O Dia em que a Lei me pegou e fui buscar ajuda em Jesus

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15 O Dia em que a Lei me pegou e fui buscar ajuda em Jesus

A Internet tem um monte de Leis, como a Regra 34, que determina que se algo existe, há uma versão envolvendo sacanagem. Sim, existe. Há até um conto erótico entre a Hermione o o Chapéu Seletor. A Lei de Godwin, que diz que em uma discussão online quanto mais tempo ela durar mais próximas de 100% são as chances de alguém comparar alguém a Hitler.

Uma das Leis mais clássicas é a Lei de Poe, que determina que na Internet é impossível criar uma paródia sem que alguém acredite que é verdade. Pode parecer impossível não perceber quando algo é uma paródia, mas não é tão simples. Às vezes as pessoas estão tão dentro da suas zonas de conforto, das suas câmaras de eco que não percebem a piada.

Em Team America os atores de Hollywood são parodiados como idiotas liberais egocêntricos, e os listava como membros da fictícia Film Acts Guild.

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Sim, é uma piada infantil, besta e homofóbica, F.A.G.  é o equivalente a B.I.C.H.A. e todo mundo com 12 anos de idade mental adorei a cena.

Eis que descubro que existe FAG pro aqui. Só que se eu ou um Não Salvo da vida criássemos a Federação Anarquista Gaúcha seríamos acusados de preconceito, discriminação e pior, fazer piada ruim e óbvia, poxa, colocar gaúcho no meio é muito na cara, evidente que é zoeira. Só que não.

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Um caso famoso que invoca a Lei de Poe são os quadrinhos de Jack Chick, um artista cristão conservador que morreu em Outubro de 2016. Ele prega a mesma mensagem de ódio  e intolerância da maioria do pessoal que faz sucesso na TV, criticando a sociedade moderna, gays, rock, roupas curtas, até Satã, coitado. Só que Jack Chick fazia sucesso também entre… gays, roqueiros, periguetes, ateus, satanistas e outros.

O motivo? A mensagem de Jack Chick era tão exagerada que perdia seu efeito, não era possível se ofender com aquilo. As pessoas colecionavam e aguardavam as novas Chick Tracts, como eram chamadas as histórias.
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Isso mesmo. Nem a pobre Feiticeira, em toda sua inocência estava livre da crítica de Jack Chick. Coitada da Samantha, que nunca fez nada de errado na vida, nem de certo, em 254 episódios ela sequer apareceu na cama com o marido, e olha que teve dois.

A obra de Jack Chick funciona como uma espécie de anti-paródia, é algo criado para ser sério mas que satiriza a si mesmo. Até então era meu melhor exemplo da Lei de Poe, mas agora foi superado, graças a este quadrinho que apareceu na minha timelinda:

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A questão aqui não é se há gente que concorda com a mensagem. Eu não vivo com a cabeça enfiada na terra igual eleitores da Hillary, que achavam impossível o Trump ganhar afinal ele é um monstro diabo na Terra, come criancinhas etc etc e sabe-se mais lá o quê falavam nas páginas lacradoras do Feice.

Existe um monte de gente de verdade, gente normal, gente comum que gosta da mensagem mais conservadora.  Essa gente se assusta com o extremismo liberal mais do que liberais se assustam com o “tio reaça” das ceias de Natal. Para cada conservador que acredita que o PT estava construindo um gulag debaixo do Itaquerão, há um comunista que tem plena certeza que os EUA vão roubar a Amazônia, se bem que esse exemplo uniu os dois extremos.

Meu problema com esse quadrinho é que eu não consegui identificar se é real ou sátira, e isso me incomoda. Me considero um conhecedor da Internet, estudo bastante a arte do humor, planejo inclusive um dia escrever um livro sobre isso. Mas mesmo assim me é impossível determinar se o quadrinho é pró ou contra, se defende ou satiriza o Bolsonaro.

Eu não fui na página do quadrinista, isso responderia a pergunta mas mataria a obra. Uma peça de humor tem que se sustentar sozinha. Não há problema em ser ambígua, as melhores piadas o são. Em um episódio recente d’Os Simpsons Homer vai a uma feira com o porco de estimação (Yes, Spiderpig vive) e comenta:

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“Veja, todo mundo está olhando para nós! É como levar Elizabeth Taylor ao Oscar”

Há duas leituras, uma bem positiva e uma bem ofensiva, depende da imagem mental que você faz da Elizabeth Taylor.

O Bolsomito não é assim. O Bolsomito é o contrário, não é uma piada com duas leituras, são duas coisas opostas existindo em um estado de superposição quântica, mas que não é destruído quando é observado. Pelo contrário, a ambiguidade só fica mais forte.

Eu desisto, não consigo entender o Bolsomito. O jeito é apelar. Help me Jesus, você é minha única esperança!

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