O nome desse cidadão acima é Yasser Arafat. Ele foi um dos maiores terroristas do Século XX. Ã frente da OLP ele organizou e financiou incontáveis atentados, principalmente contra judeus. Incrivelmente ele sobreviveu a todas as tentativas de assassinato pelo Mossad, e morreu um líder legítimo e reconhecido internacionalmente. Na foto acima ele está irritando milhares de radicais, fazendo algo até então impensável.
Arafat, no dia 12 de Setembro de 2001 doou sangue publicamente para ajudar as vítimas do atentado ao World Trade Center. O então Presidente de Israel também o fez. Ao mesmo tempo organizações terroristas no mundo todo emitiam comunicados condenando o ataque.
Foi um dia como nenhum outro. Vimos a História acontecer, vimos o mundo mudar. “Eu pensei que isso só acontecesse em filme”, foi o que mais ouvi naquele dia, mas ver pela televisão não chega a um centésimo do que deve ter sido estar Em New York e testemunhar tudo. Como Kimeli Naiyomah .
Ele saiu do seu Quênia natal para estudar medicina nos EUA. Kimeli nasceu em uma aldeia Masai e foi para lá que voltou, meses depois. As notícias ainda não haviam chegado, e ele teve muita dificuldade de explicar para o povo da aldeia o que havia sido o ataque terrorista de 11 de Setembro.
A maioria dos anciãos não conseguia nem conceber um prédio de apartamentos, que dirá um arranha-céu, mas as imagens de morte e destruição e o número de mortos no relato de Kimeli tocaram fundo.
Os Masai vivem com muito pouco, as casas são de barro e esterco, eles literalmente vivem na merda. A única coisa valiosa que eles possuem são seus bois. E diante de uma tragédia tão grande, era questão de honra aliviar o sofrimento alheio com o maior presente que podiam dar.
Kimeli usou de seus contatos no Governo, uma cerimônia foi organizada e depois de voar até a Reserva e andar duas horas de carro até chegar na aldeia, o Embaixador dos EUA no Quênia recebeu do Chefe o presente: 14 cabeças de gado. Todos da tribo colaboraram, inclusive gente que não tinha tantos bois em todo o seu plantel.
Obviamente era complicado levar o gado para os EUA, e devolver o presente seria uma desfeita inaceitável. Os Masai ficaram cuidando das vacas enquanto os EUA decidiam o que fazer, decisão que só chegou em 2006. Diplomatas americanos voltaram à aldeia; explicaram que os bois seriam usados para financiar escolas na aldeia; eles não seriam mortos, todos viveriam felizes e se reproduzindo, com os Masai como fiéis guardiões. E mais ainda: Doaram 14 bolsas de estudo, uma para cada boi. Não para os bois estudarem, mas para crianças, só pra deixar claro.
A nação mais poderosa do mundo gastou tempo e dinheiro para demonstrar gratidão a um gesto muito pequeno, insignificante diante do Grande Esquema das Coisas, mas grandioso para uma pequena aldeia africana.
Essa não foi nem de longe a única vez em que gente em situação complicada não se preocupa com a própria situação, quando quer fazer a coisa certa, a coisa humana.
Nenhum povo foi mais sacaneado historicamente do que os índios americanos. Hitler foi mais honesto com os judeus, ele não assinava tratados, entregava medalhas de paz e em seguida anulava tudo, repetidas vezes. Entre 1830 e 1850 ocorreu a chamada Trilha das Lágrimas, uma remoção forçada de tribos inteiras de terras que tinham sido garantidas a eles por governos anteriores. Dezenas de milhares de índios foram forçados a marchar centenas de quilômetros até reservas, enquanto o Governo incorporava as terras valiosas deixadas para trás.
Só entre os Cherokees, de 17000 índios que iniciaram a viagem, 6000 morreram pelo caminho.
Nessa mesma época, mais precisamente em 1845 ocorria na Irlanda a Grande Fome. Uma praga de caruncho da batata dizimou colheitas inteiras, privando o país de um de seus principais produtos de exportação E de sua principal fonte de alimento.
Batatas eram a principal parte da dieta principalmente da população mais pobre, população essa que se viu sem comida E sem emprego, pois não havia batatas para comer, colher ou plantar. Entre 1845 e 1852 a Irlanda perdeu 25% de sua população. Um milhão de pessoas emigrou para outros países, já outro milhão não teve tanta sorte, morreram de fome.
Essas notícias chegaram até os índios da nação Choctaw. Eles sabiam que a Irlanda era uma terra muito distante, mas não conheciam muito mais que isso. O que eles conheciam era a fome. A memória da Trilha de Lágrimas, onde em 1831 perderam 10000 de 20 mil pessoas.
Os Choctaws começaram uma campanha entre as várias aldeias, contando e recontando a história do sofrimento dos irlandeses. No final conseguiram arrecadar US$170,00, uma quantia bem respeitável para a época, quando uma casa em New York custava US$2500,00. O dinheiro foi encaminhado para a Irlanda, que com certeza se espantou com uma doação de um povo tão distante.
Se espantou mas nunca deixou de ser grata. O gesto dos Choctaw não foi esquecido, e em 1990 uma comitiva de índios viajou para Dublin, onde participaram de uma caminhada simbólica, Mais tarde representantes irlandeses foram aos EUA e reviveram as 500 milhas da Trilha de Lágrimas, junto com Choctaws.
Hoje há uma placa na Residência Oficial do Prefeito de Dublin honrando os Choctaws.
Em Midleton, Irlanda, foi inaugurada a escultura Espíritos Irmãos, onde cinco penas de metal de 6 metros de altura formam uma tigela de comida, relembrando o gesto de generosidade dos índios.
Em tempos onde há tanto ódio sendo despejado, onde uma enfermeira, uma profissional de saúde acha normal dizer que bebês brancos devem ser sacrificados, onde tudo é visto com viés de raça, de rancor e revanchismo, é essencial lembrar que ainda há gente boa no mundo.
Nenhum dos Choctaws tinha motivo para gostar de homens brancos. Eles foram mais que sacaneados, mas eles sabiam que não era justo culpar todos pelos erros de alguns, e que no final das contas pessoas estavam passando fome, e independente de qual seja sua cor, fome é fome.
Sejam Masais, sejam índios vivendo no limite da pobreza, não importa. Eles viram humanos sofrendo, e ajudaram.
Por isso, crianças, é que não me preocupo tanto com twits como estes:
Despejem seu egoísmo e sua falta de empatia à vontade. Não me preocupo. Há muita gente boa no mundo, mais que compensa esse grau insano de mediocridade. De resto, um recado aos cínicos que vão apontar que o Arafat só doou sangue pra aparecer bem na fita:
Explique para o sujeito que está vivo por ter recebido aquele sangue, que ele deveria estar morto para agradar os SEUS ideais de mundo.