora da raça, em alguns Estados.

Uhura foi uma das idéias que Roddenberry fez a emissora engolir. No primeiro piloto da série a 1a Oficial era mulher, inclusive. 20 anos depois da Grande Guerra um ator gay que havia vivido em campos de prisioneiros japoneses e descendentes nos EUA era o navegador da Enterprise. Ao lado de um russo.

O computador da Enterprise? Construído por um gênio da computação chamado Dr Richard Daystrom.

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Enquanto queimavam cruzes e enforcavam negros no Sul dos EUA, Roddenberry colocava um como cientista interplanetariamente famoso.

Quando um script pediu um beijo entre a Tenente Uhura e o Capitão Kirk várias emissoras se recusaram a passar a cena. A NBC tentou resolver exigindo a filmagem de duas cenas, com e sem beijo. Roddenberry Shatner e Nichelle conspiraram e erraram todas as cenas sem beijo até não haver mais tempo.

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Star Trek discutia temas sociais por sua ausência. Não havia sexismo ou racismo, mostrar pessoas de várias etnias e origens interagindo com respeito e profissionalismo era uma boa forma de passar a mensagem, mas às vezes eram mais direitos.

No clássico Let That Be Your Last Battlefield a Enterprise encontra dois aliens que são idênticos exceto por sua coloração invertida.

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Os dois são membros da mesma espécie, mas se identificam como espécies isoladas, estão em uma luta de 50 mil anos com os dois povos se desprezando, com histórico de escravidão, segregação e declarações de inferioridade, afinal “veja o rosto dele, é preto do lado esquerdo. isso é nojento”.

No final eles descobrem que o planeta de origem dos dois havia sido destruído por uma guerra racial, e ainda assim continuam lutando.  Foi um grande episódio admiravelmente escrito por Gene Coon.

Jornada nas Estrelas manteve essa tradição da ficção científica, lidar, através de metáforas e alegorias com questões sociais. O mais obtuso dos racistas acharia idiota brigar por causa de metade do rosto ser da cor errada, e muita gente conseguiu extrapolar isso para o rosto inteiro.

Em Deep Space Nine Jornada nas Estrelas teve seu primeiro comandante negro, mas não era esperado que ele lidasse diretamente com racismo, afinal estavam no Século XXIV. Mesmo assim Benjamin Sisko foi protagonista de Far Beyond The Stars, talvez o melhor episódio da série.

DS9 conta a história de uma estação espacial da Federação em uma zona de conflito, onde um planeta que foi por muito tempo ocupado por invasores tenta se recuperar, enquanto é observado pelos Profetas, alienígenas vistos como deuses pelos habitantes de Bajor, e que interagem de vez em quando com eles.

Benjamin Sisko foi escolhido pelos Profetas como Emissário, e costuma ter visões. No episódio elas se intensificam, até que ele acorda como Benny Russel, um escritor de ficção científica em Nova York dos Anos 50.

Ele trabalha em uma revista de ficção, junto com outros autores, todos personagens de Deep Space Nine, mas sem maquiagem. Embora seus contos sejam populares, ele não aparece nas fotos dos escritores, os fãs não gostariam de saber que estão lendo histórias escritas por um negro.

A Major Kira é K.C. Hunter, autora que assina com as iniciais para que os fãs não descubram que é mulher. Isso foi uma referência à grande roteirista de Star Trek Dorothy Fontana, que assinava como D.C. Fontana pelos mesmos motivos.

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Benny escreve um conto sobre uma estação espacial no futuro onde não há pobreza ou racismo ou discriminação, e o comandante é um negro, Benjamin Sisko. O dono da revista manda recolher e destruir a edição, dizendo que ninguém comprará uma história com um protagonista “de cor”.

O episódio inteiro mostra Benny sofrendo com racismo diário,  hostilizado pela polícia, que não acredita que um negro seja capaz de escrever literatura, cobrado pelos amigos por não arrumar um emprego condizente com sua situação, e por aí vai.

Sua única esperança é o futuro que ele sonhou.  Veja esta cena onde Benny, brilhantemente interpretado por Avery Brooks descobre que sua história foi rejeitada e a edição destruída:

 

Far Beyond The Stars é baseado em uma história de Marc Scott Zicree, com roteiro de Ira Steven Behr e Hans Beimler. Foi indicado para 3 Emmys.

Jornada nas Estrelas sempre mostrou o melhor e o pior do ser humano. Nós erramos, nosso passado é horrível mas aprendemos, melhoramos, nos aprimoramos sem perder nossa humanidade. Klingons, terríveis inimigos do passado, agora são aliados. Todos mudamos, se possível para melhor.

O dedo sempre foi metido na ferida, seja via alegorias, seja mostrando com todas as letras como pessoas eram segregadas, mesmo pelo fandom que tanto gostava do trabalho delas.

Temos muito a agradecer ao grupo responsável pelos episódios acima, uma pequena fração do que foi Star Trek e a ficção científica como um todo.  Eis esses rostos:

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Yoda me ensinou que não se pode julgar as capacidades de alguém com base na aparência. Star Trek me ensinou que toda criatura senciente merece respeito, não importa a espécie, e que em um universo de Infinita Diversidade em Infinitas Combinações, é ilógico achar que alguém é melhor ou pior por causa de cor, raça, sexo ou planeta de origem.

Por isso eu fico pra morrer quando vejo isto aqui:

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Isso mesmo. Um evento que pretende discutir diversidade e representatividade em ficção científica, com discurso de inclusão e que de cara proíbe a participação de palestrantes baseado em orientação sexual, gênero e raça.

Não é isso que eu aprendi com ficção científica, mas há vários ditos “nerds” defendendo essa atitude. Pela lógica deles um sujeito que briga com a emissora para botar um casal interracial se beijando ou um autor  que faz um episódio didático mostrando que racismo é errado e idiota não têm nada a dizer. Porque são da cor errada.

estão justificando essa segregação de mil maneiras mas se eu aprendi direito com Far Beyond The Stars, no fundo não passa do bom e velho racismo mesmo.

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