O maquiavélico plano feminista que matou 700 mulheres (e foi genial)

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Essa moça da foto era uma encrenqueira. Total. Tinha que ser, afinal Caroline Haslett era fanática por eletricidade, algo incomum para quem nasceu em 1895 e basicamente inédito para uma mulher. Fascinada por ciência, ela se formou em engenharia elétrica na mesma época em que toda moça sensata preparava o enxoval. E isso foi só o começo.

Caroline via na eletricidade a grande revolução feminina, e não falo do vibrador, o terceiro aparelho a ser eletrificado. Era a máquina de lavar, o aspirador de pó. A utopia de Caroline era que com aparelhos elétricos as mulheres cumpririam suas tarefas domésticas mais rapidamente e teriam tempo para dedicar a si mesmas, sair, estudar, aprender, conhecer o mundo fora de suas casas.

É uma visão que se tornou realidade, e nem demorou tanto.

Em 1919 ela se tornou a primeira Secretária da Sociedade de Mulheres Engenheiras, de Londres. Em 1925 a organização sediou a primeira Conferência Internacional de Mulheres na Ciência. Ela também foi a única mulher a participar da Conferência Mundial de Energia em Berlin, 1930, foi pioneira em um monte de eventos e cargos, mas talvez seu maior e mais subversivo feito tenha sido durante a Segunda Guerra Mundial.

Tratados Internacionais e a opinião pública mantinham mulheres longe da frente de combate. Era impensável mulheres usando armas, era pouco feminino além de ameaçar o lado masculino dos homens combatentes. Só que quando a porca torceu o rabo a Inglaterra descobriu que estava ficando sem homens, então criaram o Auxiliary Territorial Service, uma força inicialmente voluntária de mulheres que cumpria papéis secundários, longe das linhas de frente.

Essa moça aqui é a Rainha da Inglaterra, então princesa. Ela serviu como motorista de ambulância durante a Grande Guerra.

Caroline Haslett não gostou de ver mulheres excluídas e colocadas como cidadãs de segundo escalão, mas como fazer textão naquele tempo dava muito trabalho, ela arquitetou um plano mais simples: Primeiro arrumou um aliado, o General Sir Frederick Alfred Pile, comandante das forças antiaéreas britânicas, que tinha a infeliz missão de defender o território usando forças voluntárias e soldados velhos demais para as linhas de frente.

O General Pile estava desesperadamente atrás de homens para operar seus postos, e ele não tinha nenhuma preocupação especial se esses homens eram indivíduos portadores de vaginas, desde que tivessem dois braços e duas pernas.

Os dois sabiam, claro, que não poderiam simplesmente colocar mulheres nas baterias de canhões. Se forçassem algo assim a opinião pública seria contra, os políticos seriam contra e os soldados se recusariam a trabalhar lado a lado com as mulheres. Em um sensacional ato de consenso, os dois chegaram a um meio-termo: Se as mulheres não operassem diretamente as armas todo o resto seria liberado para elas.

Surgiram as chamadas Ack Ack Girls. O nome é por causa do barulho dos canhões. Eram jovens entre 20 e 30 anos (embora várias de 16 tenham se voluntariado e ninguém se preocupava em pedir a certidão de nascimento) que cuidavam de toda a parte complexa de monitoramento, detecção e cálculo de tiro das baterias antiaéreas.

Elas foram treinadas na operação de equipamentos complexos, tecnologia topo de linha da época, aprendiam a identificar aviões, calcular distâncias com teodolitos, marcar alvos e alimentar computadores que calculavam e projetavam as trajetórias, que então eram repassadas para as armas.

As baterias costeiras foram especialmente úteis quando os alemães começaram a atacar com bombas voadoras V1, mas Hitler não deixou isso passar impune. Os grupos eram constantemente atacados por aviões nazistas, como recorda  Vera (Vee) Robinson, que tinha 18 anos em 1941:

“As V1 soavam como motocicletas mas pareciam um avião com chamas saindo pela traseira. Eu me lembro de uma ocasião quando as meninas estavam dormindo em um caminhão -todas de uniforme- quando os foguetes começaram a cair. Elas não podiam chorar, então ao invés disso todas começamos a rir.”

O plano maquiavélico de Caroline Haslett estava funcionando. A própria filha de Winston Churhill servia nas baterias antiaéreas, a população aplaudia o esforço de guerra e a participação feminina e os soldados não se sentiam ameaçados. Mesmo os que eram francamente contra a presença delas em posições de combate.

Um desses era o Tenente-Coronel J.W. Naylor, que não queria de jeito nenhum servir em uma unidade mista, foi obrigado e tempos depois acabou deixando registrado para a História:

“De um modo geral elas começam mais lentas, mas uma vez que pegam a idéia geral o progresso é bem rápido. As estimadoras de altitude são sempre boas, e em minha opinião são melhores que os homens. As que fazem projeção de números depois de um progresso gradual se tornam realmente eficientes. As identificadoras de aviões são… ok. Parece ser difícil para elas identificar aeronaves. Isso é bem compreensível pois mulheres nunca mostraram o mesmo interesse que homens em tipos de aviões, mas elas estão pegando o jeito e -como é típico de mulheres- depois que elas dominam alguma habilidade, não esquecem mais”

Ao final da guerra 707 mulheres foram mortas servindo seu país nas baterias antiaéreas, muitas delas de forma covarde, nazistas costumavam atacar furtivamente durante nevoeiros, metralhando os postos costeiros.

Não há registros oficiais, mas duvido que durante um desses ataques as meninas não tenham corrido -rindo- em direção às armas, cuidado dos homens feridos, movendo-os gentilmente do caminho e então, usando todo o know-how de anos de treinamento e observação, reiniciado os disparos, mandando os chucrutes pro inferno.

Caroline Haslett, a estrategista feminista que moveu as peças habilmente para mostrar ao mundo do que mulheres são capazes morreu em 1957, aos 61 anos tendo seu merecido reconhecimento, sendo inclusive recebida com honras pelo Presidente dos EUA. Hoje mulheres servem em postos de combate ao lado de homens, para desespero do ISIS, que sabe que se for morto por uma mulher, adeus 72 virgens.

Ao contrário da geração mimada de hoje, que quer tudo, agora, de uma vez Caroline acreditava em evolução gradual. Ela estaria até hoje chilicando em cartas para jornais se exigisse mulheres pilotando Spitfires. Preferiu ser inteligente e praticamente sozinha criou a cultura de mulheres em posições de combate. O mundo real é assim, avanços são graduais.

Em 1980 40% dos especialistas de mísseis e 67% das esposas eram contra a presença de mulheres operando essas armas.

Em 2016 pela primeira vez TODAS as tripulações dos silos de mísseis nucleares balísticos intercontinentais dos EUA eram compostas 100% por mulheres.

Isso mesmo. O maior arsenal nuclear do planeta ficou todo a cargo de mulheres. Caroline Haslett ficaria satisfeita. Tá bom de empoderamento ou quer mais?



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