A Mulher-Pirata que aterrorizou a França

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Nossa história começa onde a maioria dos contos de fada termina. É um final feliz, mesmo a noiva tendo apenas 12 anos, mas é o Século 14, os médicos da época não eram exatamente o House e a expectativa de vida era a mesma de um beija-flor. Imagina então como sofriam os beija-flores da Época.

A noivinha novinha se chamava Jeanne Louise de Belleville, era o ano de 1312 e ela juntava os trapos com Geoffrey de Châteaubriant VIII, bretão muito rico de família pobre em imaginação. Oito filhos e nenhum Enzo?

Dois nobres de boa origem, podres de ricos, alta aristocracia, curtindo o clima na Bretanha, aquela região na pontinha da frança. Em breve seria um dos pontos focais da Guerra dos Cem anos, mas por enquanto era só paz e alegria, até que Geoffrey morreu, em 1326.

Jeanne já era uma senhora de meia-idade, com 26 anos e precisava se sustentar e aos filhos. Arrumou um novo marido em 1328, mas o casamento foi anulado em 1330 pelo papa João XXII. Sem problemas, ela cedeu aos avanços de Olivier de Clisson IV, outro nobre podre de rico.

Os dois se deram muito bem, segundo todos os relatos era um casamento feliz, que rendeu cinco filhos. Infelizmente a História como sempre apareceu pra atrapalhar. A Bretanha começou uma guerra civil, com apoio dos ingleses de um lado e dos franceses do outro. No meio de tudo, Jeanne e a família.

Olivier precisava escolher um lado, e indo contra boa parte dos amigos e parentes, escolheu lutar pelo lado da França, o que não ajudou quando depois de quatro tentativas a cidade de Vannes foi derrotada e Olivier capturado.

Como era de praxe, foi cobrado resgate, mas como também havia uma troca de prisioneiros no meio, a cabeça de Olivier saiu muito barato, barato demais e os franceses desconfiaram, até porque ele foi o único nobre bretão que foi devolvido.

Em 1343 rolou uma trégua, todos estavam de novo amiguinhos e Olivier foi convidado para um torneio na França. Você sabe, cavalos, lanças, arqueiros, leitões assados nas fogueiras, Jon Snow, Robin Hood… só que o personagem de ficção aqui é outro.

É, era uma armadilha do Rei Felipe VI. Olivier foi capturado em 19 de Janeiro de 1343, legado para Paris e julgado traidor. Sua cabeça foi separada do corpo em 2 de Agosto de 1343, e para horror da nobreza como um todo, a cabeça foi exposta ao público, coisa que só se fazia com criminosos de baixo escalão.

A notícia chegou até Jeanne. Ela pegou os dois filhos mais novos e foi até Nantes, onde a cabeça de Olivier estava sendo exposta. Ninguém sabe o que ela falou nesse momento, mas o consenso entre os historiadores é que pode ser traduzido por “big mistake”.

Jeanne voltou para casa, vendeu tudo que tinha. Castelos, terras, jóias, tapeçarias, pedras preciosas, iphones, a medida do bonfim, disco do Pixinguinha, tudo. Com o Ouro que arrecadou contratou um exército de soldados fiéis a Olivier.

Sua primeira incursão foi a um castelo comandado por Galois de la Heuse, um nobre local leal aos franceses que reconheceu Jeanne e abriu os portões. Como eu falei, big mistake. As tropas entraram com tudo, Jeanne queria sangue, e teve. Só sobrou um sujeito, deixado vivo para contar a história.

Daí em diante Jeanne e seus homens começaram a aterrorizar castelos e guarnições na região. As tropas do Rei Felipe VI bem que tentavam mas ela estava sempre vários passos adiante.

Depois de um tempo ela começou a ser notada, e receber ajuda de bretões simpáticos à causa de tocar terror nos franceses. Entre os simpatizantes, estava o Rei da Inglaterra, que a armou com uma carta de corso, ou seja: Jeanne era uma pirata a serviço da coroa inglesa.

Um pirata precisa de um navio, já que um PC com BitTorrent provavelmente demoraria a chegar da China, era o Século 14 afinal. Jeanne ganhou três.

Ela pintou os navios de preto e mandou tingir as velas de vermelho. A nau capitânia da chamada Frota Negra foi batizada por Jeanne de “Minha Vingança”. A idéia era aterrorizar suas vítimas. Nada de surpresa, nada de ataques furtivos. As velas vermelho-sangue ao longe significavam morte.

Os três navios atacavam em conjunto e pilhavam sem dó embarcações francesas no Canal da Mancha. Jeanne de Clisson comandava os ataques na linha de frente, abordando os navios inimigos brandindo um machado, seu método preferido era cortar cabeças francesas. Em geral só sobraram uns dois ou três miseráveis para, como sempre, contar a história.

Exceto se fossem nobres franceses, desses ela não tinha nenhuma misericórdia.

Em uma das batalhas seu navio foi afundado. Jeanne conseguiu pular em um bote com os dois filhos mais novos, dos quais não se separava. Sem suprimentos ela enfrentou o mar por cinco dias, remando sem cessar. O menor não aguentou e morreu, mas Jeanne conseguiu chegar até terra firme com o filho sobrevivente.

Nessa época ela era figura conhecida e temida, chamada de Leoa da Bretanha. Nem a morte do Rei Felipe em 1350 a acalmou. Ela continuou massacrando navios inteiros, invadindo e incendiando vilas francesas e barbarizando todo mundo pela frente até 1356.

Provavelmente ela teve um momento de reflexão enquanto cortava a garganta de algum duque ou conde, e pensou “I`m too old for this shit”, e em 1356, 56 anos de idade era BEM puxado. Tão súbito quanto quando começou, acabou a carreira de pirata de Jeanne de Clisson. Aproveitando que tinha um bom pistolão, é bom ser amiga do Rei da Inglaterra, ela casou com Sir Walter Bentley, lugar-tenente de Eduardo III.

Eles se mudaram para Hennebont, na Bretanha, onde Jeanne levou uma vida pacata e sossegada, até morrer em paz, em 1359.

 



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