A lenda da lenda do Zorro

Compartilhe este artigo!

Você lembra do Zorro? Lembrou errado. Não se culpe, todo mundo no Brasil cresceu com a tradução criminosamente errada e preguiçosa, quando o Lone Ranger, o Cavaleiro Solitário que cavalgava com um amigo índio foi inexplicavelmente batizado de Zorro, um personagem mexicano que não tinha absolutamente nada a ver com ele, mas assim como serras elétricas, o erro está perpetuado.

O Cavaleiro Solitário apareceu pela primeira vez como uma aventura de rádio, em 1933. Ele assim como o Walker havia sido um Texas Ranger. Junto com outros cinco patrulheiros foram emboscados por bandidos. Todos mortos menos um, encontrato por Tonto, um índio amistoso que cuidou do sobrevivente, quase morto.

Tonto cavou seis sepulturas, colocou o nome do ranger sobrevivente em uma delas, para que os bandidos pensassem que ele estava morto. Usando parte das vestes do irmão, líder do grupo, o ranger sobrevivente jurou encontrar os bandidos e levá-los à Justiça.

Mesmo depois de cumprir sua promessa o Cavaleiro Solitário continuou a percorrer o Oeste, corrigindo injustiças e defendendo os fracos e inocentes. Ele não bebia, não fumava, tratava todos com respeito e igualdade, homens, mulheres, chineses, mexicanos e índios. Nunca atirava para matar, e usava balas de prata para representar o alto valor de uma vida.

Por décadas o Cavaleiro Solitário foi um arquétipo de Justiça, Honra, Lealdade e tudo mais que o Código de Thundera define. O mais legal de tudo é que ele talvez tenha existido.

Bass Reeves acompanhou o pai enquanto ele trabalhava para William. Reeves, de quem herdou o sobrenome. Mais tarde ele foi trabalhar para George, filho de William. George Reeves era xerife e deputado no Texas, e tinha um profundo senso de justiça, o que marcou Bass, ainda criança.

Um dia em uma partida de poker Bass, já adulto, acusou George de trapacear. Os dois brigaram, George levou a pior e Bass fugiu, deixando o chefe bem machucado. Com a Guerra Civil acontecendo, George não teve como organizar uma patrulha para ir atrás de Bass, que se embrenhou em território índio.

Ele morou com Cherokees, Seminoles e Creeks, aprendendo seus idiomas e costumes. No final da década de 1860 ele se mudou para o Arkansas, se casou e virou fazendeiro, até que em 1875 os EUA ampliaram seus quadros de Delegados Federais. Bass Reeves era conhecido localmente por ser amigo das tribos e falar os idiomas dos índios, qualidades ótimas em um patrulheiro.

Bass serviu por 32 anos, trabalhando no Arkansas, Texas e resolvendo casos principalmente em áreas indígenas.

Conhecido como mestre dos disfarces, ele se infiltrava em quadrilhas de criminosos, e nunca desconfiaram que ele seria um policial. Ele não usava balas de prata, mas distribuía moedas próprias do metal, como presentes nas cidades onde aparecia.

A habilidade de Bass Reeves com uma arma era lendária, e ele foi informalmente banido de competições de tiro. Ambidestro, ele usava dois Colts e atirava igualmente bem com ambas as mãos.

Assim como o Cavaleiro Solitário, Reeves tinha um amigo índio e um cavalo branco, e participaram de inúmeras missões juntos. No total Reeves prendeu mais de 3000 criminosos, e em legítima defesa matou 14. Nunca foi ferido, mas mais de uma vez foi alvejado e salvo pela fivela do cinto.

Seu senso de justiça era tão grande quando quando Bennie Reeves, seu próprio filho foi acusado de assassinar a esposa, Bass Reeves fez questão de investigar, procurar e trazer o filho à Justiça.

Reeves era analfabeto, então antes de sair em uma missão ele pedia para alguém ler os mandados. Ele decorava cada palavra, sabia qual era qual e nunca errou ao apresentar o documento correto, mesmo sem saber o que estava escrito.

Uma vez ele estava atrás de dois criminosos no Vale do Rio Vermelho, Texas. O boato é que estariam na casa da mãe de um deles, a uns 45Km de onde a tropa de Reeves estava acampada. Ele se disfarçou de mendigo, com direito a chapéu com furos de bala e tudo. Foi até a casa da mãe do sujeito, dizendo que estava com fome e sede, que havia sido perseguido por ladrões. A coroa mandou Reeves entrar, deu comida e ouviu a história dele.

Ela acabou falando dos filhos, e que Reeves poderia “trabalhar” com eles. De noite os dois apareceram, ficaram amigos de Reeves e discutiram planos para novos roubos. Durante a madrugada Reeves algemou todos os três (a mãe também) sem que eles acordassem. No dia seguinte marcharam os 45 Km de volta até o acampamento. Missão cumprida.

Uma vez Reeves foi acusado de assassinar um cozinheiro. Sua defesa foi feita por William H. H. Clayton, ex-Advogado Geral da União. Reeves foi inocentado.

Em 1907 os Estados assumiram a segurança pública no Oeste, os Delegados Federais locais não eram mais necessários. Reeves foi então contratado pelo departamento de polícia de Oklahoma. Trabalhou por dois anos até se aposentar. Durante esse tempo nenhum crime foi registrado na área onde Reeves era responsável. Ele tinha 71 anos.

Em 1910 Bass Reeves morreu, vítima da Doença de Bright. Seus feitos já eram lendários, ele era uma figura popular por onde andasse, e um dos maiores exemplos para todos os Homens da Lei.

Reeves recebeu várias homenagens, uma das mais recentes é uma estátua no Arkansas.

Apesar disso tudo, nunca foi oficialmente reconhecido que Bass Reeves seja a inspiração para o Cavaleiro Solitário.

Talvez o fato de Bass Reeves ser negro e ex-escravo, tendo fugido depois de brigar com seu chefe (e dono) tenha a ver com isso.


Compartilhe este artigo!