Nos Anos 80, onde tudo era permitido um comercial sexista tomou o país. Para vender Sukita, uma jovem, menor de idade foi objetificada em uma série de comerciais em 1999. Neles a pobre menina é assediada, cercada por um predador sexual em um elevador, sem chance de fugir de suas investidas. Brrr.
O programa Tá no Ar aproveitou esse negro, digo sombrio momento da televisão brasileira para fazer uma crítica bem apurada dos novos tempos em que vivemos, onde as mulheres estão reivindicando seu espaço, seu respeito e demonstrando que assediadores não passarão!
No comercial, que você pode assistir neste link já que a Globo ainda não entende como funciona a Internet, Marcelo Adnet aparece caracterizado como o personagem feito originalmente por Roberto Arduin, um sujeito meio quarentão, com jeito de que se esforça pra parecer descolado e adora tentar se enturmar com a galera mais jovem. No papel que foi de Michelly Machri, Luana Martau. Segue o Diálogo
Adnet dentro do elevador, a porta se fechando. Do lado de fora Luana fala:
LUANA
Sobe!
Adnet segura a porta, Luana entra bebendo refrigerante de canudinho em uma garrafa.
LUANA
Obrigada!
ADNET
Tá quente aqui, né?
Luana acena com a cabeça
ADNET
Tá gostoso o refrigerante?
LUANA
aham.
ADNET
Você é nova aqui no prédio, não é?
LUANA
Aham.
ADNET
Eu poderia te-
LUANA
Tio, se você continuar me assediando eu vou chamar a polícia, tá?
Entra cartela e locução:
Vergonha – Tome você também. Campanha contra a objetificação feminina nos comerciais.
Que excelente, finalmente décadas de abuso e objetificação foram redimidas, inclusive os anos de sofrimento em que Michelly Machri foi chamada pelo obsceno e sexista termo “ninfeta”.
OK, agora falando sério: CLARO que há sexismo na publicidade, e a principal culpa disso é preguiça e falta de talento. Um comercial clássico, se não me engano do Olivetto e do qual ele se arrepende até hoje é um da Technos, onde uma dona pelada desfila pela tela, usando só um Technos, e depois que passa os homens comentam “que relógio!”
Só que o fato de ter nudez não torna o comercial sexista. A Patrícia Luchesi tinha 11 anos quando fez o comercial do Primeiro Sutiã, pra mesma W/GGK do mesmo Olivetto, e o mundo não acabou, nem quando por uma fração de segundo ela aparece sem o supracitado sutiã.
É um comercial lindo, lírico, retrata um momento importante na vida da mulher, e nem os adolescentes tarados de plantão na época sexualizaram a cena, que hoje geraria rios de chorume e quilômetros de textões, com gente acusando a dupla de criação Camila Franco e Rose Ferraz de sexualização objetificação pedofilia, blackface, apropriação cultural, etc.
Que a publicidade tinha mão pesada nos Anos 80 ninguém nega, mas tratar isso como uma epidemia, tratar como uma regra geral não é correto. O Tä no Ar, que é um programa que eu adoro, divulgo e pago pau abertamente mesmo tendo que aturar os haters da Globo por causa disso pisou na bola dessa vez.
Primeiro de tudo, tal qual o pessoal dos textões, estão banalizando o conceito de assédio. Agora tudo é abuso, tudo é problemático? Catherine Deneuve, que entende um tiquinho de ter homens em volta a secando publicou uma carta-aberta pedindo pra mulherada segurar a onda, No Brasil Gabriela Duarte foi uma das que fechou com Catherine.
Não dá para levar tudo ao pé da letra. Daqui a pouco, teremos de andar com um manual de comportamento.
Aquilo que o “Adnet” fez na paródia do comercial não foi assédio. Não foi nem sequer uma cantada, é um sujeito tentando puxar papo com uma vizinha. Vai além do ridículo ameaçar chamar a polícia por causa de um “você é nova no prédio?”. Isso é idéia de gente que vive nos textões e não tem qualquer traquejo social. É um desrespeito a quem realmente sofre assédio e um desperdício de recursos da polícia, se for chamada pra isso.
E mesmo que fosse: Cantada Ruim Não É Crime.
Pior ainda; assista o comercial original,
Como podemos ver e ouvir claramente, depois da segunda puxada de papo desajeitada do sujeito a ninfeta corta a onda dele de forma magistral: “Tio, aperta o 21 pra mim?”
O slogan da campanha é “Quem bebe Sukita não engole qualquer coisa”.
Vou explicar pros redatores lacradores do Tá no Ar entenderem:
Se um sujeito começar a te incomodar, você mulher tem AGÊNCIA, tem CAPACIDADE de se impor e dar um corte. Sem escândalo, sem textão, sem se fazer de eterna vítima oprimida. São duas pessoas interagindo e você mulher PODE E DEVE marcar seus limites claramente. Nem é preciso ser grossa, eu garanto que esse “tio” doeu muito mais do que um post no zapzap com uma fanfic.
Ah sim o segundo comercial é melhor ainda.
Eu sei, eu sei, estou lidando com gente que acusa Pepe LePew de ser estuprador, sem perceber que ele se dá mal em todos os episódios e nunca pega a gatinha, mas me preocupa, me preocupa muito ver gente inteligente, esperta o bastante pra virar redator de humor não conseguir perceber algo tão claro, algo tão explícito. “Quem bebe Sukita não engole qualquer coisa“. Pombas, Adnet, que vacilo. Pegar uma mensagem de empoderamento adiante de seu tempo e acusar de sexismo e objetificação? Não é nem nuance, cacete, está DITO.
Mulheres não são esses seres frágeis que precisam ser carregadas em luvas de vidro e protegidas o tempo todo do mundo malvadão. Elas sabem se defender, mas se essa mensagem se solidificar, será complicado para elas conviver em sociedade, pois quem vai se aproximar de mulheres que consideram assédio uma conversa desajeitada de elevador?
Eu quero distância, mesmo que isso signifique que só ficarei à vontade convivendo com a Catherine Deneuve, a Brigitte Bardot e a Gabriela Duarte. O que, pensando bem, é uma excelente perspectiva.