Durante a Segunda Guerra algumas das decisões mais difíceis foram sobre quando não fazer nada. Várias vezes o Alto-Comando Aliado tinha todas as informações sobre operações alemães, mas deliberadamente não avisaram aos comandantes em campo.
Comboios foram atacados, cidades bombardeadas, tropas sofreram emboscadas, com a cumplicidade dos generais. Mas não, eles não eram traidores a serviço de Hitler. Estavam pensando no Objetivo Maior.
Espionagem é uma excelente fonte de informação, mas o maior risco para um espião é ser bom demais. Em alguns casos, como o maior espião aliado, Garbo, foram movidos mundos e fundos para manter sua situação fictícia, um de seus agentes imaginários ganhou até obituário em jornal.
Em outros casos, quando o espião relata operações reais, é mais complicado. Se eu envio dez mensagens sobre ataques, nas dez ocasiões o inimigo aparece do nada, preparado, eu desconfio que minhas comunicações foram comprometidas.
Os Aliados montaram patrulhas em áreas onde já sabiam, via espionagem que havia submarinos alemães, e faziam de tudo para que os barcos vissem os aviões e tivessem tempo de avisar a base.
Em outros casos quando um espião estava muito bem-posicionado na hierarquia do inimigo, suas informações quase nunca eram usadas, com medo de comprometer a fonte.
Políticos são notoriamente ruins em guardar segredos, sempre foi complicado mesmo em tempo de paz para manter os bocas-soltas longe das fontes. Uma informação top secret em geral é sanitizada e anonimizada. Se uma informação sobre a Al Qaeda vem de um agente no Yemen, os relatórios para o Congresso citam uma rede de espionagem no Kwait, por exemplo. Satélites específicos não são mencionados, no máximo usa-se “meios eletrônicos”.
Mesmo assim muita informação vaza, e isso é ruim. Péssimo mesmo é quando vaza como fez o idiota do Donald Trump.
Algum tempo atrás, sem motivo aparente os EUA começaram a banir laptops nas cabines em vôos vindos de alguns países árabes. Agora resolveram ampliar isso para incluir celulares e tablets. Evidente que era por causa de terrorismo, mas a opinião geral é que não passava de mais uma medida exagerada criada por algum burocrata histérico.
Eis que Trump se reúne com o Ministro das Relações Exteriores da Rússia e pra se gabar, ou pra mostrar que é amigão aliado, explica que estão banindo notebooks porque descobriram que o ISIS está desenvolvendo bombas disfarçadas de baterias (Ou comprando Notes 7, dá no mesmo) e pretende explodir aviões.
Para piorar ele revelou inclusive a fonte da informação: Teria sido obtida por espiões israelenses.
Óbvio que como as conversas foram testemunhadas por um monte de gente, a coisa toda vazou na hora.
Ou seja: Trump (e essa é a interpretação mais otimista) querendo ajudar um país aliado a proteger seus cidadãos revelou detalhes de um plano terrorista. E com isso tornou de conhecimento público a existência de um espião de um terceiro país, infiltrado no grupo mais secreto de desenvolvimento de armas do ISIS.
Se os cabeças-de-toalha foram minimamente inteligentes, e eles são, vão fazer uma limpa interna até descobrir e executar o espião. Mudarão seus planos e ficarão um passo à frente das agências de inteligência. Infiltrar novos agentes será mais difícil, tudo por causa de um idiota que não entende a hora de ficar de boca fechada.
Alguém comentou que ao menos agora temos certeza de que não existem aliens, ou o Trump já teria contado pra tia do café. Em um lado mais sério, há relatos de que agências de inteligência dos EUA tinham avisado Israel para não compartilhar informações com a Casa Branca.
Pior: Legalmente o Presidente dos EUA não pode ser acusado de vazar informações, tudo que ele diz é automaticamente informação pública. O resultado será que as agências começarão a omitir informações, Trump tomará decisões com base em cenários incompletos, já que é incapaz de ficar de bico calado.
Isso estrategicamente é um desastre, há relatos de outros países discretamente boicotando os EUA de seu intercâmbio de inteligência, com medo de vazamentos. Um verdadeiro presente de Alá pro ISIS e pras 2347832409 facções de estapeando na Síria na Líbia e no Yemen.