O prisioneiro acordou quando a anestesia começou a perder seu efeito. Amarrado á mesa de operação, ele percebeu horrorizado que seu abdômen estava aberto, um médico removia seus intestinos. Tomado pela dor o prisioneiro gritava, enquanto os vários médicos se revezavam examinando e dissecando vários órgãos. Em dado momento seu braço foi amputado. Ele viu tudo, sentiu tudo por mais de uma hora, até morrer.
Isso não foi obra do Mengele, o prisioneiro era chinês, e só mais uma das incontáveis vítimas da Unidade 731 do Exército Imperial Japonês, especializada em pesquisas de guerra biológica. Localizada em Pingfang, China, a Unidade fez experimentos horrendos com humanos durante toda a Guerra, mas isso não é quase divulgado.
Ao Japão não interessa, afinal quem quer ficar relembrando que fez coisas ruins?
À militância de esquerda não interessa, afinal o Discurso Oficial é que os EUA são o vilão da história e o Japão uma vítima inocente.
Ao pessoa da direita não interessa because fuck China.
Aos chineses interessa mas quem fala chinês?
Aos EUA, você vai entender no final do texto.
A Unidade 731 fazia testes de todos os tipos, as vivissecções e amputações eram feitas para determinar o efeito de perda de sangue em batalha. Outro grupo estudava o efeito de armamentos em corpos humanos. Vivos, claro. Prisioneiros eram amarrados a estacas e bombas detonadas próximos a eles. Também eram usados como alvos de granadas e como testes do efeito de lança-chamas em soldados inimigos.
Doenças sexualmente transmissíveis eram um problema sério entre os soldados japoneses, então os cientistas japoneses infectavam prisioneiros com sífilis e outras doenças, e os dissecavam, vivos, após cada fase da doença. (não os mesmos prisioneiros, claro).
Para testar se essas doenças eram transmissíveis de mãe para filho eles contaminavam prisioneiros, os forçavam a fazer sexo e depois que a mulher engravidava, era dissecada para estudar se a doença passou para a criança. Isso era feito em várias fases da gravidez e depois do parto. Partos aliás costumavam acontecer, todos fruto de experimentos ou estupro. Os recém-nascidos eram usados em experimentos.
Um relato conta que para determinar se instinto materno se mantém mesmo em condições extremas, colocaram uma prisioneira russa com seu bebê em uma câmara de gás e observaram sua reação quando começaram a encher a câmara de veneno.
Outros experimentos japoneses incluíam uma centrífuga onde um prisioneiro era girado até a morte, câmaras onde a temperatura era aumentada até determinarem o máximo que um humano poderia suportar, e bombardeio com raios-x em doses letais.
Também pesquisaram bastante sobre efeitos da hipotermia, deixando prisioneiros nus no inverno congelante da Manchúria, submergindo membros dos prisioneiros até congelamento total, que era determinado batendo com um pedaço de madeira no membro congelado, e há o relato da mulher que tentou puxar os braços congelados presos e toda a carne se desprendeu, ficando apenas os ossos.
Como complemento dos experimentos de hipotermia, depois que a gangrena se desenvolvia os pacientes eram observados para determinar quanto tempo alguém conseguia viver com parte do corpo apodrecendo.
Algumas atrocidades foram gratuitas, o relato de abertura deste texto foi uma mera sessão de treinamento onde novos médicos aprendiam as técnicas que deveriam usar nos experimentos. Outros casos tinham uma motivação, como as salas repletas de pulgas contaminadas onde os prisioneiros eram jogados, e acabavam contaminados.
Havia uma câmara de pressão para testar os efeitos de mergulhos profundos, era comum os olhos dos prisioneiros saltarem das órbitas. Para descobrir se água do mar poderia ser usada no lugar de soro fisiológico, aplicavam injeções nos pacientes. Também testaram o efeito de injetar urina e sangue animal nas veias dos prisioneiros. Para determinar o tempo necessário para uma embolia acontecer, ar era injetado em outros prisioneiros. Para sobrecarregar o sistema renal, urina era injetada nos rins.
Um relato em uma exposição recente no Japão descreve como os médicos enfiaram uma agulha no dedo médio de um bebê de 3 dias, para monitorar mais facilmente a temperatura dele.
O Japão experimentou com Antraz, peste negra, febre tifóide e outras doenças. Com o que aprenderam fizeram um ataque biológico contra Changde, China, onde pulgas carregando peste negra mataram 580 mil pessoas. Isso dá oito Hiroshimas mas quem está contando?
Entre as mais de 12000 vítimas da Unidade 731, a grande maioria era de chineses, mas não eram soldados, essencialmente eram civis capturados, com a desculpa de serem “bandidos” ou “comunistas”. O resto dos prisioneiros eram coreanos, russos, mongóis e até alguns ocidentais mas isso nunca foi confirmado.
O mais assustador é que a Unidade 731 não era algo excepcional. O Dr. Ken Yuasa relata que era comum em hospitais e clínicas japonesas na China ocupada pedirem à polícia “um comunista” pra praticar. Ele conta de uma vez onde dois prisioneiros foram levados ao hospital, anestesiados e uma equipe de acadêmicos os usou para praticar cirurgias de apendicite, amputações e traqueostomia. Depois de 90 minutos a aula acabou, os dois forma mortos com uma injeção.
Quando os soviéticos avançaram e a derrota parecia inevitável, Tóquio mandou dinamitar a Unidade 731 para ocultar as provas do que haviam feito, mas com 2,3km quadrados e um monte de prédios, sobrou muita coisa pra contar a história.
A maior atrocidade de todas incrivelmente ainda estava pra ocorrer. Com o fim da guerra e quase todos os registros destruídos, todas as informações sobre as pesquisas existiam apenas na mente dos médicos e cientistas da Unidade 731. Os Estados Unidos, interessados no conhecimento adquirido em armas biológicas ofereceu total imunidade aos prisioneiros japoneses.
Eles aceitaram, repassaram boa parte do que aprenderam matando e torturando 12 mil pessoas e saíram livres. Nenhum, absolutamente nenhum dos carniceiros capturados pelos americanos foi preso. Os sobreviventes tentavam buscar justiça, mas eram acusados de “propaganda comunista”.
A Unidade 731 é mencionada de passagem em alguns livros escolares no Japão, mas quando foi descrita em mais detalhes, o Governo Japonês tentou censurar o livro, mas uma decisão da Suprema Corte de 1997 manteve a publicação intacta. A posição oficial do Japão quanto à Unidade 731 é que infelizmente não há registros oficiais, mas que se algo assim aconteceu é muito grave, e desculpa qualquer coisa.
PS: Como você reparou, tenho meus limites, não vou ficar usando imagens de atrocidades pra ganhar cliques, mas apesar das tentativas japoneses em ocultar o passado, a Unidade 731 ainda está bem documentada em fotos. Se quiser, dê uma olhada neste site ou neste aqui, mas não recomendo.
Recursos extras:
Relatos de ex-membros da Unidade 731:
Unit 731, do Slayer, contando a história da Unidade.
Bibliografia:
- The World: Revisiting World War II Atrocities; Comparing the Unspeakable to the Unthinkable
- Unmasking Horror — A special report.; Japan Confronting Gruesome War Atrocity
- Unit 731: Japan’s Secret Biological Warfare in World War II
- Factories of Death: Japanese Biological Warfare, 1932-1945, and the American Cover-Up