Quem me conhece sabe que eu sou o primeiro a criticar o jornalismo atual. Uso a alcunha “jornaleiros” o tempo todo, para referenciar aquele pessoal cujo único objetivo é vender jornal. Não vou me desculpar por isso, embora fique triste se Jornalistas de verdade acham que falo deles.
Vou contar um segredo aqui, que não revelei para ninguém. Eu escolhi Publicidade, no longínquo ano em que resolvi fazer UFF por não me achar bom o bastante para ser jornalista. Eu cresci amando a leitura. Meus heróis eram cronistas, escritores e jornalistas. Richard Bach vendia seus textos para revistas. Quando enviei uma crônica para a revista Micro Sistemas e ela foi publicada foi o dia mais feliz da minha vida.
O Super Homem podia mudar como um deus o curso da História mas só Clark Kent poderia reportá-la. Kent não era um alter ego inútil. Em várias histórias ele conseguiu com suas matérias denunciar injustiças, prender empresários corruptos, divulgar conspirações. Lois Lane também era muito mais que uma dama em apuros.
No mundo eu acompanhava notícias do mundo todo nos jornais, rádios e TVs. Hermano Henning, Castelo Branco, Paulo Francis, Élio Gaspari, Villas-Bôas Corrêa, a lista é imensa, cabe até o Pedro Bial, que por causa do Efeito Mandela todo mundo lembra na queda do Muro de Berlim mas ele cobriu foi o fim da União Soviética.
Esse jornalismo corajoso hoje está em extinção. Editores aprovam matérias de UM parágrafo, comentando um vídeo efêmero com algum bicho idiota. Se uma matéria leva mais de 3 horas para aparecer no site, ninguém lê, é considerada velha. Kim Jong Un não tem 10% da importância de Kim Kardashian.
Jornalismo iniciou um romance nefasto com o entretenimento, um texto do Guga Chacra sobre o ISIS é avaliado da mesma forma que um post do Ego sobre a celulite da Scarlett Johansson. É claro que jornalismo precisa de audiência para sobreviver, mas é uma segmentação cruel. Um documentário no History Channel sobre Hitler nunca chegará a arranhar a audiência de uma mesa redonda de futebol, mesmo sem a Maitê Proença pelada.
Eu entendo perfeitamente a necessidade do History passar seus Tratos Feitos, é o que o povo quer, e esse é o problema.
Meu pedido de desculpas não é ao History, por entender o motivo de desviarem tanto do tema do canal. Meu pedido de desculpas é aos jornalistas e documentaristas, pois eu assisto o History.
Eu sou parte do problema. Por inércia vejo os programas de penhores, de leilões, os intermináveis e indistinguíveis entre si programas de culinárias. Vejo alienígena dos passado para falar mal do Tsoukalos. Eu replico as matérias-lixo do Jezebel. Chilico por causa do Buzzfeed e vivo criticando e assim divulgando matérias da Vice, aquele portal nefasto caça-cliques que tem toda a credibilidade de um site que ensina a chupar o próprio pau. Literalmente.
Aí se você for na minha Timelaje no Twitter, quase não vai achar links pra boas matérias sobre TV do Maurício Stycer, não vai me ver comentando o excelente programa da Mariana Godoy, não lerá indicações sobre os jornalistas que cobrem conflitos, muitas vezes presencialmente e que várias vezes tuitaram sob fogo.
Eu não tenho tempo. Estou ocupado vendo a próxima bobagem, respondendo o próximo meme. Eu reclamo que não há mais jornalismo, mas sou o primeiro a não consumi-lo. Quero um jornalismo respeitável mas eu não o respeito. Sou o primeiro a dar RT nas bobagens do estagiário da Folha, mas o último a divulgar as boas matérias.
Em um episódio antológico de The Newsroom Will McAvoy se desculpa ao espectador por ter tornado seu jornalismo em entretenimento, buscando audiência e não informação.
Seria lindo ver a imprensa brasileira tomando essa consciência, se desculpando por ter transformado o jornalismo em um show de egos, celebridades, nãotícias e ex-BBBs. Não sei se isso vai acontecer, mas seria apenas metade da história.
Will lembra que adultos devem assumir a responsabilidade por suas falhas, e é o que estou fazendo agora. Pedindo desculpas aos Verdadeiros Jornalistas, mesmo aos presos na roda-viva do entretenimento, afinal conta todo mundo tem. Eu enquanto leitor exijo que o jornalismo seja respeitável. É preciso que eu faça a minha parte e respeite o Jornalismo, coisa que não venho fazendo.
Isso vai mudar. Começarei a fazer a minha parte, afinal Jornalismo de qualidade precisa de leitores de qualidade.