A Citicorp conseguiu uma oferta sensacional de um terreno em área nobre em NY, mas havia um porém: Na esquina havia a Igreja Luterana de São Pedro, uma construção de 1909 que não tinha planos de sair do local.
Depois de muitas negociações, conseguiram um acordo: A igreja seria demolida, para a construção do prédio, e depois de pronto a Citicorp construiria uma outra igreja novinha, 0km no mesmo lugar. Estando bom para ambas as partes, mãos à obra, mas havia um pequeno problema.
O acordo definia que nenhuma coluna do prédio atravessaria a igreja, isso impedia uma estrutura tradicional de colunas nos cantos da edificação. Por sorte o problema da igreja foi resolvido por dois papas: O arquiteto Hugh Stubbins e o engenheiro estrutural William LeMessurier.
LeMessurier propôs uma solução inédita: Ao invés de colunas nos cantos, elas ficariam no meio das laterais do prédio:
Isso exigiu um novo modelo estrutural, e LeMessurier criou uma estrutura de treliças em V concentrando a carga estrutural no centro das laterais:
Incrivelmente deu tudo certo e em 1977 a torre de 59 andares e 279 metros, o sétimo prédio mais alto do mundo foi construída, atraindo a atenção de turistas, profissionais e estudantes, entre eles uma estudante de arquitetura e urbanismo que mais tarde se bandeou para a engenharia, chamada Diane Hartley.
Ela resolveu usar o prédio em sua tese de mestrado, e entrou em contato com o escritório de LeMessurier, onde foi atendida por um engenheiro júnior, Joel S. Weinstein. Ele foi bastante solícito, fornecendo plantas, cálculos e tirando dúvidas.
Diane não se contentou em reproduzir o material em sua tese, ela era extremamente curiosa e excelente com matemática, a ponto de seu chefe na empresa a convencer a mudar a graduação para engenharia.
Nessa hora os problemas apareceram. Diane calculou os efeitos do vento contra o prédio e tudo estava ok, mas a norma exigia apenas cálculos de ventos atingindo as laterais do edifício, ela foi além e calculou o efeito do vento atingindo as QUINAS do prédio:
A estrutura de treliças em V de LeMessurier deixavam o prédio perigosamente fraco se fosse atingido por ventos de grande intensidade nas quinas.
Ela ligou para seu contato na firma de LeMessurier. Weinstein a assegurou que tudo estava correto, que o prédio tinha margem de segurança sobrando. Diane incluiu a declaração em sua tese, mas manteve seus cálculos.
Weinstein, que não era bobo nem nada refez os cálculos por conta própria, mostrou para LeMessurier e eis que confirmam: Tinham uma crise SÉRIA em suas mãos.
O prédio da CitiCorp havia sido construído com treliças aparafusadas, ao invés do que foi recomendado, peças soldadas. Essa mudança para economizar tempo e dinheiro havia condenado o prédio.
Não que tivessem economizado em segurança, o prédio foi o primeiro dos Estados Unidos a ter um contrapeso para amortecer vibrações, um peso de 400 toneladas no alto era movido para compensar a movimentação causada pelo vento, mas o movimento era elétrico.
Em uma situação de pior caso, um furacão ou tempestade das grandes, o prédio ficaria sem energia, e não teria como mover o contrapeso. Isso mais as treliças fracas derrubaria o prédio com ventos de 110Km/h, o tipo de furacão que atinge a cidade a cada 16 anos em média.
Surgiram várias propostas, no final o meio mais simples foi reforçar as treliças soldando chapas de aço de duas polegadas nas junções. Esse trabalho teve que ser feito em segredo, se a notícia se espalhasse os proprietários venderiam os escritórios imediatamente, seria uma tragédia para os investidores. Só que se o trabalho não fosse feito, as estimativas de um desabamento previam 200 mil vítimas entre ocupantes do CitiCorp e os prédios vizinhos.
Ainda havia o agravante da temporada de furacões estar chegando, as equipes trabalhavam dia e noite soldando os reforços. Quando o Furacão Ella começou a rumar para NY, o CitiCorp preparou um plano de evacuação de 10 quarteirões, com 2500 voluntários da Cruz Vermelha e apoio da Polícia, mas no último momento Ella ouviu boatos sobre a criminalidade em NY nos Anos 70 e mudou de rumo voltando pra mar aberto.
A história toda só veio à tona em 1995, em um artigo da New Yorker. Em 2003 Diane Hartley estava assistindo a um documentário sobre o prédio com o marido, quando mencionam que UM estudante havia descoberto a falha. Ela disse que quase deixou o filho cair no chão, nunca havia considerado que um simples questionamento pudesse ter um efeito tão grande.
“A maior coisa que você já fez, e você nem sabia que havia feito”, disse o marido.
No mesmo ano ela foi convidada para um jantar em homenagem a David Billington, seu antigo professor em Princeton, que a incentivou a pesquisar sobre o CitiCorp. Ele perguntou:
“Você sabe porque está sentada aqui ao meu lado?”
Ele explicou que nenhum outro estudante da região tinha qualquer conexão com o CitiCorp, na época do incidente, então muito provavelmente o estudante misterioso que havia salvado o projeto era ela.
Diane Hartley está viva, feliz e tem até Twitter. Ela é um exemplo de como uma simples estudante pode fazer toda a diferença, se tiver confiança em seus conhecimentos. E LeMessurier também está de parabéns. Mesmo tendo errado feio, ele criou um ambiente onde mesmo um papa da Engenharia coloca fatos e ciência na frente do ego, e escuta uma estudante com uma notícia assustadora, mas embasada.