Acho que vocês já perceberam mas a Internet me diverte. Tenho um lado sádico que adora ver gente passando vergonha, até pelo motivo de que pelo menos dessa vez não sou eu. Conflitos internacionais são especialmente férteis em bobagens, e nada mais auto-adubado que as redes sociais para germinar abobragens. A bola da vez é o conflito na Síria.
Nem vou comentar sobre o pessoal achando que o Trump é o primeiro a bombardear o país, enquanto o resto do mundo dançava ciranda cantando Kumbaya, esses são fáceis demais. Meu alvo do dia são os JÊNEOS que só vivem de associações básicas e desde a primeira Guerra do Golfo determinam que qualquer conflito na região se resume a “americanos querendo roubar o petróleo”.
Você sabe, você conhece vários, e já percebeu que eles desapareceram quando o preço do petróleo não subiu desesperadamente, e não conseguem explicar por quê caiu, ou como a OPEP ainda manda e desmanda como sempre, e como os árabes estão desesperados cortando produção pro preço não cair mais ainda.
A bobagem máxima entretanto foi isto aqui:
Segundo o Gabriel, veio de uma página de geografia com 3000 curtidas, e eu não me surpreende. O antiamericanismo histérico do brasileiro cega todo mundo. Aquela bobagem inacreditável de americanos roubando a Amazônia eu recebi de uma conhecida que era tradutora da Editora Abril, e até aluno do Open English percebe na hora que o troço nunca teria sido escrito por um gringo.
A explicação do post respeita a Navalha Enferrujada de Occam: Todo problema tem uma explicação simples óbvia e retardadamente errada. Sim, é reconfortante ter um bom vilão, ainda mais se ele for gente boa e continuar fazendo iPhone pra gente enquanto falamos mal dele, mas é preciso evitar cair no ridículo.
Vamos então usar a bundinha e testar a veracidade da afirmação acima. Primeiro, estão sugerindo que o petróleo saudita sai pelo Iêmen, algo não-recomendado visto que o país está no meio de uma guerra civil. A opção seria um oleoduto até a Síria, que então seria fantoche dos malvados EUA. Problema: O Oleoduto Trans-Arabia foi construído em 1949, ligando a Arábia Saudita ao Líbano.
Ele funcionou até 1990, quando a instabilidade da região o tornou inviável.
“Ah então os caras estão certos”
Não. Tem dois pequenos problemas ali. Vejamos um mapa das rotas de petróleo no mundo:
Como assim tem petróleo saindo pelo Mediterrâneo? Será das imensas reservas israelenses? Nah, eu explico: Os retardados da tal página de Geografia esqueceram a existência de um negócio inaugurado em 1869: O CANAL DE SUEZ.
Isso mesmo, retardados. Os navios recebem petróleo saudita no terminal em Al-Baha seguem pelo Mar Vermelho e de lá pelo Canal de Suez, THE END. O único oleoduto no caminho fica 100% em território saudita, e esse é o segundo problema: A maior parte da produção de petróleo deles é no Golfo Pérsico, no outro lado do país.
Economicamente faz mais sentido encher os navios lá do que em Al-Baha, o oleoduto vira um gargalo.
“Ah mas então vão todos por Suez?”
NÃO! Esse é o TERCEIRO PONTO que os retardados não entendem. Atravessar o canal custa caro, um cargueiro dos grandes tem que pagar US$465,000,00 por passagem, e com petróleo barato isso não compensa. A fila é imensa, você leva dias pra receber permissão, e isso aumenta mais ainda os custos.
As empresas preferem seguir a rota contornando a África, assim podem navegar bem mais rápido, e chegar na data certa, o que é economicamente vantajoso, navio parado não gera dinheiro.
Conclusão: Em nome da lacração os retardados do Facebook inventaram uma bobagem imensa, mas pensando bem, qual a novidade?