Sobre Disney e Desenhos Gays: O Malafaia é o menos errado nessa história.

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vlcsnap-00009 Sobre Disney e Desenhos Gays: O Malafaia é o menos errado nessa história.

Essa semana o pastor Silas Malafaia fez das suas de novo. Ao saber que em um desenho animado da Disney seria exibido um beijo gay, entrou em pânico total e saiu em defesa da moral, dos bons costumes, da tradição, da família e da propriedade. Diz que a cena “induz crianças ao homossexualismo”, que a Disney é asquerosa e nojenta, que comprou a Agenda Gay. Seu bobinho, gays são antenados, todos usam o Calendário do Google faz tempo.

Eu pensei em fazer um texto demonstrando como isso é idiota, mas então resolvi pesquisar. Todo mundo minimamente racional acha ridícula essa alegação de que o comportamento fundamental das crianças pode ser influenciado por uma simples cena de desenho animado como esta, certo?

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Minha pesquisa mostrou algo diferente. Aparentemente o Pastor não está muito errado, pois segundo a militância…

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A Bela e a Fera promove Síndrome de Estocolmo, e não é só isso…

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Sim, “romantiza violência e abuso”. Pelo visto o Gaston era o herói mesmo. Mas tudo bem, talvez o Pica-Pau, todo mundo gostava e de vez em quando se vestia de mulher para enganar os adversários…

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Sim, Pica-Pau é transfóbico também. OK, vamos continuar. Wall-E, ninguém pode falar mal do fofo do Wall-E, certo?

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“Extremamente gordofóbico”.

OK, chega, cansei, vamos para as Arábias, para a Lendária Agrabah, onde acontece a história de Aladdin que na verdade é na China:

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Animes? OK, esses são sacanagem mesmo, são safadinhos e feitos pra provocar. Qual o problema?

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Aqui vai mais pela diversão de ver o chilique:

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Isso mesmo, a Ásia, maior continente do planeta, 48 países, de longe a maior parte da população foi reduzido pasteurizado unificado em uma coisa só, monolítica. A floquinha conseguiu ser incrivelmente racista, colocando no mesmo balaio Chipre e China, Emirados e Índia. “governo da Ásia”, pfffft.

Ah mas estou sendo superficial. O pessoal não deve se aprofundar nessas problematizações, certo?

Errado. Escrevem trabalhos “Provando” que os desenhos da Disney são sexistas. Zé Carioca, Pateta nos Pampas? Racistas e problemáticos. Descrevem como a “hypersexualização”  (mentira, não admitem a mas remota e leve sexualização que dirá a hyper) cimentará para sempre a sociedade machista piroco-exploradora, com absurdos como a Arlequina e a Mulher-Maravilha que são (o horror!) gostosas.

Segundo a militância histórias e quadrinhos, filmes e desenhos animados perpetuam opressão, sexismo, homofobia transfobia, misoginia e todo o mal que há no corações dos homens, até os que o Sombra não conhece. A simples exposição a um desenho “problemático” é suficiente para transformar crianças em monstros porcos machistas esTRUpadores. Por isso promovem boicotes, inclusive a materiais artisticamente lindos como a capa de Batgirl celebrando A Piada Mortal.

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A história, uma das obras-primas de Alan Moore vive sendo atacada, não muito tempo atrás tentaram bani-la de uma biblioteca, por “promover estupro e violência“. A militância concorda. Tal qual muçulmanos ofendidos com caricaturas de Maomé, entendem que um simples desenho-animado, uma simples ilustração “normaliza violência contra mulheres”, promove “cultura do estupro”. Ou seja: Alguém vai ver a imagem e achar que é normal barbarizar (too soon?) mulheres.

Piadas também, o discurso é de que se você faz um show de stand-up com piadas consideradas ofensivas a minorias, é o mesmo que promover e legitimar violência contra essas minorias. Portanto, más notícias se você riu nesta cena de Banzé no Oeste:

 

 

Também não convém rir desta cena de Monty Python – A Vida de Brian:

Eu posso, não sou exemplo a ser seguido, então nunca me seguro:

“Bryan, seu pai era Romano!”

“Então você foi estuprada, mãe?”

“Só no começo…”

 

A militância passa o tempo todo patrulhando toda a mídia atrás de tudo que considere ofensivo, atribui poderes incríveis de influência aos mais bestas e insignificantes gibis, às vezes cenas isoladas são o suficiente para colocar em risco décadas de avanços sociais.

Neste ponto, chego em um impasse. Há duas possibilidades: Ou o Pastor Malafaia está certo, e o beijo gay da Disney influencia as crianças, afinal a Militância tem muito mais exemplos de como desenhos podem ser malignos e influenciadores, ou então o Pastor falou uma imensa bobagem e ninguém vira gay por causa de um desenho, e a militância além de imbecil e retardada é hipócrita, pois está acusando o Malafaia quando fazem A MESMA COISA o tempo todo. Sendo que não, um desenho não vai te tornar homofóbico NEM gay.

Por isso preferi ficar de fora dessa polêmica. Acho hipócrita demais, é como as ofendidas com “hypersexualização”  e “objetificação” que não acham problema nenhum na bunda do Hugh Jackman em Wolverine, ou nisto:

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Adivinhe, crianças, não há problema nenhum. A mulherada se amarra em ver o Thor  mostrando os músculos, e a gente se amarra em ver a Scarlett Johansson, pessoas normais gostam de gente bonita, não entram em crise por causa disso. Nós sabemos diferenciar realidade e ficção. Ninguém virou gay até hoje por causa do Pernalonga vestido de mulher, nem muito menos transfóbico pelos mesmos motivos. Ninguém também tentou descer as cataratas do Niágara em um barril por causa do Pica-Pau, embora nesse caso eu admita que foi falta de oportunidade.

Minha conclusão é que nesse debate os dois lados estão errados, Malafaia errado por natureza e a Militância errada E hipócrita. E se dois erros não fazem um acerto, que dirá três. A todos recomendo apenas uma coisa: BOM SENSO. Há muita coisa errada no mundo, mas também há muita coisa certa, muita gente disposta a acertar e muita coisa inofensiva.

Afinal, quando no primeiro episódio de Drawn Together a Princesa Clara foi incrivelmente racista sem perceber, Foxy Brown decidiu que ao invés de brigar poderia abalar o mundo da jovem e descarada paródia da Disney de outra forma, que aliás é incrivelmente ofensiva tanto para o Malafaia quanto para a Militância. Do jeito que eu gosto.

 

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